Gabrielle Goldman
Mas era. E eu soube, antes mesmo que ela dissesse qualquer coisa. Soube com a certeza que atravessa o peito como uma adaga silenciosa. Só não estava pronta para enfrentar essa nova verdade que começava a se desdobrar diante de mim, como um espelho quebrado refletindo fragmentos do que eu sempre tentei ignorar. Havia algo em Mia que me desestabilizava, não por quem ela era, mas pelo que despertava em mim.
Ela era uma garota peculiar. Não seguia nenhum padrão de beleza dos quais fui treinada a respeitar. Na verdade, dentro da estética cruel que a sociedade impõe, ela seria vista como comum, talvez até invisível. Mas meus olhos viciados em simetria cirurgicamente esculpida, em ossos saltando sob peles esticadas, enxergavam nela algo que me desconcertava mais do que qualquer perfeição artificial: realidade.