Fazia muitos dias que o lobo Mat não sentia a satisfação que experimentava naquele momento. No entanto, também se apoderava dele um medo avassalador perante a iminente revelação de quem era a sua humana, Isis. Teriam de pensar muito bem no que fazer a respeito. Decidiram dirigir-se ao hotel, onde Jacking queria investigar mais sobre aqueles vampiros que rondavam a alcateia. Precisavam saber quem eram e, se possível, livrar-se deles.
Ao chegar a casa, Jacking foi recebido por Neiti, a filha da bruxa Teka-her, que trazia consigo uma mulher enigmática que instantaneamente reconheceu como uma Meiga (bruxa vampira). — Bom dia, meu Alfa — saudou, inclinando a cabeça. — Bom dia, Neiti. O que te traz por aqui? — perguntou, franzindo o sobrolho. — Horácio encarregou-nos de fazer uns amuletos para uns homens de Bennu, mas temos um problema — parou,Jacking estava prestes a se tornar Alfa Supremo, decidido a subjugar as bruxas e acabar com as suas vidas. Tanto Mat como ele estavam enfurecidos. Justo nesse momento, entraram Amet, Horácio e Bennu, que correram para o seu lado. — Neiti! Que loucuras são essas de que estás a falar? — repreendeu o beta Amet, visivelmente irritado. — Perdão! Eu só falei sobre o que ouvi — desculpou-se Neiti, aterrorizada, recuando e ajoelhando-se. — Meu Alfa, só pedimos o que é justo para a nossa alcateia! — insistiu a bruxa Rosa, com um tom que não agradou ao Alfa. O escritório ficou imerso num silêncio pesado, rompido apenas pelas respirações tensas de Neiti e Rosa. Ambas tremiam sob o peso do poder do Alfa, como se a própria atmosfera tivesse se tornado mais densa. Jacking respirou profundamente, tentando controlar o batimento
No entanto, era crucial consultar com a bruxa Teka o mais rápido possível. Jacking não queria que um mal-entendido deteriorasse a sua relação com ela, um pilar essencial da alcateia. Era mais do que suspeito que Rosa e Neiti tivessem esperado até que Teka estivesse ausente para fazer aquele pedido. Tudo indicava que havia algo por trás das suas intenções, algo que não podia permitir-se minimizar. Como se isso não bastasse, a energia sombria que Mat havia detectado na Meiga Rosa era outro sinal de alerta. Precisavam trazer Teka de volta naquele mesmo dia. Embora Ahá pudesse ficar com os pais da sua Lua, a presença de Teka na alcateia era insubstituível, especialmente agora que o ambiente estava tão carregado de tensões. Após alguns segundos de reflexão, Jacking moveu-se com rapidez. Localizou a loba Ast, que dormia tranquilamente, e peg
A declaração provocou uma ponta de curiosidade em Jacking, que arqueou uma sobrancelha enquanto esperava a explicação do beta. — Por que dizes isso? — perguntou com interesse. — Porque ele consegue dominá-la e acalmá-la apenas com um olhar — admitiu Amet com franqueza, deixando escapar um suspiro cansado —. Eu nunca conseguirei fazer isso! Jacking cruzou os braços, assimilando o que foi dito, e depois voltou a sua atenção para Bennu. A sua voz ganhou um tom sério, quase solene. — Então, Bennu, estás disposto a que a tua metade te acompanhe sempre na linha da frente? — O seu olhar era penetrante. A linha da frente era o lugar mais perigoso em qualquer cenário de batalha; ninguém levava isso de ânimo leve. O chefe de segurança sustentou o olhar do seu líder, sabendo qu
Jacking levou a mão ao queixo, processando cada palavra da bruxa. Ele podia sentir o nó da traição no ar, um que, se confirmado, dividiria a alcateia em duas. — Se for verdade que alguém dos nossos a ajudou… — parou, olhando para todos com seriedade —, então não estamos apenas a enfrentar inimigos externos. Teremos de nos preparar para o que se desencadeará quando essa verdade vier à tona, e acredita em mim, Teka, eu não tolerarei deslealdade dentro da minha própria casa. Teka assentiu solenemente. O dever do Alfa era proteger a alcateia, mesmo que isso implicasse lidar com traições que doeriam mais do que qualquer ferida de guerra. Por sua parte, ela também não planeava ficar de braços cruzados. — Primeiro, vou tratar da minha filha — declarou com firmeza —. Mas prometo-te, Jacking, que tamb&ea
Teka riu acompanhada por todos os presentes. Era algo que os tinha preocupado durante algum tempo, porque nos últimos anos, a maioria dos nascimentos tinham sido de raparigas. Os nascimentos de rapazes na alcateia eram raros. — Estamos a crescer muito — disse Jacking pensativo —. Vamos ter que mudar a nossa alcateia para outro país. Amet, ocupa-te de procurarmos um lugar onde não haja outras alcateias. Esta ilha está a ficar pequena para nós. Nesse momento, foram interrompidos por umas batidas na porta. Atrás dela, apareceram o Alfa Amat junto com o seu Beta. Também entraram Héctor e Meryt, de mãos dadas, seguidos por Netfis. — Bom dia, meu Alfa — cumprimentou o Alfa Amat, seguido pelos demais. — Bem-vindos, amigos, sentem-se — disse o Alfa, acomodando-se atrás da sua secretária com um amplo sorriso —. Teka, temo
Amet levantou-se com solenidade, a sua presença enchendo a sala enquanto todos mantinham silêncio, expectantes. Os seus olhos brilharam com um reflexo dourado enquanto começava a explicar o antigo ritual de unificação. O ar tornou-se denso, carregado de uma energia ancestral que fazia vibrar cada fibra dos presentes. Héctor e Merytnert permaneciam de pé, de mãos entrelaçadas, emanando pequenas faíscas que dançavam entre os seus dedos, como um testemunho vivo do poder que agora partilhavam. — Pois bem, Alfa Amat — começou Amet a explicar-lhe —, se decidirem unir-se a nós, jurarão lealdade eterna ao nosso Alfa Supremo. Na sala da cerimónia, os membros da sua alcateia serão analisados para determinar que poderes lhes serão atribuídos. Todas as lobas que o desejarem podem integrar o batalhão liderado pela princesa e esposa do s
A escuridão era absoluta, uma densa negritude que parecia devorar até mesmo o próprio passar do tempo. Isis ignorava que, nesta ilha, nesta época do ano, os dias eram curtos. Não tinha previsto que o autocarro do hotel a deixaria sem táxis à vista, e muito menos que aceitaria apanhar uma boleia com um estranho de regresso ao hotel, apenas porque o homem dizia que trabalhava ali. —O que estava a pensar?— murmurou para si mesma. Entretanto, Isis observava como o estranho conduzia a uma velocidade vertiginosa, mergulhando mais profundamente na floresta e num manto envolvente de escuridão. A estrada asfaltada deu lugar a um caminho de terra, e apenas os faróis do carro conseguiam atravessar a noite omnipresente. Quanto mais avançavam, mais se adentravam na inóspita natureza selvagem, deixando para trás qualquer vestígio de civilização. Ao seu lado, o estranho ao volante tinha-se mergulhado num silêncio sepulcral, com os olhos fixos no caminho à sua frente enquanto o veículo cortava
Comecei a gritar desesperadamente, acordando os meus pais e todos no acampamento. Um trabalhador veio em meu auxílio, atacando o lobo que me levava. O lobo começou a correr mais rápido. Senti um forte golpe na cabeça e vi surgir uma luz branca antes de perder os sentidos. Quando acordei, estava num voo para França com os meus pais. Tiveram de me fazer várias operações para reparar os tendões e músculos rasgados. Felizmente, tudo correu muito bem, para espanto dos médicos, e a minha recuperação foi notavelmente rápida. No final, ficou apenas uma pequena cicatriz na perna, que foi habilmente escondida por belíssimas tatuagens. No entanto, desde aquele incidente, assim que ouço o uivo de um lobo, mesmo que seja na televisão, o meu medo começa a sufocar a minha razão, e uma necessidade intensa de fugir apodera-se de mim, tornando-se muito difícil de controlar. O meu medo é tão grande que posso percorrer grandes distâncias a correr sem sequer me dar conta disso. Fim da retrospectiva.