O quarto estava mergulhado em penumbra quando abri os olhos. O silêncio era denso, cortado apenas pela brisa suave que entrava pelas frestas da janela. Minha atenção foi capturada por algo sobre a cadeira próxima à cama: um vestido. Um vestido justo, de um vermelho tão profundo que mais parecia vinho recém-derramado. Ao lado, cuidadosamente dobrada, uma pequena carta repousava.Meus dedos hesitaram antes de tocá-la. O papel era firme, com a caligrafia perfeita que eu já reconhecia como dele."Vista. Espero você lá embaixo. – Damon."Um arrepio percorreu minha espinha. Não havia mais nenhuma instrução, só aquela ordem suave, insinuante. Ele queria me ver com aquilo... queria me provocar? Ou... me testar?Minha primeira reação foi deixar o vestido ali mesmo e continuar com o que estava vestindo. Mas algo dentro de mim – talvez o resquício do orgulho ferido, ou a curiosidade perigosa que Damon despertava – me fez mudar de ideia. Ele queria um jogo? Eu jogaria também. Mesmo com o medo ain
O silêncio que ficou após a saída de Ravik parecia ainda mais pesado que sua presença. Damon estava de pé, de costas para mim, os punhos cerrados ao lado do corpo, como se lutasse contra algo dentro de si. Eu deveria estar com medo. E estava. Mas também havia algo mais... algo quente, rastejando por debaixo da pele, como se meu corpo estivesse sintonizado com o dele, apesar da minha mente gritar por distância.— Ele queria me matar, não é? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro.Damon se virou lentamente, os olhos vermelhos como brasas em brasa. Seus passos ecoaram pelo salão de pedra até que ele parou diante de mim, sem tocar, mas perto o suficiente para que eu sentisse o calor que emanava dele.— Provavelmente — respondeu, sem rodeios. — Ravik não perdoa falhas. Nem surpresas.— E eu sou o quê? Uma falha ou uma surpresa?Os olhos dele caíram nos meus lábios, depois subiram devagar até meus olhos. Ele sorriu de canto. Um sorriso perigoso.— Você é uma tentação. E isso... é bem pio
Damon se foi com a mesma intensidade . — como um raio que rasga o céu e deixa o ar carregado. O salão parecia mais frio sem ele, mais vazio… mais perigoso. Mas era o vazio dentro de mim que me deixava inquieta. Aquele homem me deixava em ruínas, confusa entre ódio e desejo, entre medo e curiosidade. E agora… me deixara sozinha de novo.Não. Eu não aceitaria isso.Caminhei pelo salão com passos firmes, o som dos meus saltos ecoando nas pedras antigas. A seda vermelha do vestido ainda colava ao meu corpo como uma segunda pele — como se ele me tivesse marcado com seus olhos e agora eu carregasse a lembrança em cada curva. E mesmo assim, a raiva pulsava.Ele me sequestrou. Me trancou. Me usou em jogos que eu não compreendia. E agora, desaparecia sem dar respostas?Atravessando os arcos de pedra, fui em direção à varanda ao lado do salão principal. O dia estava claro, mas o céu carregado anunciava uma tempestade iminente. Era como se o clima respondesse ao que eu sentia — e talvez fosse ex
O vento soprava ao nosso redor como um aviso. As nuvens densas se acumulavam no céu, ameaçando romper em trovão e chuva. Mas ali, entre os dedos de Damon pressionando minha cintura e o olhar que queimava mais do que o sol, havia uma tempestade muito mais perigosa prestes a explodir.Ele não se afastou. Tampouco recuou. Seu rosto estava tão perto do meu que eu podia sentir o ar que escapava entre seus lábios, o leve toque da barba em minha pele. Mas era o olhar dele que me despia. Que me atravessava. E que dizia, sem palavras, que ele também estava em guerra.— Você está brincando com fogo, Elara — ele disse, a voz rouca, baixa, quase um aviso sussurrado contra meus lábios. — Eu sou feito de escuridão, de fome... de sede. Eu não sou um homem. Sou algo que você deveria temer.— Eu tenho medo — confessei, sem me afastar. — Mas desejo muito mais do que temo.Os olhos dele se estreitaram, faíscando com algo cru, indomável.— Não diga isso... — ele murmurou, os dedos deslizando de minha cin
A tempestade caiu no exato momento em que seus lábios tocaram os meus.Não foi um beijo suave, nem romântico. Foi um rasgar de pele e fogo. Foi possessão. Fome. Um grito calado vindo das profundezas do nosso desejo reprimido. Damon me beijou como se eu fosse o ar que ele precisava para continuar existindo. E eu correspondi com toda a sede que carregava desde o instante em que seus olhos me encontraram naquele bosque.A chuva começou a cair pesada, tamborilando contra o parapeito de pedra da varanda. Mas não nos importamos. Nossos corpos estavam colados, nossas bocas se devoravam com urgência animalesca. A seda do meu vestido colava na pele conforme a água nos encharcava, e ainda assim eu queria mais. Mais dele. Mais daquele toque que fazia meu corpo queimar e minha alma se contorcer de prazer.Damon passou os braços pela minha cintura e me ergueu como se eu não pesasse nada, me pressionando contra a parede. Seu quadril roçava no meu, e eu podia sentir sua ereção, rígida, latejando con
Acordei com um vazio latejando em meu peito.O lençol ainda guardava o calor do corpo de Damon, o cheiro dele impregnado em cada fibra, misturado ao suor e ao desejo da noite passada. Meus dedos deslizaram pela cama desfeita, buscando por ele no escuro — mas só encontrei o frio.Levantei devagar, a pele nua arrepiada não apenas pela corrente de ar que entrava pela janela aberta, mas pela estranha sensação de estar sendo observada.Chamei por ele em um sussurro.Nada.Vestindo apenas a camisa negra dele, que me chegava até a metade das coxas, abri a porta do quarto e me aventurei pelo corredor silencioso. O castelo parecia respirar, vivo nas sombras, cada pedra vibrando com ecos de antigos segredos.O cheiro de Damon parecia guiá-la, fraco, como um vestígio deixado para trás às pressas.Desci degraus de pedra, as tábuas rangendo sob meus pés descalços, até que um corredor estreito e mergulhado na penumbra se abriu à minha frente. Um corredor onde a luz era engolida por sombras densas.
O quarto parecia ainda mais frio quando voltei para ele, após o encontro com Ravik.O silêncio era sufocante, como se o próprio castelo retivesse a respiração, esperando pela minha reação.Sobre a poltrona, repousava um vestido novo. De um Azul escuro, quase da cor do oceano. A seda parecia reluzir à pouca luz que atravessava a varanda aberta, mas pela primeira vez desde que cheguei aqui, eu não senti vontade alguma de tocá-lo. Não depois daquelas palavras venenosas sussurradas por Ravik, deixando cicatrizes invisíveis sob minha pele.Eu virei o rosto, ignorando o tecido como se ele fosse uma afronta.Meu peito subia e descia com força. Eu havia me entregado a Damon — corpo, alma, tudo. E agora, pairava sobre mim a dúvida cruel: eu havia feito a coisa certa?O Damon que segurava meu rosto com tanta ternura, que beijava cada parte minha como se eu fosse feita de luz... era o mesmo que escondia segredos que poderiam me destruir?Minha garganta apertou. Meus olhos ardiam.E se eu tivesse
O vento carregava a chuva em lufadas geladas, chicoteando nossos rostos, mas Damon não parecia se importar. Seus olhos, daquele vermelho profundo e cortante, fixaram-se em mim como lâminas.— Por que você fugiu? — ele perguntou, a voz baixa, carregada de raiva contida.As presas dele, levemente expostas, brilharam sob o lampejo de um trovão distante. Cada parte de mim gritava para recuar... mas eu não dei um único passo para trás.Em vez disso, ignorei a pergunta.— O que você quis dizer... — minha voz saiu tremida, mas me forcei a continuar —, quando disse que precisava me proteger de você?Damon fechou os olhos por um instante, como se a pergunta pesasse toneladas sobre seus ombros.— Elara, não é tão simples.— Então me explique! — exigi, o peito doendo de tanta ansiedade. — Não fuja de mim, Damon. Não me esconda mais nada!O silêncio se estendeu por um momento eterno entre nós, até que suspirei e disparei:— Ravik me encontrou no castelo — revelei, cruzando os braços, desafiando-o