Capítulo 4
Alguns dias depois, meu espírito foi obrigado a seguir o de Damon, espectadora impotente enquanto ele carregava Chloe para dentro de seu domínio privado de Alfa.

Era um espaço sagrado que nem eu, sua parceira predestinada, jamais havia sido permitida a entrar.

Os arranhões no rosto de Chloe haviam cicatrizado completamente, sem deixar sequer uma cicatriz.

Ela se encostou delicadamente no peito de Damon, a voz melosamente doce.

— Damon, ainda estou um pouco assustada. E se aqueles Rogues voltarem?

— Não tenha medo. Eu vou te proteger. — Disse Damon, acariciando seus cabelos. — A partir de agora, você vai morar no meu domínio. É o lugar mais seguro.

Meu espírito tremia por perto, sem poder emitir som algum.

Aquele deveria ser o meu lugar.

Mais tarde naquela noite, um sentimento inquietante corroeu Damon.

O vínculo de companheiros, que deveria vibrar com a raiva ou o desespero de Elena, estava estranhamente silencioso. Era um vazio, um nada frio que ele nunca antes sentira.

Um instinto, antigo e primal, disse-lhe para voltar à floresta, ao local onde ela havia caído.

Ele precisava ver por si mesmo.

Mas, assim que a mão tocou a maçaneta, a porta se abriu.

Chloe estava ali, pálida e tremendo, envolta apenas num robe de seda.

— Damon! — Ela gritou, tropeçando em seus braços. — Tive um pesadelo! Os Rogues... eles voltaram! Estavam me despedaçando... exatamente como fizeram com a Elena...

Seu terror fingido era perfeito.

Ela agarrou-o, o corpo tremendo, o cheiro dela uma mistura de medo e necessidade desesperada feita para disparar seus instintos protetores mais primitivos.

A determinação de Damon de me encontrar evaporou no instante, substituída pela necessidade imediata de acalmar a loba a seus braços.

Ele a ergueu, a voz amansando. — Shh, minha querida. Foi apenas um sonho. Eu estou aqui. Não deixarei ninguém te ferir.

No outro dia, Leo até preparou pessoalmente o melhor sangue de cervo para ela, com medo de que a natureza de loba dela pudesse estar minimamente comprometida.

Enquanto patrulhava o território, os feromônios de Alfa de Damon estavam pesados de raiva violenta. — Aquela inútil da Elena causou tantos problemas para a alcateia! Ela foi uma maldição como parceira!

A aura de Beta de Leo era igualmente assassina. — Eu te disse. Manter um lixo como ela por perto só traria problemas. Ela não é digna do sangue Lua Negra.

— Ela tem sido um fardo desde criança. — Continuou Damon. — Lembra da primeira transformação dela? Quase aos vinte anos ela mal conseguiu despertar a loba. Um completo desgosto para a família.

Leo riu. — Naquela época, eu achei que ela era sem-lobo! A loba que ela finalmente conseguiu era tão pequena e esmirrada, foi patético.

Ao ouvir isso, memórias ensanguentadas rasgaram minha consciência como feras selvagens.

Desde criança eu ficava para trás.

O despertar da minha loba só aconteceu três anos depois dos outros filhotes.

Quando crianças da minha idade já trocavam de forma com facilidade, eu ainda era apenas uma humana comum.

Os anciãos da alcateia balançavam a cabeça e suspiravam. — O sangue de lobo desta criança é muito ralo. Receio que ela nunca venha a se tornar uma verdadeira loba.

Mesmo assim, Damon elogiava Chloe diante de todos. — Olhem nossa princesinha. Uma transformação perfeita aos quinze, e seus feromônios são puros como a luz do luar.

Eu só podia me esconder num canto, suportando o ridículo e a exclusão dos outros filhotes.

Os dias no campo de treinamento eram ainda mais brutais.

Como Beta, Leo era responsável por treinar os jovens lobisomens.

Ele sempre me emparelhava deliberadamente com os oponentes mais fortes, observando enquanto eu era chutada para o chão repetidas vezes.

— Elena, você nem consegue estender as garras. Ainda quer ser Luna?

— Com um sangue inferior como o seu, ser expulsa da alcateia é o mais natural!

Os outros da minha idade sempre formavam um círculo, rindo de mim no centro.

Eu tentava concentrar-me desesperadamente, despertar a loba dentro de mim, mas não sentia nada.

— Ela é defeituosa?

— Por que um humano sem lobo estaria na nossa alcateia?

— A família da Luna produziu tal fracasso. Que vergonha!

E sempre que eu saía machucada e roxa, Chloe aparecia para "interceder" por mim, com ar pensativo.

— Irmão Leo, não seja tão duro com minha irmã. Ela já está se esforçando ao máximo.

Essa falsa preocupação só fazia com que todos a vissem como ainda mais bondosa.

E eu me tornava a inútil que precisava ser "vigiada".
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