Karl Pov
Observo dentro do carro Melanie se transformar, sua pele estremecendo, os ossos se moldando, os olhos perdendo o brilho humano. O grito abafado de dor que escapa de seus lábios me faz sorrir. Ela está fazendo exatamente o que eu queria. E é quase poético.
A garota corre floresta adentro, desesperada, envolta na própria urgência, sem ideia de que está sendo manipulada desde o primeiro segundo. A satisfação que sinto se espalha quente no meu peito, uma brasa que cresce até incendiar meus pensamentos de pura euforia. Ela caiu. Caiu tão fácil que chega a ser patético.
Meus dedos deslizam pelo amuleto pendurado no meu pescoço. Comprei esse amuleto de um dos feiticeiros mais temidos do reino vizinh
Ryan PovÉ muito difícil me manter consciente em noites de lua cheia. A cada ciclo, essa batalha se repete, cruel e implacável. A fera que surge não apenas divide espaço comigo e com Logan — ela nos engole, nos consome, nos empurra para os cantos mais escuros da mente, onde somos meros espectadores do caos que ela deseja causar. Tenho apenas lampejos, flashes desconexos e sombrios do que acontece ao nosso redor durante a maldição.Só que então… um cheiro novo. Um cheiro que corta o ar como uma lâmina e invade violentamente nossas narinas. Um cheiro que não pertence à floresta. Não pertence ao cardápio habitual da fera. É o cheiro de outro lobo. Algo dentro de mim se remexe, desperta com força. Isso me arranca da letargi
Melanie PovFaith se levanta em estado de alerta, mesmo nós duas estando exausta. A adrenalina ainda pulsa em nossas veias como um veneno necessário, mantendo-nos de pé, mesmo quando o corpo suplica por descanso. O sol já ilumina o céu, nas primeiras horas da manhã.Ouvimos sons de passos em nossa direção e Faith fareja o ar, buscando saber quem é.“Ryan!” Ela suspira o nome do rei alfa com um alívio em minha mente.Ele é a única coisa familiar e, de certo modo, segura em meio ao caos da noite anterior. A única âncora à qual consigo me agarrar, mesmo que essa âncora esteja envolta em instabilidade e fúria primal. Ficamos a noite i
Melanie PovO escritório do meu pai está carregado de tensão. A reunião está progredindo aos poucos e, mesmo assim, é difícil de dialogar sem demonstrar meu nojo em relação à Bea.“Narumi, você tem provas sobre essas acusações em relação à minha filha mais nova?” Tyler questiona frio. Sua voz, sempre firme, agora traz uma rigidez que denuncia sua própria angústia. Mesmo que ele tente esconder, eu o conheço bem demais para não perceber.Narumi engole em seco. O som é baixo, mas audível para mim. Seus olhos recaem para mim, pedindo direção, buscando força. Ela está nervosa, e sua postura diz tudo &mdash
Melanie PovO salão principal está ficando cada vez mais cheio. O ar está carregado de tensão, como se a atmosfera inteira soubesse que hoje será um divisor de águas. Os membros da alcateia se acomodam lentamente, mas é impossível não perceber os olhares inquietos, os cochichos abafados, o burburinho contido que tenta desesperadamente não explodir em um caos de julgamentos precipitados. Muitos membros da alcateia apareceram para testemunhar o julgamento da Bea.Meu coração está acelerado. Não, não apenas acelerado… ele está correndo, galopando desgovernado dentro do meu peito, como se tentasse me alertar de que algo pode dar errado, mesmo agora, mesmo com as provas. Tento me manter firme, mas a ansiedade me domina por comple
Melanie Pov“Expulsão!” Um membro da alcateia grita com uma fúria que vibra pelo salão como um trovão. Logo em seguida, uma onda de vozes o acompanha, um coro de julgamento que se levanta como uma maré de condenação, impiedosa e barulhenta.Bea encolhe ainda mais, quase se dobrando sobre si mesma como se quisesse desaparecer, como se estivesse envergonhada, assustada, encurralada. Sua postura já era acanhada antes, mas agora ela parece uma sombra de si mesma, um espectro de derrota.E ver isso… ver a queda de alguém que já tentou destruir tudo que amo… isso me causa um prazer sórdido, um arrepio doce que percorre minha espinha. Um sentimento que não me orgulho de sentir, mas que, ainda assim, s
Melanie Pov Narumi e eu ficamos horas vendo as filmagens de Karl e Bea. Por sorte — ou talvez destino — o pai de Narumi, o antigo alfa Phill, havia instalado câmeras com áudio em locais estratégicos, algo que agora se prova mais valioso do que qualquer tesouro.A maioria das gravações não possui nada de interessante. Pelo menos, nada que nos ajude. Somente imagens cruas, desconfortáveis, de Bea e Karl se entregando um ao outro de forma animalesca, crua e sem pudor. As cenas são íntimas demais, vulgares, e causam uma mistura de nojo e desconforto que nos faz apertar o botão de avanço com mais força do que o necessário. Cada vez que os corpos deles se enroscam, algo dentro de mim se contorce. Não por ciúmes, mas por repulsa, por saber do que aqueles dois são capazes quando não estão entre lençóis. Sempre pulamos essas partes.As conversas que se seguem, na maioria das vezes, são inúteis. Risos, carícias, planos de encontros… mas tudo superficial. Até que, como se o universo nos desse um
Melanie Pov “Papai, o que o senhor sabe sobre maldições?” questiono para Tyler enquanto tomamos café da manhã juntos.Minha mãe e meu pai estão os últimos dias quietos por causa da prisão de Bea. Tento ter empatia por suas emoções, só que não consigo sentir a tristeza que eles querem que eu sinta. As provas contra ela são claras. Mesmo depois que mostrei a gravação dela com Karl, admitindo a vingança e o envenenamento, meus pais ainda se sentem tristes com a ida de Bea.Papai franze o cenho para mim, pensativo com o que perguntei.“Hum… quase nada, Melanie,” ele responde sério e frio, distante até.Será que ele está bravo comigo pelo o que aconteceu com Bea? Não seria justo isso. Ela que é a psicopata que tentou matá-los!“Fique calma, eles estão processando tudo o que aconteceu. Eles perderam uma filha, de certa maneira.” Faith aconselha em minha mente, sua voz me trazendo um pouco mais de conforto.Respiro fundo para me acalmar.“Isso é mais coisa de feiticeiros, minha lobinha,” ma
Melanie Pov “Bem, ainda estamos perto do horário do almoço do que do jantar,” comento pensativa, olhando para o relógio de pulso, mas sem realmente prestar atenção nas horas.Ryan apenas sorri para mim, com aquele sorriso calmo e sereno que parece esconder um universo de intenções não ditas. Ele confirma com a cabeça, como se minha observação tivesse sido esperada.“É, mas acho que você precisa de um divertimento agora,” ele responde com uma leveza que contrasta completamente com o peso que sinto nos ombros. E então ele se levanta com uma agilidade elegante, sem perder a postura nem por um segundo.Ele caminha em minha direção e, para minha total surpresa, estende a mão para mim. É um gesto simples, mas que carrega uma aura antiga, quase romântica. Um gesto que não espero. Um gesto que me desmonta por dentro. Fico parada por alguns segundos, apenas observando sua mão aberta, como se estivesse pesando os riscos de aceitá-la. Quando finalmente toco seus dedos, um choque elétrico suave p