Sacrifício de Amor
Sacrifício de Amor
Por: Melissa Guedes
Capítulo 1

Maria Pilar saiu do consultório médico em estado de choque profundo após ouvir o diagnóstico a respeito da enfermidade de seu irmão caçula. Infelizmente o irmãozinho dela precisava urgentemente fazer uma cirurgia e nem sua mãe e nem ela tinham como arcar com as despesas do hospital e da cirurgia. Esperar pela liberação do atendimento gratuito poderia significar o final precoce de um garoto de apenas dez anos — cheio de sonhos e anseios; por que para elas apenas um milagre poderia tirá-los daquela situação desesperadora.

Enquanto caminhava desnorteada pelas ruas de Madrid, gotículas de lágrimas caiam por seu rosto descorado turvando-lhe a visão. Naquele momento, Pilar não enxergava mais nada a sua frente, nem mesmo o carro em alta velocidade que vinha em direção a ela. Quando finalmente deu por si, ela já estava no chão sendo segurada por dois braços fortes que a amparava.  

Depois de perceber o que tinha ocorrido um forte tremor a invadiu e nesse momento o homem que salvou-lhe a vida a repreendeu duramente.

— Você está ficando louca! Como é que você atravessou a pista com o sinal aberto? Por pouco não foi atropelada.

Depois de recompor-se do susto inicial, ela disse agradecida.

— Obrigada por salvar-me a vida. Estou tão desesperada que parece que tudo a minha volta desapareceu e ficou apenas eu e os meus problemas.

Frente ao rosto transtornado, dela, pela angústia, ele a questionou enquanto a ajudava a levantar-se.

— O que aconteceu de tão terrível, senhorita, para deixá-la neste estado?

— Acabei de saber que o meu irmão precisará submeter-se com urgência a uma cirurgia e minha família não tem como arcar com as despesas médicas e do hospital. — Respondeu abalada sem dar-se conta de que abrira a vida para um completo desconhecido. 

— Sinto muito pelo seu irmão. — Disse-lhe reconfortante e a seguir, questionou-a depois de compadecer-se. — O que ele tem? 

— Está com um aneurisma cerebral. — Respondeu chorosa e desabafou. — Meu irmão tem apenas dez anos e não merecia estar passando por essa luta... Se pudesse eu seria capaz de dar a minha vida pela dele.

— Desculpe perguntar-lhe, mais qual é o seu nome e quantos anos você tem?

— Chamo-me Maria Pilar Sanchez e tenho vinte e dois anos.

Assim que ela o respondeu, o desconhecido a olhou por alguns segundos e naquele momento Pilar teve a impressão de que ele queria falar-lhe algo, mas parecia escolher as palavras certas. Porém, até então, ela não tinha certeza de nada, tudo parecia-lhe confuso; incerto; sem esperança. A única certeza que tinha era de que estava correndo contra o tempo e a cada minuto que passava as chances de cura de seu irmão esvaiam-se.

Um dia antes, sua mãe e ela estavam esperançosas de que a doença pudesse ser tratada por meio de medicação, porém elas estavam enganadas. O caso de Alejandro era bem mais grave do que imaginavam e, mais grave ainda era não ter dinheiro suficiente para tratá-lo.

Depois de alguns poucos minutos analisando-a, que para ela pareceu uma eternidade, o desconhecido pareceu sair do seu estado de quietude, e o olhar que ele lançou-lhe a seguir foi o de alguém que sabia exatamente o que dizer.

— Chamo-me Pablo Martinez. — Apresentou-se e continuou. — Sou um homem muito rico: tenho muitas posses e muita influência na Espanha e fora dela. Posso ajudá-la com o tratamento do seu irmão, desde que, é claro, você também esteja disposta a ajudar-me.

— Que espécie de ajuda, você espera de mim? — Perguntou surpresa e ao mesmo tempo esperançosa. 

Aquela poderia ser a única chance dela de salvar a vida de Alejandro. Ela e sua mãe já tinham esgotado todos os recursos financeiros para ajudá-lo, e se aquele desconhecido estava disposto a oferecer-lhe ajuda, ela não o negaria. 

Frente ao olhar ansioso dela, ele informou-lhe. 

— Posso arcar com todo o tratamento do teu irmão e, ainda garantir-lhe uma pomposa pensão de um ano, desde que você se proponha a ser mãe de aluguel do meu filho com minha esposa. — Lançou-lhe a proposta para espanto dela.

— O quê?!

Essa foi a única reação que Pilar conseguiu esboçar e diante do rosto estupefato dela, ele sentiu a necessidade de ser mais claro com ela. 

— Há algum tempo minha esposa tenta engravidar, porém sem sucesso; o que a fez procurar um especialista e, só recentemente, descobrimos que o útero dela não tem condições para gerar um filho. Diante desse diagnóstico nada animador, a única opção que nos resta é partir para a inseminação artificial e encontrarmos um útero saudável para fecunda-lo.

Quando ele terminou de falar foi que ela deu-se conta de que ele queria compra-la em troca do tratamento de Alejandro. Uma proposta no mínimo indecorosa, mas que faria a diferença na vida de seu irmão.

Ainda duvidando de seus ouvidos, ela falou abismada.

— Não acredito que estás propondo-me isto?

— Por que a surpresa senhorita Pilar? Não foi você mesma que disse-me que seria capaz de fazer qualquer coisa para salvar o seu irmão; até mesmo dar a vida por ele? — Pablo Martinez a questionou usando exatamente as mesmas palavras dela. — O que é um sacrifício desses frente à saúde e a vida de seu irmãozinho? — Acrescentou pondo em dúvidas as palavras dela.

Sentir-se presa em suas próprias palavras a tirou de órbita e naquele momento ela mesmo começou a duvidar de sua capacidade de sacrificar-se por Alejandro. A saúde e a vida dele estavam nas mãos dela e ela simplesmente não sabia o que fazer ou dizer.

Caso aceitasse a proposta do desconhecido teria que deixar sua casa e sua família e, com certeza, teria que mudar-se para a casa dos pais biológicos da criança — pelo menos era assim que acontecia nos filmes.

Por outro lado, àquela mudança seria providencial para ela, pois assim evitaria falatórios e ela pouparia sua mãe daquele constrangimento. Provavelmente ninguém entenderia o sacrifício dela —, e talvez, nem mesmo a sua amada mãe — o que restava-lhe, então, esconder àquela história até mesmo de sua mãe, caso ela fosse contra a proposta de Pablo Martinez.

Como aparentemente ele aguardava uma resposta dela; ela observou apreensiva.

— Preciso de um tempo para pensar.

— Dou-lhe dois dias para dar-me uma resposta. Se dentro deste prazo você não procurar-me, minha esposa e eu vamos retomar as entrevistas com as candidatas que ainda faltam e daremos por encerrada essa proposta. — Disse persuasivo para espanto dela. 

— No caso eu também terei que passar pela entrevista? — Perguntou ainda atônita.

— Apenas pelo procedimento médico, para ver se você não tem nenhum problema de saúde que impeça a realização do procedimento. — Respondeu esperançoso e observou a seguir. — Por alguma razão sinto que não salvei-lhe a vida por um acaso. Tenho certeza de que és a mulher que procuramos para fecundar o nosso filho — no caso, meu e de minha esposa. 

Sem mais nada a dizer ele entregou-lhe o cartão com o número de telefone, passou-lhe os endereços de onde os encontrar; deu-lhe o dinheiro do táxi e, a seguir, ela o viu entrar em uma bela Lamborghini estacionada a alguns centímetros de lá.

Ainda desnorteada com tudo o que estava acontecendo a sua volta, ela colocou o cartão dele na bolsa, e, ao invés de chamar um táxi, dirigiu-se para a estação de metrô, pois não teria como explicar à sua mãe a origem do dinheiro para o táxi.

Enquanto esperava a sua condução ela pensava na proposta de Pablo e, independentemente de suas escolhas ou decisões, a mesma iria refletir negativamente ou positivamente em sua vida. Pilar só esperava fazer a escolha certa, tanto para ela, quanto para seu irmão. 

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