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O volante escapou das minhas mãos por uma fração de segundo.
Foi o suficiente.
O impacto sacudiu o carro inteiro, um baque surdo seguido pelo rangido de freios contra o asfalto molhado. Meu coração disparou enquanto eu pressionava o pedal até o fim, os pneus derrapando antes de finalmente pararem.
Silêncio.
Apenas a chuva fina batendo no para-brisa e minha respiração descompassada preenchiam o interior do veículo. Apertei o volante com força, os dedos brancos de tensão, enquanto tentava processar o que tinha acontecido.
*Não, não, não...*
Desliguei o motor com as mãos trêmulas e abri a porta. O ar frio da noite me atingiu em cheio, carregando o cheiro de terra úmida e pinheiros. A estrada estava deserta — como sempre ficava depois das onze da noite —, apenas a luz fraca dos faróis iluminando a neblina que se formava entre as árvores.
E então eu vi.
Um corpo grande, escuro, caído alguns metros à frente. Pelagem negra brilhando sob a chuva.
*Um lobo.*
Meu estômago revirou. Corri até ele, os tênis afundando nas poças d'água, e me ajoelhei ao lado do animal. Era enorme, maior do que qualquer lobo que eu já tinha visto em documentários. O peito subia e descia em movimentos irregulares, mas ele ainda estava vivo.
— Desculpa, desculpa... — sussurrei, a voz falhando. — Eu não vi você...
Estendi a mão devagar, querendo tocá-lo, verificar se havia algo que eu pudesse fazer. Mas no instante em que meus dedos roçaram a pelagem úmida, o lobo se contorceu violentamente.
A dor veio antes que eu entendesse o que tinha acontecido.
Suas garras rasgaram meu antebraço, três linhas profundas de fogo líquido que me fizeram gritar e recuar. Segurei o braço ferido contra o peito, sentindo o sangue quente escorrer entre meus dedos.
O lobo ofegava, os olhos dourados semicerrados, como se estivesse lutando para permanecer consciente.
— Tudo bem... — murmurei, mesmo com a dor latejando. — Você está assustado. Eu entendo.
Recuei mais alguns passos, tirando o celular do bolso com a mão que ainda funcionava direito. A tela iluminada tremia na minha visão embaçada enquanto eu procurava o contato.
Kai atendeu no segundo toque.
— Ayla? — A voz grave dele carregava preocupação imediata. — São quase meia-noite, o que—
— Eu atropelei um lobo. — As palavras saíram rápidas, quase histéricas. — Na estrada de volta pra casa. Kai, ele está ferido e eu não sei o que fazer, eu—
— Onde você está exatamente?
— A uns cinco quilômetros da entrada da cidade, perto daquela curva fechada antes da ponte.
— Não se mexa. Estou indo.
A ligação caiu.
Pressionei o braço ferido com mais força, tentando ignorar a ardência, e voltei meu olhar para o lobo. Ele havia parado de se debater, mas seus olhos continuavam fixos em mim. Havia algo perturbadoramente *humano* naquele olhar.
*Impossível.*
Balancei a cabeça. Devia ser o choque.
Os minutos se arrastaram como horas até que vi os faróis da picape de Kai cortando a neblina. Ele estacionou atrás do meu carro e desceu num movimento fluido, os passos longos comendo a distância entre nós.
— Você está bem? — perguntou, as mãos grandes segurando meus ombros enquanto me examinava de cima a baixo.







