Mundo de ficçãoIniciar sessão
Capítulos relacionados
17. A fuga
Ceyas— Não é normal cumprimentar o dono da casa quando o vê? — pergunto, notando que a mulher quase me fulmina com os olhos, como se preferisse arrancá-los a continuar me encarando. — Não se esqueça de quem fez com que estivesse em um ambiente não hostil.— Quer o quê? Deseja que eu lamba os seus pés? — replica, com a arrogância de sempre. — Obrigada, Ceyas, você foi um bom homem. Obrigada — repete, e o deboche escorre em cada palavra.— Pode odiar as pessoas que te machucaram, mas será que pode mesmo me odiar? — questiono, percebendo que ela talvez me ofereça mais do que uma simples reação.A forma como os vincos em sua testa se aprofundam, enquanto ela caminha até mim, com o corpo a centímetros do meu, me faz refletir sobre quais calos eu ainda não esmaguei.— Não tem ideia de quanto ódio eu carrego, poderia encapsular e vender — responde, mais uma vez com um deboche explícito. Será que é uma brincadeira para ela? — Sabe o que mais eu poderia vender?Como não respondo, ela ri sozinh
18. Poder de atração
CeyasO que diabos essa mulher está pensando em fazer quando sabe que tem tantas pessoas atrás dela? Devia parar de agir dessa forma, porque sabe que só pode dormir e descansar tranquilamente porque não estava em um ambiente hostil.Contudo, o que é essa fuga?No momento em que pedimos informações, não disse metade do que deveria saber. Nem precisa ser um gênio para poder chegar a essa conclusão. Essa mulher é maluca. Também é um monstro se consegue correr dessa maneira, independente de como estava há alguns dias.Seus rastros ficam cada vez mais longe, apesar do meu esforço.O que ela imagina que conseguirá ao sair dos limites do meu território? Não tenho rixa com nenhuma alcateia próxima, mas, no segundo em que perceberem que não é somente uma loba pedindo abrigo, a vida dela ficará em jogo.Vão tratá-la de um modo horrível. Pode até considerar que não recebeu o melhor dos tratamentos na minha casa, contudo, se ponderar sobre o que terá que enfrentar, perceberá que foi um serviço cin
19. Como comprar tempo?
CeyasSem muito o que possa fazer, passo a tentar impedir os sangramentos maiores depois de dispor as três pessoas uma ao lado da outra, deitadas e rentes. Com pedaços de suas roupas, enfaixei as feridas que pude e pressionei outras, aguardando pelo estancamento. Contudo, para algumas, essa estratégia não dará certo.Foram feitas feridas muito grandes e profundas. O sangue escorre e me sinto impotente. Olho para as feridas dos lobos com pesar e cada um dos seus batimentos são um lembrete cruel de que minhas ações não são suficientes.Com a perda de sangue, é claro que eles não poderão se curar como de costume. Apesar de não parecer, também há um limite para nós. Preciso de algo que os auxilie. Eles estão tão próximos da morte e tudo que consigo fazer é apertar pedaços de pano em suas feridas.Não sou um médico, não sou um salvador, mas eles confiaram em mim me escolhendo como o seu alfa, no entanto, aqui estou eu, falhando com eles.Se eu tivesse begônia de sangue... Contudo, quem anda
20. O que houve?
CeyasApós perceber que eu não acreditei em suas palavras, Lugi fez questão de me explicar o que houve, dizendo que recebeu um aviso de que um dos nossos lobos não havia respondido ao seu chamado, então foi até lá verificar o que poderia ter ocorrido.Ao chegar até onde estávamos, encontrou todos nós apagados, incluindo Neamir.Como não havia ninguém por perto, priorizaram levar os lobos até um médico que pudesse garantir o seu estado de saúde, da mesma forma que fizeram comigo e com Neamir; contudo, concluiu-se que nós apenas dormimos.— Os ferimentos deles não eram graves a ponto de morrer — pontua Lugi novamente. — A única cova que cavamos foi para aquele cara sem coração. Era um bruxo. Foi o que Kanoi disse.Minha mente está confusa demais, e isso me impede de avaliar todos os detalhes como eu deveria. O que caralho aconteceu? Tenho certeza do que vi; não tem como eu me enganar em uma situação como aquela.Além disso, eles devem se lembrar do quanto foram feridos.— Lugi, tem algo
21. Palavras vazias
Neamir— Fez o que eu pedi? — pergunto a Lewyn, e ele balança a cabeça concordando. Parece muito obediente em momentos como este, o que eu agradeço. É muito mais fácil se ele me escutar; assim, nós dois podemos sair desse problema vivos. — Não precisa se preocupar, eles nunca vão saber.— Não é essa a minha preocupação — declara meu irmão.É realmente diferente vê-lo nesse momento, sem ser aquela criancinha que me perseguia para onde quer que eu fosse. Era bom vê-lo se divertir com as coisas mínimas, mas agora tudo foi arrancado dele, e ele não sabe lidar com nada do que fica em seu caminho.Aqueles sorrisos que costumava dar, mesmo nos dias em que apenas arranjar um lugar para dormir era difícil para nós, se foram, engolidos pelos olhares frios e duros que deixam o estado do seu coração à vista.— Voltei segura, como disse que faria — lembro a ele. Contudo, palavras são apenas palavras se, no final das contas, o que foi dito não servir para nada. Assim como promessas que se tornam vaz
22. Conversa agradável?
Ceyas— Não parece que deseja ter uma conversa agradável — comenta Neamir, sentando-se na cadeira devagar, colocando uma mão sobre a sua barriga e deslizando-a lentamente por toda a extensão dela. — O que quer de mim?— O que aconteceu naquele dia? — pergunto diretamente, porque sei que não estou louco, embora os fatos apontem que eu esteja, pelo menos um pouco. Ainda que não possa explicar o que essa mulher é, a mantenho embaixo do meu teto.Como se toda essa dúvida não fosse suficiente, ela ainda colocou um monte delas sobre mim após aquele acontecimento. Fico grato por não ter perdido ninguém, mas não há explicação para o que ocorreu.Um estado crítico como aquele não é simplesmente revertido sem consequências para quem ajudou os lobos. Contudo, ela parece muito bem. Não estar sendo torturada tem feito bem a Neamir.— Não tenho certeza se sei sobre o que fala — articula, e por mais que as suas palavras soem comuns, eu sei que são mentiras. Se acha que pode me fazer acreditar que est
23. Desafio lançado
NeamirO que esse homem está fazendo agora? Ele nem sabe de nada e age como se tivesse algum direito de me obrigar a ficar onde quer. Se eu não estivesse tão perto de ter o bebê, já teria ido embora; há muitas pessoas me esperando, sem saber o que aconteceu comigo.No entanto, neste momento, aqui é o local mais seguro para ter o bebê.— Por algum motivo, você está caçando a sua morte? — pergunto, controlando minha sombra para que ela não o ataque.Ela tem um humor muito desequilibrado: pode amar alguém, como aconteceu com Lewyn, ou simplesmente asfixiar qualquer um que desgoste. No início, é tão difícil garantir que me escute que a sombra mata qualquer um que chega perto de mim.Ele está vivo, apesar de me segurar pela segunda vez, graças ao meu esforço em fazê-la entender que nem todo mundo deve ser eliminado antes que algumas perguntas sejam feitas.— Quem disse que terminamos de conversar? — ele inquere, com seus olhos escuros, me atingindo de maneiras que odeio. Eu tenho evitado qu
24. Melhor maneira de lidar com um problema
NeamirUso o meu tempo antes do parto para organizar tudo o que preciso, para garantir que o bebê nasça sem problemas. Contudo, não consigo lidar com os olhares constantes de Ceyas sobre mim.Faz cinco dias desde a última vez que ele tentou tirar informações de mim, e é bem claro que mudou seu modo de agir, como se quisesse ter certeza de que sei que está me olhando a todo instante. Porém, desde que acordei aqui, tenho conhecimento de que há olhos me seguindo.Não preciso que ele apareça a cada segundo para saber que não tirará os olhos de mim. Essa constância persistente dele arruína o meu juízo.— Quê? — pergunto, já que até o sorvete parece prestes a amargar devido ao olhar dele em cima de mim. Preciso focar nas minhas prioridades, mas a atitude de Ceyas as coloca constantemente em segundo plano.— Não tem comido muitas coisas doces? — questiona, se sentando ao meu lado no sofá, e porra, é realmente irritante não poder chutar o dono da casa.O que ele quer de novo? Um agradecimento?
Último capítulo