CAPÍTULO 6 — AS REGRAS DA CASA

A noite caiu rápido sobre a mansão Valmont. As janelas amplas refletiam o brilho da lua, criando sombras longas pelos corredores silenciosos. Luna caminhava atrás de Helena enquanto absorvia cada detalhe: os quadros rígidos, as portas impecavelmente fechadas, o cheiro discreto de madeira encerada.

— Vou explicar as regras — disse a governanta, sem emoção. — O senhor Valmont aprecia organização e limites claros.

Luna assentiu, embora por dentro sentisse que já havia entendido isso desde o primeiro olhar dele.

— Primeira regra: não entre no quarto do senhor Valmont. Nunca. — Helena parou e virou-se, olhando Luna nos olhos. — Ele pode entrar no seu, mas você não entra no dele.

Luna arqueou uma sobrancelha.

— Ele… entra no quarto dos funcionários?

— Ele entra onde quiser — corrigiu Helena, com firmeza. — Esta é a casa dele.

A frase ficou suspensa no ar, pesada.

— Segunda regra: não faça perguntas sobre a senhora Valmont.

O nome pairou, perigoso.

Luna manteve a postura.

— Entendi.

— Terceira: evite circular pela casa entre meia-noite e seis da manhã. Os corredores são monitorados, e o senhor Valmont detesta surpresas noturnas.

Luna sentiu um arrepio na nuca.

— E Elias? — perguntou. — Ele acorda à noite?

Helena respirou fundo.

— Às vezes. Ele tem pesadelos. Se isso acontecer, você ouvirá. Ele sempre… chama de algum jeito.

— Mesmo sem falar? — Luna perguntou, baixinho.

Helena hesitou.

— Elias tem maneiras de se comunicar — respondeu, enigmática. — Você entenderá.

Caminharam até o refeitório. Uma mesa longa, fria, de mármore. Lugares postos como se esperassem um jantar formal — mas apenas três eram usados.

Um para Adrian.

Um para Elias.

Um vazio.

Luna engoliu em seco, conectando os pontos.

— O jantar será servido em vinte minutos — disse Helena. — Você se senta junto com Elias. O senhor Valmont decide se participa ou não.

— Ele sempre come sozinho? — Luna perguntou.

Helena apenas desviou o olhar.


Quando voltou ao quarto, Luna fechou a porta e respirou fundo. A mansão tinha uma beleza assustadora, quase sufocante. Era o tipo de lugar em que nada se movia sem propósito.

O tipo de lugar onde segredos eram parte da decoração.

Ela abriu a bolsa, tirou suas roupas dobradas, colocou no armário. Separou o caderno onde costumava anotar tudo sobre os pacientes — agora, sobre Elias.

“Primeiro contato emocional: toque espontâneo.

Reação: busca de segurança.

Estado: alerta, silencioso, observador.”

Ela desviou o olhar para a parede fina que dividia o quarto dela do quarto dele.

— Você deve se sentir muito sozinho — murmurou.

O jantar estava prestes a começar quando a campainha suave ecoou pelo andar.

Luna respirou fundo, ajeitou o cabelo preso em coque, e saiu.

Elias já estava sentado à mesa, as mãos pousadas no colo, o olhar fixo no prato vazio.

Quando ela se aproximou, ele respirou rápido, quase imperceptivelmente — mas o suficiente para que Luna percebesse que aquele gesto significava algo.

Ela se sentou ao lado dele.

— Oi — disse, suave. — Hoje você deve estar cansado.

Elias piscou lentamente.

Depois, inclinou-se apenas um centímetro para o lado dela.

Um gesto minúsculo.

Mas para ele, gigantesco.

O coração de Luna apertou.

A porta do refeitório se abriu.

Adrian entrou.

Vestia camisa preta, as mangas dobradas. O primeiro botão aberto. O cabelo levemente desarrumado — uma imperfeição que o tornava ainda mais perigoso.

Ele não olhou para o prato.

Não olhou para Helena.

Olhou direto para o menino.

E depois… para Luna.

O olhar dele pousou por um segundo na pequena inclinação do corpo de Elias, buscando proximidade com ela.

E Luna viu acontecer.

Uma rachadura.

Uma fissura no homem totalmente controlado.

Algo estava mudando ali.

Algo que ele não estava preparado para sentir.

Ele sentou-se na ponta da mesa, de frente para os dois.

O jantar começou.

Silencioso.

Tenso.

Elias comia devagar, mas comia — e isso parecia uma vitória imensa.

Luna manteve uma calma natural, não forçada. Conversava com o menino de forma suave, em frases curtas, sem esperar resposta.

Adrian observava tudo.

Observava demais.

— Ele só come assim quando está confortável — disse Adrian, quebrando o silêncio.

Luna olhou para ele.

— Crianças comem quando percebem que não estão sendo pressionadas.

Adrian inclinou levemente a cabeça — um reconhecimento discreto, quase involuntário.

— Você o observou bem — ele disse.

— Eu o senti — respondeu.

Os olhos de Adrian escureceram.

Porque aquela frase…

atingiu algo que ele não deixava ninguém tocar.

Então a campainha tocou novamente — um som diferente, mais rápido, mais urgente.

E Elias congelou.

De repente, sua respiração ficou curta.

A mão dele apertou a borda da mesa.

Os olhos arregalaram.

Não era medo comum.

Era lembrança.

E Luna soube — naquele exato segundo — que alguém acabava de entrar naquela mansão.

Alguém que Elias reconhecia.

Alguém que ele temia.

E Adrian levantou-se tão rápido que a cadeira quase caiu para trás.

— Fique com ele — ordenou.

E saiu com passos duros.

A mansão, antes silenciosa, parecia acordar com um pressentimento.

Luna deslizou a mão até a mão de Elias.

— Está tudo bem. Eu estou aqui.

Mas o menino tremeu.

E Luna entendeu:

O verdadeiro pesadelo daquela casa… acabava de voltar.

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