8 - Finja como eu Fingi

A residência dos Park ficava em uma colina. A mansão era maravilhosa, mas o fato de ela ficar à beira de um precipício, onde só se podia ver o mar, era um pouco melancólico. Quando chegamos, já havia diversos carros estacionados lá, e tivemos que esperar um pouco para que pudéssemos sair, já que a imprensa estava aqui, então alguns seguranças tiveram que nos escoltar. 

Um dos seguranças pegou minha mão para me ajudar a sair do carro e eu senti uma eletricidade percorrer todo o meu corpo, me causando um arrepio. Quando ficamos cara a cara, eu encarei diretamente seus olhos castanhos que eram levemente esverdeados, meu corpo estremeceu. Seu olhar era tão intenso que parecia que tudo ao redor tinha perdido o foco e ficado em câmera lenta. 

Um repórter quase caiu em cima de mim sem querer e ele me prometeu, me puxando para si enquanto colocava um de seus braços sobre o meu ombro, me levando para dentro enquanto outros seguranças ajudaram Jayden, minha mãe e Margareth a saírem do carro. Assim que me alcançaram, Jayden se aproximou, perguntando se eu estava bem e eu apenas concordei que sim, enquanto via aquele segurança se afastar, percebendo que ele tinha um anjo tatuado na nuca. Ele tinha cabelos negros e, apesar de estar raspado dos lados, em cima ele parecia um pouco comprido. Fiquei olhando para ele até que ele desapareceu, Jayden me puxou e posamos para algumas fotos.

Quando entramos, percebi que a decoração estava toda em lilás, apesar de minha mãe saber que eu odiava essa cor. Ela que tinha escolhido tudo conforme as tendências, como ela mesma tinha dito, e agora eu estava odiando tudo. Os pais de Jayden me receberam com muita empolgação e, depois de ser apresentada para centenas de pessoas com nomes que nem se eu me esforçasse muito eu lembraria, comecei a beber algumas taças do vinho que estava sendo servido na tentativa de relaxar. Eu via alguns garçons e diversos seguranças andando para lá e para cá, mas não vi aquele que me ajudou lá fora.

Jayden pareceu perceber que eu estava procurando alguém e quando ele me perguntou eu apenas neguei. Eu continuei bebendo tudo que me ofereciam e estava um pouco mais alegre agora. Na verdade, eu não sabia se estava alegre ou anestesiada, mas agora as conversas vazias de toda essa gente não me incomodavam mais. Jayden não tirava as mãos de mim e, apesar de eu estar em um ambiente enorme e cheio de pessoas, eu me sentia como se estivesse presa dentro de uma caixa.

Eu sabia que estava à beira de uma crise daquelas que me tira todo o ar e me faz pensar que eu vou morrer, mas não tinha nem mesmo como correr. Apesar de aparentemente eu estar perfeita, por dentro eu estava gritando, rasgando esse vestido apertado, quebrando esses saltos que estavam machucando meus pés, desfazendo todo esse penteado e implorando por ajuda. Eu só percebi que não estava tão bem assim quando minha mãe se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido.

"Pelo amor de Deus, Lily, desfaz essa cara de enterro! As pessoas estão começando a perceber."

Eu me apressei em tentar sorrir e logo um dos senhores mais velhos que me apresentaram mais cedo mas que eu não lembrava o nome estava me encarando como se esperasse uma resposta e eu fiquei confusa.

"E então?" perguntou ele, expectante.

"Perdão, Senhor, acho que não escutei o que o Senhor disse." Me desculpei, encarando o homem de cabelos grisalhos à minha frente.

"Eu perguntei quando vocês planejam ter filhos? Desde pequeno o Jaewon sempre disse que queria ter uma família bem grande." Ele respondeu, curioso.

Todos na mesa riram e Jayden concordou. "É verdade, eu realmente quero ter muitos filhos, pois sei como ser filho único é chato." Jayden explicou, o rosto corando.

"Viu só! E então, será que já podemos esperar um Park para o próximo ano?" O homem insistiu.

Todos ficaram em silêncio esperando a minha resposta e eu só sentia vontade de gritar para todos que a última coisa que eu queria era um filho. Eu já estava infeliz o suficiente, não traria uma criança para a minha tristeza. Todos ainda esperavam uma resposta que eu era incapaz de dar, então eu apenas pedi licença e saí dali, deixando todos confusos enquanto cochichavam.

Caminhei pela casa sem nem ao menos saber para onde estava indo até que encontrei um banheiro e me refugiei nele, deixando as lágrimas que eu estava segurando a noite inteira finalmente rolarem. Toda a minha vida estava sendo decidida diante dos meus olhos e eu nem ao menos tinha o direito de opinar sobre isso. Quando ouvi as batidas nervosas na porta, eu sabia que era minha mãe e a minha vontade era gritar para que ela fosse embora.

"Abre essa porta agora sua garota egoísta e mimada!" Ela exigiu, a voz fria congelando meu peito.

Busquei por ar enquanto sentia minha garganta fechando e, após forçar a porta, ela percebeu que não estava trancada e simplesmente entrou, me vendo em prantos.

"O que você está fazendo? Quer estragar tudo? Quer jogar fora tudo que eu lutei tanto para conseguir pra você?" Ela perguntou, visivelmente irritada.

"Mas eu não quero isso! Eu não pedi nada disso. Eu não posso me casar e ter sei lá quantos filhos só porque você não teve juízo e não soube cuidar da fortuna do meu pai." Choraminguei e quando percebi, ela tinha acertado meu rosto fazendo o mesmo virar para o outro lado e as minhas lágrimas se intensificarem.

"Escuta aqui garota, você não vai me desafiar! Eu pouco me importo com o que você quer ou não. Você vai se casar com ele e fazer o que for preciso para mantê-lo feliz, para que ele não perceba que você é só uma menina chata e mimada e ele acabe te trocando por outra. A Chelsea está doida para pegar o seu lugar e agora mesmo está lá se jogando para cima do Jaewon." Ela explica, suas palavras afiadas como adagas perfurando minha carne.

“Ela que fique com ele! Eu não o amo, mãe, o que eu posso fazer?” Pergunto, o desespero sufocando minha voz.

"Finja! Finja assim como eu fingi a vida inteira com o seu pai!" Ela gritou e meu mundo inteiro caiu.