“Toda pincelada que sobrevive ao caos torna-se traço de força — é na desordem que o artista encontra a própria essência.”
Pedro observava de longe, à sombra de uma amendoeira.
Usava um boné surrado e óculos escuros que o deixavam com o ar de mais um frequentador qualquer do parque. O celular vibrava discretamente em sua mão — ele já o segurava antes mesmo da tela acender.
Santiago: “Está tudo bem?”
A mesma mensagem, pela terceira vez.
Pedro respirou fundo antes de digitar.
Pedro: “Acho que ela foi reconhecida. Ainda não tenho certeza, mas alguns começaram a filmar.”
Segundos depois, a resposta.
Santiago: “Estão se aproximando?”
Estreitou os olhos, observando a distância.
Pedro: “Ainda não. Mas o movimento está aumentando. Estou de olho.”
Ela, alheia a tudo, atirava pedrinhas no lago, rindo de Mabe que parecia tentada a pular na água para pegá-las. A cena era serena demais — e justamente por isso, perigosa.
Pedro respirou fundo.
O som do vento nas árvores abafava o murmúrio da multidão