Na mansão Holt, sentado em sua cadeira imponente, na mesa de jantar, Frederico mantinha a postura ereta, mesmo com a idade avançada e a doença que lhe corroía as forças. Os olhos, ainda firmes, dominavam o ambiente. Ao seu lado, a esposa Olga, com a serenidade que só a maturidade traz, observava cada movimento do marido com preocupação.
Mais adiante, Felipe, filho de Frederico, e sua esposa Hérica, a madrasta de Liam, trocavam olhares silenciosos. Quando todos já estavam acomodados, Frederico ergueu a taça de vinho, mas não brindou. A voz grave ecoou pelo salão, implacável. — Ao meu futuro bisneto. — anunciou, deixando o peso da frase pairar no ar. — Liam precisa se casar rápido. Olga foi a primeira a reagir, inclinando-se levemente, a expressão aflita. — Frederico, não pode exigir isso do nosso neto. — sua voz saiu calma, mas carregada de dor. — Ele tem direito às próprias escolhas. Você sabe que desde criança ele sempre disse que não queria casamento. O patriarca apoiou a mão trêmula sobre a mesa, os nós dos dedos se destacando, mas a voz não perdeu firmeza. — Não me importo com isso. — disse, frio. — A herança Holt precisa de continuidade legítima. Para ser validada, Liam sabe que deve se casar e ter um herdeiro com a própria esposa. O casamento deve durar, no mínimo, um ano. Olga suspirou, desapontada, abaixando os olhos para a taça de vinho, como se não suportasse encarar aquela rigidez. — Está aprisionando a vida dele em regras… — Não são regras. — retrucou Frederico, o tom cortante como uma sentença. — São condições. Se Liam não cumprir, tudo passará para o primo dele. Felipe ajeitou o paletó, inclinando-se para frente, aproveitando a deixa do pai. — É justo. — disse, firme, como quem já havia ensaiado aquelas palavras. — O império da família não pode ser colocado em risco por caprichos. Hérica, com um meio sorriso frio, completou, a voz melosa disfarçando o veneno: — Liam precisa entender que não se trata apenas dele. E sim, de todos nós. Olga lançou um olhar de desaprovação à nora, os olhos marejados. — Vocês falam de fortuna, mas se esquecem de que falamos da vida de uma pessoa. E Charles também é seu neto, Alberto também é seu filho, Frederico. O ambiente ficou carregado, até que o som de passos firmes ecoou pelo corredor. Liam surgiu no vão da porta com o cansaço da viagem estampado no rosto, mas com a mesma presença de quem sabia que sempre seria observado e julgado. O silêncio tomou conta por um instante. Todos os olhares se voltaram para ele. — Parece que cheguei no meio de um julgamento. — disse, a voz rouca, carregada de ironia. Hérica forçou um sorriso, tentando disfarçar o incômodo. — Estávamos apenas conversando sobre o futuro, Liam. Ele estreitou os olhos, um riso breve e descrente escapando. — Conversando? — aproximou-se da mesa, apoiando as mãos no encosto de uma cadeira, o olhar fixo nela. — Eu chamaria de outra coisa. Frederico bateu a mão sobre a mesa, o som seco cortando o ar. — Sente-se. Preciso falar com você. Liam obedeceu, puxando a cadeira com cama. Frederico foi direto, os olhos queimando de autoridade. — Você sabe que, para que sua herança seja validada, e você continue na liderança das empresas, deve se casar. E dar-me um bisneto. O jovem soltou uma risada curta, amarga, inclinando-se na cadeira. — De novo, o mesmo assunto, vovô? — a voz carregava um sarcasmo dolorido. — Nunca quis isso. Não vai ser agora que vou querer. Estou muito bem com a vida que levo. Felipe interveio, a voz autoritária, mas também nervosa: — Não é questão de querer, Liam. É dever. Liam se virou para ele, o olhar afiado, e a mágoa antiga transbordou. — Dever? Quem é você para falar de dever, Felipe? Não foi exatamente o melhor exemplo de pai. Nem de marido. Felipe se ergueu, furioso, o rosto vermelho. — Você me deve respeito! O jovem o encarou, sem piscar, os lábios contraídos num sorriso amargo. — Respeito se conquista. E você nunca me deu motivo para tê-lo por você. Hérica decidiu intervir, inclinando-se sobre a mesa, a voz doce como veneno. — Liam, pense em tudo que vai perder. A vida de luxo, os privilégios, as viagens… Ele se virou lentamente para ela, deixando a raiva transparecer em cada sílaba. — Está com medo de perder a vida boa? — a ironia veio afiada. — Já passou da hora de você trabalhar, Hérica. O impacto foi imediato. O sorriso dela desapareceu, a máscara caiu. Olga levou a mão ao peito, assustada, enquanto Felipe avançou um passo, indignado. — Basta, Liam! — gritou. — Você vive remoendo ódio. Já se passaram anos! Vida que segue! Um meio sorriso curvou os lábios de Liam, frio, provocador. — Para você, talvez. Para mim, não. Ele se levantou, ignorando o pai e a madrasta, e voltou-se para o avô. — Com licença. Preciso falar com o senhor em particular, vovô. Frederico fez um gesto breve, permitindo. À noite, longe da mansão, Liam estacionou diante do luxuoso prédio de Bárbara, sua namorada. Uma modelo famosa, fria e calculista. Ela o recebeu com um sorriso treinado, os olhos claros brilhando mais de ambição do que de afeto. O corpo esguio estava envolto em um robe de seda que mal cobria as pernas. — Você parece exausto, amor. — disse, fechando a porta atrás dele. Liam se jogou no sofá, afrouxando a gravata. Bárbara se aproximou por trás, deslizando as mãos firmes em seus ombros, iniciando uma massagem lenta. — Você está tenso… muito tenso. — sussurrou com a voz manhosa, roçando os lábios em sua orelha. Ele fechou os olhos, deixando escapar um suspiro carregado de frustração. — Meu avô está irredutível com a história do casamento. — E você não vai aceitar. — respondeu ela, os dedos descendo pelo peito dele, a expressão confiante. — Mas eu tenho uma solução. Ele abriu os olhos, desconfiado, estudando o rosto dela. — Solução? — repetiu, a voz fria, como quem já sabe que não existe saída para algo que não quer. Bárbara contornou o sofá, sentou-se ao lado dele, o olhar frio e calculista. — Casamento por contrato. — disse com naturalidade. — Uma mulher escolhida apenas para isso. Ela será barriga de aluguel. Liam ergueu a sobrancelha, incrédulo. — Barriga de aluguel? — a voz saiu seca. — Vim aqui pra me aliviar, não pra ouvir esse tipo de conversa. Não quero ser pai, quanto mais me casar. — Eu não posso ter filhos agora, Liam, você sabe. — explicou, com um suspiro ensaiado. — Minhas trompas são obstruídas. E além disso, não quero atrapalhar minha carreira, estragar meu corpo. Mas você pode cumprir a exigência: se casar com outra, fingir ter um relacionamento perfeito, ter o herdeiro. Depois de um ano… se divorcia. Então, nós nos casamos, sem problemas com seu avô. Contratamos uma boa babá. E vivemos felizes. Não se esqueça que meus óvulos estão congelados. Liam, com aqueles olhos verdes, a encarou por longos segundos, o maxilar travado. Depois, segurou o braço dela e a puxou entre suas pernas. — Esse assunto termina aqui. — disse, a voz baixa, firme, deixando claro que não queria mais ouvir. — Agora me faça esquecer. Bárbara sorriu, provocante, satisfeita por vê-lo render-se de outra forma. Ajoelhou-se lentamente, desabotoando a calça dele com mãos ágeis. — Estava com saudades de você… meu moreno gostoso. — murmurou, olhando-o nos olhos, a língua roçando os lábios. — Vou acalmar você do jeito que gosta. Ele se recostou no sofá, os músculos relaxando. Só ouvia os gemidos graves de Liam. Eles se entregaram em um jogo de prazer cru, sem amor, apenas a fuga dele e a manipulação dela.