Os passos acelerados dele ecoavam pelo subsolo escuro da garagem. Abriu a porta do carro com brutalidade, entrou e bateu com força. As mãos tremiam. A respiração estava descompassada. O coração... estilhaçado.
Ligou o motor e arrancou com violência, os pneus guinchando no concreto frio. A cidade lá fora era um borrão de luzes e sons que não chegavam até ele. Tudo estava abafado. Como se vivesse debaixo d’água. A primeira batida no volante veio como um reflexo. — Maldita... — rosnou entre os dentes, a voz rouca de fúria e dor. — E você me pagou assim? As imagens daquela noite em que ela dissera que dormiria na casa de Fernando se atropelavam na memória. “Valentina está muito agitada. Só quer o meu colo.” ela dissera, com doçura. Ele, como um idiota apaixonado, confiou , mesmo que o ciúme o quisesse dominar , confiou porque amava. Porque acreditava que ela estava apenas tentando ser uma boa amiga.