Emanuele acabou de ter coragem para terminar um relacionamento longo e marcado por traições. Abrigada na casa de sua irmã, ela tenta se distrair de toda a tristeza, mas a notícia de que o pai faleceu a acaba jogando de encontro a um segredo familiar que jamais imaginara. Emma, uma jovem criada para ser submissa e obedecer a tudo que os pais decidirem, vê sua vida mudar completamente quando vai até a casa do futuro marido e conhece seu irmão. Duas mulheres, vivendo em tempos diferentes, mas com as vidas completamente entrelaçadas.
Ler maisA porta do quarto se abriu lentamente, deixando uma luminosidade refletir no chão, e eu senti meu coração acelerando fortemente, quase como se estivesse batendo na minha garganta.
Vi o vulto do corpo dele atravessando a porta com um arrepio percorrendo meu corpo. Observei a silhueta do ombro, o modo como seu corpo se movia lentamente para não causar nenhum ruído e percebi que ele estava tão tenso quanto eu.
Me movi na cama, deixando que percebesse que eu estava acordada, e por um momento ele parou no meio do quarto escuro. Talvez estivesse cogitando dar meia volta e sair, o que me fez apertar os dedos nos lençóis e segurar a respiração, mas depois voltou a andar, e fiquei mais aliviada do que realmente deveria ter ficado.
Senti o colchão se mover quando ele sentou na cama, então finalmente me sentei, deslizando para fora das cobertas.
Sentamos lado a lado, com os pés tocando o chão frio, e escutamos nossas respirações cortando a noite silenciosa. O tempo se prolongou e nenhum de nós tinha coragem para dar um passo adiante, em direção a algo que não poderíamos desfazer.
A mão dele deslizou para a minha. Era grande, forte, com dedos grossos e compridos e a palma áspera. Pareceu engolir minha pequena mão.
- Oi. – sussurrei com a voz entrecortada.
- Oi. – a voz dele era grossa, um pouco rouca e estava nervosa.
Virei o rosto em sua direção, querendo ver algum detalhe do seu rosto, mas estava escuro demais. Eu queria seus olhos, o contorno desenhado de sua boca, mas tudo que consegui foi um vulto indistinto.
Sua mão subiu pelo meu braço, quente e levemente trêmula, como se ele estivesse agitado demais, e eu me virei lentamente em sua direção.
Ele engoliu algumas vezes enquanto sua mão caminhava para o meu pescoço. Fiquei agitada quando seus dedos se encaixaram na minha nuca e abri a boca em um arquejo não planejado.
Isso pareceu estimulá-lo, dar uma onda de coragem que estava faltando. Ele se inclinou na minha direção, buscando meus lábios no escuro, e eu facilitei, indo em direção a ele também. Nossos narizes se chocaram suavemente e depois sua boca encontrou a minha com delicadeza, mais delicadeza do que eu esperaria de um homem como aquele.
Suas mãos seguraram meu rosto, sem que sua boca se afastasse da minha, e aproveitei para tocá-lo.
Passei a mão pelos seus braços fortes, pelos ombros e depois desci pelo peito. O corpo dele era forte, quente e exalava um cheiro de banho com uma pitada de suor recente. Ele estava suando naquele momento, mesmo que o tempo estivesse frio, talvez pela ansiedade e tensão.
Me aproximei mais, deixando que nossos corpos se tocassem, e isso pareceu deixá-lo ainda mais agitado. Sua mão desceu repentinamente para minha cintura, com uma pressão leve, mas firme.
Hesitamos, afastando nossos rostos por milímetros. Nossos lábios continuavam se tocando ocasionalmente conforme respirávamos, e a mão dele estava começando a juntar uma pequena porção de suor na minha pele que esquentava gradualmente.
Ele respirou fundo uma vez, talvez buscando controle de suas emoções ou juntando coragem para seguir adiante com aquilo. Eu apenas esperei, decidida a não me afastar fossem quais fossem as consequências.
Emanuele - Onde é que isso tem que ficar? – Guilherme perguntou pela décima vez, arrastando um vaso enorme com uma planta que eu não me lembrava o nome, mas que minha mãe havia insistido em me dar para a casa nova. - Você não consegue decidir nada sozinho? – reclamei, me afastando das caixas de papelão outra vez – Desse jeito não vou acabar de desembalar as coisas nunca. - Me diz logo. – implorou. - Coloca na varanda, logo ao lado da porta da sala. – indiquei, e voltei para dentro.&n
Emanuele Guilherme ficou plenamente ciente da minha presença vários dias depois. Antes disso, ele abria e fechava os olhos e parecia ter uma vaga noção de onde estava, mas ao passar os olhos por mim não parecia realmente me ver. Aconteceu em uma tarde. Eu estava sentada ao seu lado folheando uma revista, algo que eu tinha me habituado a fazer durante as longas horas apenas esperando o tempo passar, quando ergui a cabeça, como fazia de cinco e cinco minutos, e seus olhos estavam alertas mirando o teto. - Guilherme! – chamei, rapidamente largando a revista e me aproximando mais.&nbs
Emanuele Meus medos se mostraram infundados porque, depois de conversar com o médico e finalmente colocar meus olhos em Guilherme, percebi que mesmo muito machucado ele poderia se recuperar com cuidados e paciência. Consegui me aproximar dele depois de prometer que não faria nada que alterasse sua calma. Ele estava tomando vários medicamentos que o deixavam sonolento e confuso, e não deveria se estressar até que estivesse bem o suficiente para ter alta. Apoiei as mãos ao seu lado, no colchão, muito lentamente para que não acordasse. Seu rosto estava cheio de hematomas e havia um curativo bem grande logo acima da sobrancelha, o lábio inferior es
Emanuele Mamãe tinha razão. Não só em quinze minutos eu estava dentro do carro bem alimentada, como tinha conseguido vestir peças de roupa que combinavam e domado os nós dos cabelos com mais cuidado. Claro que o tempo parecia infinito, e eu precisava do mapa para achar a cidade de Guilherme, mas estava conseguindo manter a expectativa sob controle. Se tudo desse certo, ao final daquele dia, nós estaríamos tendo uma conversa clara sobre nós dois. Meu coração disparou assim que entrei na cidade, logo no começo da tarde. Agora era uma questão de achar a rua e o número corretos e Guilherme estaria bem na minha frente.
Emanuele Quando li a última palavra do diário de Emma, já de madrugada, eu estava chorando. A história era cheia de reviravoltas e momentos tristes, mas no fim tudo tinha ficado bem. Emma tinha conseguido escapar da fazenda e viver com o homem que realmente amava, Francisco, o pai de Guilherme. Eu consegui imaginar como foi quando ela o viu pela primeira vez, e pela descrição física já tinha dado para saber que Guilherme tinha me contado a verdade, e percebi que não havia sido tão diferente da maneira que eu conheci seu filho. Exatamente na mesma porta.
Emanuele A festa de Ester e Martim foi perfeita, tão animada que quase me esqueci do aparecimento de Guilherme e de suas palavras confusas. Será que era verdade? Que nós dois éramos primos e não irmãos? Cansada por todo o trabalho da semana, fiquei aliviada ao ver os convidados partindo em seus carros quando o sol começou a descer no céu. Eu precisaria de um longo descanso depois de toda a preocupação em fazer aquele dia o mais perfeito possível. - Tudo bem com você? – minha irmã passou pela porta da frente após se despedir de uma porção de parentes de Martim.
Último capítulo