— Sim, tenho que estar lá amanhã, às oito da manhã em ponto. Cassandra deixou bem claro que não pode haver atrasos.
— Ana, você sabe o que isso significa, não é? — pergunta ficando séria. — Dizem que não é nada fácil conseguir uma vaga nessa rede de hotelaria, e você conseguiu!— Eu sei! — Contive uma explosão de alegria. — Acredito que finalmente algo começou a dar certo para mim! — falo entusiasmada.— Você é uma guerreira, minha amiga. Você dará muito orgulho à sua mãe de onde ela estiver e vencerá, porque você merece isso da vida. — Suas palavras me emocionam.— Obrigada, amiga, por tudo! Por estar comigo, por me apoiar, por não me deixar desistir nunca. Eu te amo muito, minha irmã!— Também te amo muito! Mas tudo isso que conquistou é mérito seu e não meu. — fala com um sorriso iluminando seu rosto e coloca Belly em seu carrinho. — Temos que comemorar! — Mônica fala batendo palmas e dando pulinhos no meio da sala. Belly solta algumas risadinhas, batendo palminhas, pensando ser uma brincadeira nossa.Horas depois a neném já está dormindo em seu berço e depois de um banho rápido, eu saio do quarto e encontro a minha amiga na cozinha. Ela decidiu fazer um prato diferente para comemorarmos o meu novo trabalho. Sento em uma cadeira da mesa de seis cadeiras e aprecio o cheiro delicioso do risoto de camarão que ela acabou de colocar em uma travessa redonda, ao lado de uma tigela de vidro com a salada verde. Mônica vai até à geladeira e depois volta trazendo um vinho. Enquanto ela o abre, eu a ajudo a pôr a louça na mesa.— Só beberemos uma taça, Ana. Apenas para brindar o seu novo emprego. E amanhã teremos um dia cheio — diz, servindo as duas taças.— Ao meu primeiro emprego! — digo erguendo a minha taça. — Um brinde à minha nova vida! — Ela sorri erguendo a sua taça.— Ao recomeço, Ana e ao seu novo emprego! — Nossas taças se encontram no ar e tilintam em seguida e bebemos um pequeno gole. Enquanto jantamos, conversamos sobre amenidades. Mônica fala sobre suas amigas de trabalho e sobre as loucuras que elas aprontam no escritório. Uma conversa que rendeu boas risadas. Depois do jantar e de deixarmos tudo organizado e limpo, Mônica foi para o seu estimado sofá na sala. Inaceitável! Eu já expliquei para ela que não é justo que ela durma naquele sofá desconfortável, quando ela tem uma cama macia e quentinha em seu quarto. Insisti no assunto, mas ela é teimosa como a uma mula, e eu acabei ficando em seu quarto mesmo. Deitada na cama, olhei pela janela e encontrei um céu cheio de estrelas. Suspirei baixinho, sentindo meu coração bater desenfreado de emoção, lembrando que amanhã terei o meu primeiro dia de trabalho.— Queria que você estivesse aqui, mãe — sussurro pegando a sua foto emoldurada sobre o criado-mudo. — Tenho certeza que estaria feliz por mim e comemorando junto comigo. — Vou até à janela do quarto, a abro e me debruço sobre ela. Observo as pessoas passando na rua e respiro fundo tentando conter as lágrimas. — Ainda dói muito a sua partida — digo voltando a olhar para o céu e logo as lágrimas silenciosas molham o meu rosto.Já são dez e meia da noite e eu ainda não consegui dormir. Estou cheia de adrenalina, devido às novidades do dia, então resolvo pegar um livro e voltar deitar na cama e me dedico a leitura, na esperança que o sono chegue. As horas passam e passam, o relógio é ingrato. Já é quase meia-noite, quando desisto da leitura e programo o despertador para despertar às seis da manhã. Apago a luz do abajur e me forço a dormi.***
Algumas horas antes...Luís Renato
— Bom dia, senhor Luís! — Cassandra disse entrando em minha sala.
— Bom dia, Cassandra! — A Olhei. — Aconteceu algo? Parece estar correndo para uma maratona. — Ela respirou profundamente.— Quase isso, Senhor Luís. Coloquei os relatórios que me pediu ontem em sua mesa. A sua programação para hoje já está disponível na tela do seu computador e aqui está o seu café. — Ela falou tudo tão rápido, que parecia ter apressa para alguma coisa.— Vai a algum lugar? — perguntei quando a vi se virar e ir em direção à porta.— Sim, hoje tenho que acompanhar o senhor Marcos nas visitas de alguns provedores, esqueceu? — Sua indagação soou insolente. Fechei os meus olhos e puxei a respiração.— Nossa, é mesmo! Como pude me esquecer? — Passei uma mão na nuca, apreensivo. — Então, eu ficarei sozinho o dia inteiro? — questionei com uma certa irritação.— Penso que sim. O que resolveu sobre as entrevistadas que fez? — rebateu profissionalmente. — Me diga que escolheu alguém?— Na verdade, não. Confesso que esqueci. — Olhei para a tela do meu computador e porra! — E hoje isso aqui ficará uma loucura sem você — reclamei.— Sinto muito, senhor Luís, mas vai ter que resolver isso quanto antes — sibilou. — Não posso ser a sua secretária e a do senhor Marcos em simultâneo! — Voltou a rebater. Sabe o que é pior? É que ela tem toda razão. Apesar do seu profissionalismo e eficiência, não é justo dividi-la em duas.— Tudo bem, Cassandra. Pelo que vejo tenho duas reuniões essa manhã, um almoço com o advogado da empresa. — Comecei a citar minha agenda e ela assentiu. — Posso ver isso à tarde. Prometo que resolvo isso ainda hoje.— Certo, conto com isso, senhor Luís. As coisas estão ficando complicadas para mim.— Eu entendo. Até mais tarde, então! Pegarei os relatórios e vou direto para a primeira reunião do dia. Obrigado por tudo, Cassandra! Acompanhei Cassandra até a porta e voltei para minha mesa, acomodei-me na cadeira e dei uma olhada rápida nos relatórios, enquanto degustava o meu café quente, para depois ir à sala de reuniões.Duas reuniões e um almoço seguido era muito cansativo, mas ótimo para me manter ocupado e longe do meu passado desastroso, por isso preferia chegar cedo na empresa. Fui o primeiro a chegar e o último a sair como sempre, desde quando tudo aconteceu. Assim não tenho tempo para pensar em coisas que não valem a pena, que me trazem dores que não quero sentir. Quando voltei para o meu escritório já era uma duas da tarde e fiquei preso na sala, sobrecarregado entre ler e enviar e-mails, assinar relatórios, ler os contratos, e ainda tinha que atender e fazer ligações. Isso é exaustivo para caralho!