Gabrielle Goldman
Chamá-lo de orfanato me pareceu uma ofensa. Um erro imperdoável. Nada ali lembrava a frieza institucional dos lares que conheci apenas por fotos e relatos. Não havia burocracia na forma como aquelas imagens estavam dispostas, nem distância emocional no modo como os objetos da casa contavam suas histórias. A luz que entrava pelas janelas, o cheiro amadeirado da escada, o calor do toque de Emma e o som das crianças correndo no andar de baixo... Tudo gritava lar. Um lar de verdade. Um que não se comprava, nem se herdava. Um que se construía com presença.
E então, ao alcançar o topo da escada, parei. Ali, pendurada em uma moldura gasta, feita de madeira rachada pelo tempo, estava a única foto que me paralisou completamente.
Um menino entre oito e dez anos. Cabelos castanhos claros, cacheado