Capítulo 2

Aqueles momentos constrangedores e desajustados causaram um efeito em mim, eu estava afinal de contas, na porra da minha casa, então por que eu estava tão aflita? Tentei manter a compostura, da forma como eu consegui, bom, não havia compostura olhar para ele me deixava nervosa. Um tipo de nervoso diferente, era como olhar direto para o sol e sentir a sensação de ter os seus próprios olhos queimando.

- Ah... desculpa... eu não vi que já estava ocupado... - eu disse sem graça, querendo olhar para ele e querendo fugir.

- Não se preocupa, tem lugar para todo mundo que acha essas porras de eventos insuportáveis! - eu nem acreditava que ele havia tido coragem de falar isso, eu mesma achava a mesma coisa, mas ouvir alguém dizer isso sobre um evento que era sobre a sua irmã... era difícil.

Eu queria dizer o mesmo, mas eu podia detonar aquele evento de todas as formas, mas ele? Ele não!

- Não são tão ruins assim... tem bebida de graça... e a anfitriã é linda.

- Você é o que? parente do dono da casa? - disse ele de um jeito super mal-educado, rude mesmo me olhando dentro dos olhos.

- E isso importa? - respondi ríspida, por que eu também sabia ser terrível. Para dizer a verdade eu nem conseguia saber e entender dentro de mim o porquê eu estava tentando bater boca com um cara que eu mal conhecia.

- Se eu perguntar é claro que importa... você é empregada? te deixaram participar da festa e você está super agradecida por estar no meio da alta sociedade? - continuou a chuva de impropérios, que homenzinho sem noção, toda a beleza dele acabou ali para mim. Imbecil e totalmente arrogante.

- Deixa eu adivinhar, você deve ser o filho cuzão de algum criminoso aqui dentro e cresceu achando que tudo gira em torno do seu umbigo... e que todo mundo tem medo de você por ser filho de algum cara importante nesse meio,  mas a realidade é que você nunca saiu do vídeo game e só viveu de recontar as histórias do papai! Acertei? Namora... talvez uma mulher muito feia que o seu pai obrigou por ter contatos demais e a vida para você é uma eterna tristeza!

Ele começou a rir, gargalhar da minha cara com um desdém que me deixou com tanta raiva que eu poderia socar o rosto dele.

- E você? uma menininha idiota e frágil que está à espera de um casamento que o papai vai arranjar? você quer me colocar na posição de ser patético, e você nem sabe quem eu sou... eu pensei que a função de uma mulher fosse ser agradável!

- Ah claro, todas nós vivemos para servir imbecis como você... olha eu nem sei por que estou perdendo tempo para falar com um idiota! Me dá licença, daqui a pouco o jantar vai ser servido...

- Ah agora tudo faz sentido... você terá que servir o jantar? Deixa eu adivinhar, você é uma empregada mas eles te tratam como da família? Isso explicaria bastante o vestido!

- Você é desprezível! – eu disse para ele.

Eu entrei atordoada com as palavras daquele homem, eu iria exigir que o meu pai o retirasse da festa, da forma que falou, só poderia ser um desclassificado sem noção.

- Onde você estava Isabella? - disse Beatrice assim que eu entrei novamente no salão

- Estava nos arbustos, acredita que tem um animal lá fora?

- Como assim um animal? - disse ela erguendo as sobrancelhas

- Sim, ele se veste feito gente, até fala nossa língua, mas se comporta como um animal! - eu disse ainda irritada, suando, essa foi uma reação natural do meu corpo que estava quente de tanto ódio que eu estava sentindo naquele momento.

- Esquece isso Bella, o jantar já vai ser servido... tem como alguma coisa não ser sobre você? - disse Beatrice me olhando nos olhos, doeu sabe? mas eu não disse nada, falar sobre o que aconteceu no jardim foi natural, eu não estava querendo tirar o brilho do dia dela.

- Desculpa... não foi intencional Bea, e o seu príncipe encantado? você já o encontrou? - eu disse tentando parecer interessada. Pelo menos salvar um pouco da minha dignidade depois da patada que levei da minha irmã.

- Não... ele não estava com os irmãos e os pais... espero ver ele agora na mesa do jantar com todo mundo reunido.

Eu pensei "Minha irmã por que dar importância para um cara que está claramente fugindo de você?" mas ao invés disso eu disse:

- Sim, vocês vão ter a chance de conversar... vamos então... o papai vai começar algum discurso constrangedor... - eu disse tentando manter o sorriso, mas eu não conseguia, eram muitas emoções para uma noite só, e eu estava tão irritada que o meu corpo estava doendo. Eu só esperava não ver aquele ANIMAL nunca mais, enquanto eu vivesse eu queria a arrogância e o sexismo daquele infeliz longe de mim.

Nos sentamos a mesa, e eu estava cega de ódio, tomei de uma vez o champanhe que me foi servido na taça e logo me serviram mais... tomei umas três ou quatro taças tentando relaxar e deixar para lá o que estava acontecendo.

E foi quando eu o vi.

Porra, eu vi aquele infeliz... ele estava sentado na ponta da mesa, me olhou e ergueu uma taça zombando da minha cara.

Meu pai começou então o discursinho

- Estamos hoje reunidos para comemorar um noivado, ninguém sabia sobre isso, mas a união Lion e Salvatore já é algo combinado e acertado entre mim e o nosso irmão! Uma felicidade sem tamanho...

Eu cutuquei a Beatrice - Olha lá Bea, aquele ali é o animal que eu falei para você...

E o meu pai continuou falando

- Vamos unir a minha filha Beatrice Leon e Matteo Salvatore... se levantem meus queridos!

- É aquele ali Beatrice... - ela não me deu atenção e se levantou como mandou o meu pai, e os meus olhos foram ficando um pouco mais turvos quando eu percebi que o animal se levantou junto com ela.

Aquilo só podia ser um engano, os meus olhos estavam me enganando... não era possível que uma desgraça dessa tenha acontecido bem ali diante dos meus olhos, como um avião caindo no meio de uma mata, como um acidente de carro muito feio! Porra, o meu coração se acelerou.

Ele permaneceu sorrindo para mim com uma cara de demônio, ergueu novamente a taça e Beatrice olhou para ele com os olhos brilhando, parecia tão encantada.

- É uma honra que essa união seja realizada, e vamos providenciar o mais rápido possível! - disse o meu pai, e enquanto todos aplaudiam eu não conseguia nem fechar a boca de tão chocada.

Quando acabou Beatrice se virou para mim e disse - E então Bella, o que era tão urgente? cadê o tal animal? - disse ela curiosa.

O que eu deveria responder a minha irmã? "Tenho novidades o animal é o seu futuro marido" "Você está prestes a se casar com o homem mais misógino, idiota e imbecil que o mundo já conheceu..." "Durma sempre com um dos olhos abertos por que ele seria capaz de te apunhalar"

Eu tinha tanto a dizer, mas nenhuma coragem.

- Deixa isso para lá... não é importante... - eu disse murchando um pouquinho, porra, eu não queria que ela se chateasse com a verdade.

- Tudo bem então, e me diz... o que você achou do Matteo? ele é lindo, não é? - ela disse parecendo animada

- Então Bea... eu... então eu nem prestei a atenção... você acredita? - eu disse tentando disfarçar

- Como assim ele está bem ali na ponta da mesa... é só você virar e olhar...

- Não Beatrice, eu estou bem! Se você está feliz é isso o que me importa... agora vamos jantar para eu poder ir me esconder no meu quarto e rezar bastante para essa noite passar.

- Nossa o tal animal te perturbou mesmo, você deveria contar ao papai quem é, assim ele não convida de novo ou toma alguma atitude...

- Eu acho que podemos deixar isso para lá... não foi assim tão grave que devemos contar ao papai. Você me conhece... eu sou exagerada, ele me disse algo que não gostei sobre casamento e eu já surtei.

- Você precisa parar com isso minha irmã, não se leva tão a sério... - ela sorriu

Nossa, como era enganada a minha irmã.

Eu senti vontade de vomitar em cima dela as verdades, e a realidade é que eu deveria mesmo ter feito isso, porque eu estava deixando ela se envolver com aquele bicho! Mas se eu contasse ela ia achar um jeito de me desacreditar, e o meu pai iria acabar comigo.

Então eu escolhi o que era mais inteligente de fazer naquele momento, ficar em silêncio total até aquilo tudo terminar.

Porque se eu ficasse calada eu poderia ter uma possibilidade de sobreviver aquela noite insalubre.

O jantar terminou, todo mundo comemorou e eu era a única que estava ansiosa para aquilo tudo acabar. Eu vi Matteo e Beatrice conversando, espero que ele seja com ela mais agradável do que foi comigo e pronto, todo o problema estava resolvido.

Eu só iria precisar evitar o meu próprio cunhado por pelo menos mais uns dez anos até o meu ódio por ele passar.

Eu o vi vindo em minha direção... eu saí andando em outra direção, torcendo para ele se tocar e se manter longe, mas e o medo de que alguém percebesse que havíamos feito um barraco no jardim pouco tempo antes?

- Você então é Isabella Lion! - ele disse um pouco mais alto para que eu não pudesse fugir

- E você é o Matteo Salvatore... bem conveniente...

- Você errou... não foi?

- Errei sobre o que? - ele me intrigou, eu odiava admitir que estava errada.

- Eu não sou um playboy que vive a sombra do pai, eu sou o Don em comando da minha família... acho que você não esperava por isso! Eu, no entanto, não errei ao me referir a você...

- Como você pode ser tão presunçoso e arrogante? - eu notei olhando nos olhos orgulhosos e verdes dele que eu não ganharia aquela discussão, e qualquer palavra seria perdida em meio a sala, por que ele não dava a mínima - quer saber? você não vale a explicação... se você acha que sou o que você disse... fique com sua versão dos fatos, bom, você nunca vai chegar a me conhecer mesmo.

- Eu vou me casar com sua irmã, então acho que vou acabar conhecendo você...

- Não, você vai conhecer a minha irmã. A mim você nunca vai conhecer... porque eu vou fazer questão de não ter nenhum tipo de contato com você! Vou sempre poupar você da minha companhia desagradável...

Eu ia sair andando, mas ele segurou o meu braço - Ei, você não vai me deixar falando sozinho... - um tipo de eletricidade me invadiu, e o invadiu também, nós olhamos de um jeito estranho e eu senti um frio percorrer o meu corpo... e quando chegou as minhas costas o frio se transformou em um calor intenso, esse momento levou apenas alguns segundos, mas a sensação que eu tinha era que a sensação da mão dele na minha pele seria eterna.

- Me solta Sr. Salvatore, eu vou me recolher.... - Ele demorou para me soltar, as pessoas já começaram a notar. Eu puxei o meu braço e tratei de subir as escadas correndo, precisava processar o que havia acontecido ali, por que nem eu mesma sabia.

Eu só sabia que eu sentia ódio.

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