Algumas semanas haviam se passado desde o primeiro dia de Laura na Arantes Holdings, e ela estava seriamente cogitando pedir demissão. O que Heitor Arantes tinha de absurdamente lindo, tinha também de exigente, intolerante e... insuportável. E, mesmo sendo muito rude várias vezes com ela, nunca mais se desculpou.
Nenhum erro passava despercebido. Nenhum atraso era tolerado. Nenhuma desculpa era aceita. Ele a tratava com a mesma frieza com que lidava com o mercado financeiro — sem espaço para fraquezas, sem tempo para simpatias. Mas o que mais perturbava Laura não era o jeito cruel dele no trabalho. Era a forma como ele a olhava. Não era algo direto, como um homem que deseja. Era silencioso, intenso. Às vezes, ela o pegava analisando seus movimentos, seu rosto, seu corpo — e ele não desviava o olhar. Não havia vergonha, nem recato. Apenas aquela presença firme, impassível... como se quisesse despí-la com os olhos e, ao mesmo tempo, entender cada sombra dentro dela. Mas ele era gay. Não era? Era o que todos diziam. E, mesmo assim, algo não se encaixava. Nenhum olhar entre dois seres humanos carregava tanto calor se não houvesse desejo. Nenhuma respiração se tornava tão pesada sem razão. Naquela sexta-feira à noite, Laura ainda estava no escritório, finalizando uma apresentação que Heitor exigira para a manhã seguinte. Todos já haviam ido embora. O silêncio era profundo, cortado apenas pelo som do teclado e pelo tique-taque irritante do relógio da parede. Ela estava exausta. E furiosa, por trabalhar tanto e, mesmo assim, não ter seu esforço reconhecido por ele. — Arrogante, insensível... — murmurou, apertando as teclas com mais força. Até que ouviu a porta se abrir. Ergueu os olhos devagar. E lá estava ele. Heitor Arantes. Sem gravata, com os dois primeiros botões da camisa desabotoados, revelando um pedaço de pele dourada e o início de um peitoral definido que parecia esculpido à mão. As mangas estavam dobradas até os antebraços, revelando músculos definidos, veias salientes e um relógio de pulso caro que brilhava sob a luz tênue do teto. Ele entrou devagar, fechando a porta atrás de si. Laura ainda tentava organizar os papéis na pasta, com os dedos tremendo levemente, quando ele se aproximou por trás, com passos lentos e controlados. — Senhor Arantes… — murmurou, sem ousar encará-lo diretamente. Ele soltou uma risada baixa, rouca, quase perigosa. — Heitor. — corrigiu com firmeza, a voz grave reverberando perto do pescoço dela. — Quando estivermos só nós dois, pode me chamar de Heitor. Ela virou o rosto, surpresa, mas ele continuou: — Até porque… cada vez que você me chama de “senhor” com essa sua boquinha gostosa, Laura… — ele roçou os dedos no queixo dela, fazendo-a encará-lo — Eu fico cheio de tesão... Laura perdeu o ar, os olhos arregalados, as pernas vacilaram. — E tudo o que eu consigo pensar… — ele inclinou-se mais, a boca perigosamente perto da dela —é em te debruçar nessa mesa, levantar essa saia comportada e, ao mesmo tempo, tão provocante que usa e te foder com força… até você gozar gritando meu nome. O silêncio que se seguiu foi denso. Quente. Explosivo. Ela estava sem reação. O coração batendo acelerado, o corpo em alerta, a pele arrepiada. — Não me olha assim — ele sussurrou, os olhos cravados nos dela — ou vou esquecer que você ainda não está pronta para ser minha. Laura mal conseguia respirar. Sentia-se em chamas, consumida por um desejo que não fazia sentido, mas que dominava cada parte de seu corpo. Laura se afastou um passo, como se a distância física pudesse ajudar a controlar o caos que se instaurava dentro dela. Mas era inútil. Heitor Arantes preenchia o ambiente com sua presença. A energia dele era crua, poderosa… quase animalesca. — Não é o que você está pensando, Laura. — ele disse, a voz baixa, firme, arrastando cada sílaba com uma segurança que fazia o corpo dela reagir contra a própria vontade. — Eu sei que você não é nenhuma virgenzinha inocente. Sei que era noiva. E sei também que o idiota do seu noivo te deu um golpe, te traiu e sumiu. Ela congelou. — Como… como você sabe disso? — a voz saiu falha, tremida, como se tivesse levado um tapa invisível. — Como sabe tanto sobre mim? Principalmente algo tão… particular? Heitor deu um passo à frente, devagar, como um predador encurtando a distância até sua presa. — Desde o momento em que te vi, eu me interessei por você… — ele disse, os olhos cravados nos dela, intensos, quentes — e por isso, precisava saber mais. E descobri tudo sobre você. Laura engoliu em seco. A cabeça gritava para correr, mas o corpo… o corpo implorava para ficar. Aquele olhar… aquele olhar queimava. — O senhor… interessado em mim? — ela tentou rir, sem sucesso. — Mas o senhor é gay… Ele deu um meio sorriso, malicioso. O tipo de sorriso que faz a calcinha de qualquer mulher sumir do mapa. — Você, melhor do que ninguém, sabe que não, Laura. — a voz saiu mais rouca. Perigosa. — Sabe que, quando eu te olho… é o olhar de um homem que deseja uma mulher. Que eu te desejo. Assim como você me deseja. As pernas dela ameaçaram falhar. — Por que nunca negou esses boatos, então? — sussurrou, em um último fio de resistência. Heitor se aproximou até colar o corpo ao dela, sem tocá-la. O calor que emanava dele era como um campo magnético. Laura sentia cada músculo do homem, cada batida de seu coração, cada promessa suja que ele representava. — Porque é melhor que pensem que sou gay… — disse rente ao ouvido dela, com os lábios quase roçando sua pele — do que saberem das minhas verdadeiras preferências. Fez uma pausa, deixando o silêncio pulsar entre eles. — Muito pessoais… muito peculiares. — Ele sorriu, lascivo, e continuou: — E, sinceramente, tenho certeza de que isso geraria bem mais fofoca nos corredores do que os boatos sobre minha suposta homossexualidade. Não que eu tenha algo contra, que fique bem claro, mas eu realmente me atraio somente por mulheres — e ainda mais se forem tão lindas como você.