A chuva caia suave do lado de fora, tamborilando no telhado da cabana como uma canção antiga, daquelas que embalam os pensamentos mais profundos. Lá dentro, o mundo era pequeno e quente, um universo feito de peles, suspiros e lençois amassados.
Helena estava aninhada contra o peito de Tristan, a cabeça encostada logo abaixo de seu queixo. Seus dedos brincavam distraidamente com uma das cicatrizes antigas em seu ombro, como se quisesse desenhá-la, entendê-la, curá-la com o toque.
— Essa daqui... — ela murmurou, passando o dedo com delicadeza. — Como foi?
Tristan soltou um suspiro leve, não de dor, mas de lembrança.
— Uma lança. Estava protegendo um menino. Ele chorava tanto
O céu estava claro, com nuvens leves que pareciam algodão derretido. O caminho até o lago era longo, mas nenhum dos dois parecia se importar com o tempo — andavam de mãos dadas, rindo das histórias que contavam um ao outro, como se fossem dois jovens sem passado, apenas com um presente vasto pela frente.Helena havia preparado um pequeno cesto de piquenique com pão fresco, queijo de cabra, frutas e um vinho suave. Tristan o carregava no ombro com facilidade, o outro braço firme ao redor da cintura dela, como se aquele gesto já tivesse se tornado natural — quase involuntário.Quando chegaram ao lago escondido entre as árvores, Helena parou por um instante e olhou a paisagem. A água cintilava com a luz do sol e o silêncio era profundo, interrompido apenas pelos pá
A tarde caía devagar quando voltaram à cabana. Lá fora, o céu se tingia de tons rosados, e o cheiro da terra molhada do lago ainda impregnava as roupas e a pele deles.Dentro da casa, o ambiente era acolhedor e familiar — as ervas penduradas, os livros empilhados, os objetos espalhados de forma caótica, mas viva. Helena se sentou perto da janela com sua cesta de costura, puxando uma túnica que estava desfiada na bainha. Tristan ficou à mesa, afiando sua espada com movimentos calmos e ritmados, o som do aço raspando preenchendo os silêncios entre eles.— Sabe... — Helena falou, sem levantar os olhos da agulha — às vezes eu penso se caberíamos mais aqui dentro.Tristan olhou para ela, curioso.
A noite caía devagar, e a cabana estava iluminada apenas pela luz morna das velas e da lareira. Helena costurava um pequeno pano de prato com bordados de flores tortas — era mais um passatempo do que necessidade. Tristan, por outro lado, estava inquieto, andando de um lado para o outro como quem preparava uma emboscada.De repente, ele foi até um cantinho onde guardava uma velha flauta de madeira — desafinada, mas ainda capaz de arrancar uma melodia rústica. Quando Helena ergueu os olhos, ele já tinha dado o primeiro sopro, desafinado o suficiente pra fazê-la rir.— O que você está fazendo? — perguntou, cobrindo a boca com a mão, divertida.Ele largou a flauta num gesto teatral.— N&atild
O sol filtrava-se por entre as árvores altas da floresta, lançando sombras dançantes sobre o chão coberto de folhas secas. O ar estava fresco, com aquele cheiro de madeira úmida e terra viva. Helena caminhava ao lado de Tristan, o arco pendurado nas costas, os olhos curiosos atentos a tudo ao redor.— Você está certa de que quer fazer isso? — ele perguntou, com aquele meio sorriso provocador. — Não é como preparar unguento, minha bruxinha.Ela lançou um olhar de canto, desafiadora.— E você acha que eu sou frágil demais pra puxar uma cordinha?— Eu só não queria ferir o orgulho de alguém que mal consegue matar uma aranha sem fazer um esc&ac
O sol já começava a se deitar atrás das colinas quando Tristan apareceu no alto da trilha, com um sorriso de menino e um buquê de flores silvestres nas mãos. Os cabelos desgrenhados pela brisa, a camisa aberta no peito e as botas sujas de barro denunciavam a trilha que havia cruzado, só para agradar Helena.Ela o viu pela janela da cozinha e apoiou o queixo nas mãos, sorrindo como quem assiste ao retorno de um sonho bom.— Trouxe um pedaço do campo pra você — ele disse ao entrar, erguendo as flores como um troféu.Helena enxugou as mãos no avental e foi até ele.— Achou que eu ia desmaiar com um buquê de ervas e margaridas? — provocou, pegando as flores com car
Tristan a empurrou devagar até o quarto, os corpos colados, os beijos cada vez mais famintos. As mãos dele agarravam sua cintura como se o mundo estivesse desmoronando ao redor e ela fosse a única âncora.— Eu tô morrendo de desejo por você — ele murmurou contra seus lábios, a voz rouca, carregada de fome e sentimento. — Você não faz ideia do que me causa, bruxa…Helena riu contra a boca dele, o som abafado e cúmplice. O riso logo virou suspiro quando ele a ergueu nos braços e a jogou sobre a cama com um cuidado bruto, como quem segura algo precioso demais pra deixar cair, mas urgente demais para esperar.Ela o puxou pela camisa, rasgando o tecido com uma pressa que ele adorou. Ele retribuiu, livrando-a das roupas em se
A manhã começou estranhamente silenciosa, como se o próprio ar hesitasse em se mover. A névoa ainda pairava sobre o campo quando o som de cascos se aproximando rompeu a paz que havia envolvido a cabana por tantos dias. Helena estava no jardim, colhendo algumas ervas para os unguentos, quando ouviu o trotar apressado e ergueu os olhos. Tristan, que cortava lenha mais adiante, imediatamente largou o machado ao ver o cavaleiro surgindo pela trilha.O homem desmontou rapidamente, a armadura marcada pelo tempo e pela urgência. Não era um mensageiro qualquer — trazia nas mãos um pergaminho com o selo vermelho da coroa. Tristan o reconheceu de imediato.— Sir Tristan? — o homem perguntou, ofegante.— Sou eu. A solidão naquela manhã parecia mais cortante do que nunca. O silêncio da cabana, antes acolhedor, agora soava estranho — como se a ausência de Tristan tivesse deixado um vazio impossível de preencher.Helena varria o chão com movimentos automáticos, os olhos perdidos, o pensamento longe. Tentava se distrair, se ocupar, mas tudo parecia mais demorado, mais silencioso... mais errado. O vento balançava as folhas lá fora, e cada estalo entre os galhos fazia seu corpo enrijecer.Ao longo da tarde, ela tentou preparar um novo unguento, mexendo com raízes secas e flores secadas ao sol, mas suas mãos tremiam demais para manter a concentração. Derrubou um frasco, depois outro. Xingou baixo, irritada consigo mesma, e respirou fundo, apoiando-se na mesa. Estava nervosa sem moti 14.2