Depois das palavras de amor trocadas, do abraço que os sustentou, Fellipo sentou-se novamente. Mas seus olhos não voltaram à calma. Não ainda.
Havia algo ali, preso entre o passado e o presente, como um espinho fincado na alma. Ele respirou fundo, e então, sem que ela perguntasse, ele começou. Sua voz era baixa, quase trêmula.
— “Eu tinha uns oito anos... talvez nove. Era noite. A gente tava jantando, eu, minha mãe e ele. Tudo parecia normal até ela rir de alguma piada minha. Ele não gostava disso... que ela me ouvisse mais do que a ele.”
Fellipo passou as mãos pelo rosto.
— “Ele levantou da cadeira sem dizer nada. E no segundo seguinte, só ouvi o som do tapa. E depois outro. E mais um. Ela tentou correr pro banheiro, mas ele foi atrás.”
Cecília apertou os dedos nos dele. O coração doía só de ouvir. Mas Fellipo precisava falar.
— “Ele gritava que ela era ridícula, que estava gorda, que era inútil. E pra piorar, antes de sair, ele fez questão de dizer pra ela que ia pro bordel. Que era