CAPÍTULO 49
Clarisse Montuane
O vento gelado me envolvia como se quisesse atravessar a pele, mas eu não me mexia. Permanecia ajoelhada diante da lápide, respirando irregularmente, com o coração pulsando fora do compasso. A pedra fria à minha frente parecia mais viva do que eu. Mais real.
O nome do meu filho gravado nela era como uma faca, que eu lia e relia.
TOMÁS MONTUANE BELLEROSE
Nascido: 27/01/2024
Falecido:27/01/2024
Eu li aquelas datas tantas vezes que já estavam queimadas atrás das minhas pálpebras.
Não importava quantas vezes eu tentasse negar: aquilo estava ali.
Matéria de pedra.
Indiscutível.
Final.
Meu filho existiu.
E morreu.
E eu… eu tinha passado meses negando isso.
Meses perseguindo sombras.
Meses confundindo delírio com lembrança.
Meses colocando um bebê inocente no lugar do meu.
Meses machucando pessoas.
Machucando a mim mesma.
Machucando a memória dele.
— Me perdoa… — sussurrei, tocando o mármore com a ponta dos dedos. — Me perdoa, filho. Eu não soube te proteger. Ne