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Prólogo - Segunda parte

Abby

Catorze anos. Ele não deveria ter tal responsabilidade sobre os seus ombros, mas é preciso.

— Quero que vocês estudem, Lucke. Estou fazendo isso por vocês. Então, faça com que todos tenham um lindo futuro.

— Está bem.

— E quero que cuide da nossa mãe e do nosso pai, também. — Ele faz um sim com a cabeça.

— Já chega, precisamos ir! — Vitório solta um rosnado assustador, usando um tom firme na voz e os poucos segundos que me restaram, os abracei coletivamente, do jeito que pude.

Dentro de um carro espaçoso e luxuoso, me concentro em olhar pela janela, enquanto lágrimas quentes molham o meu rosto. Contudo, seguro alguns soluços, porque não quero mostrar-lhe a minha vulnerabilidade.

O meu futuro é incerto ao lado do Senhor Vittorio Leone.

Tudo o que sei sobre esse homem é que a sua crueldade não tem limites. Um mafioso capaz de fazer qualquer coisa para manter seu reinado e poderio intacto. E isso inclui destruir todos que se atreverem entrar no seu caminho. Desperto dos meus pensamentos perturbadores quando sinto o toque quente da sua mão pesada sobre a minha. Puxo uma respiração profunda para engolir o meu choro silencioso.

— Você precisa saber de algumas coisas sobre mim, Abby. Além de você, tenho mais duas esposas. — Vittorio diz com um tom seco e não menos rude. Em silêncio, seco as minhas lágrimas, mas continuo com o meu olhar fixo na janela do carro. — Não se preocupe, você jamais será tratada como a minha amante porque é muito especial para mim.

Engulo em seco. Engulo o meu choro.

— Contudo, quero que saiba que jamais a usarei para me dar herdeiros. Eu já tenho dois. E isso já me basta.

Sinto o toque dos seus dedos debaixo do meu queixo e no ato, Vittorio me faz olhar dentro dos seus olhos. O seu polegar captura uma lágrima desgarrada.

— Não me olhe como se você fosse uma coelhinha assustada, Abby— sussurra áspero. — Você não faz ideia do quanto a amo. De que eu te amei no momento que te vi no meio daquela feira agitada. Tão perdida. Tão sofrida. Precisando dos meus cuidados. Deus sabe que a desejei com todo o meu ser. Que eu te quis para mim. E é por isso que você está aqui comigo agora.

Meu coração dispara feito um louco quando Vittorio aproxima do seu rosto do meu.

— Você mexeu comigo de um jeito que eu não sei explicar, Coelhinha. — Volta a sussurrar. E logo o seu hálito quente b**e contra a minha pele, fazendo-me arrepiar inteira. — É incontrolável. É absurdo. E me faz queimar por dentro, linda mia

Seguro um soluço.

— Ah, Abby, não fique assim. Entenda que você nasceu para mim. E eu prometo que nunca irei dividi-la com mais ninguém. Nem mesmo com um filho.

E na sequência, é como se recebesse o beijo da própria morte direto nos meus lábios. E quando ele se afasta, e tira a sua mão de cima da minha, sinto que estou algemada para sempre a sua vida obscura.

… Acredite, Abby, você será tratada como uma rainha naquela casa luxuosa. E terá todo o conforto que precisar para o resto de sua vida.

Mamãe não estava errada. Penso quando o veículo para em frente a uma mansão extremamente luxuosa, cercada por um imenso jardim verdejante e com poucas flores, além de algumas árvores. Do lado de fora, observo os seus muros altos, ladeados por cercas elétricas. E dentro deles tem homens armados e espalhados por todos os lados.

Uma prisão. Penso consternada, pois não há como escapar desse lugar mesmo que eu quisesse.

Logo sinto o seu toque firme na base da minha coluna e sou imediatamente guiada para dentro do casarão, onde alguns empregados usando uniformes já nos aguardam enfileirados, além de duas mulheres bem-vestidas.

Um rei.

É exatamente assim que eles o olham à espera de suas ordens. E inevitavelmente os meus olhos percorrem por cada parte da sala de estar. Um cômodo amplo demais, bem iluminado e decorado com um requinte exorbitante.

— Quero que vocês conheçam a Abby Niccolo. — Vittorio diz, atraindo a minha atenção para as pessoas em pé na nossa frente. — Em poucos dias ela se tornará a minha nova esposa.

Percebo os olhares altivos das mulheres caírem sobre mim.

— Vocês já sabem como isso funciona, certo? Ava, eu quero que a leve para o seu quarto agora. Quero que lhe dê um banho, que vista algo apropriado e digno da esposa do Senhor dessa casa. E depois, dê-lhe algo para comer. Enfim, a noite eu a quero no meu escritório para uma cerimônia rápida e formal.

Abaixo a minha cabeça para essa última parte. E sequer consigo engolir o nó que está em minha garganta. Penso que as algemas que puseram nos meus pulsos logo ficarão ainda mais apertadas.

— Sim, Senhor Leone! Venha comigo, Abby. — A garota pede, levando-me na direção de uma escadaria. Contudo, Vittorio continua a dar as suas ordens.

— Vocês já me conhecem e já sabem como eu sou. Portanto, quero que ensine para Abby tudo que uma esposa submissa precisa saber.

— Certo, marido! — Escuto as mulheres dizerem sem contestá-lo, mantendo seus olhares abaixados.

Do topo da escadaria, dou uma olhada de lado no exato momento que duas crianças adentram a sala e correm para os braços do mafioso. Diferente de como falara com seus empregados e esposas, Vittorio age com carinho com elas, dando-lhes beijos e até a sua voz abranda um pouco.

Pelo menos ele tem um lado humano. Penso antes de adentrar um quarto no final de um corredor comprido.

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