Na tentativa de ter uma vida longe do seu ex, Hayden, uma professora de artes, aceita um trabalho de tempo integral como cuidadora e companheira de um ex-fuzileiro naval em Harlley, uma cidadezinha no interior da Inglaterra. Lá ela encontra muitos desafios, o maior deles, Elijah Allen, seu paciente. Eli sofre muito com o que viveu durante a guerra no Afeganistão, tendo que carregar traumas físicos e psicológicos. O trabalho de Hayden é fazer com que Elijah se lembre do que realmente importa: ele sobreviveu. Eli teve uma segunda chance na vida e Hayden se recusa a deixar com que ele a desperdice, então ela da seu melhor para mostrar que a vida vale a pena ser vivida, mas o processo lhe faz reviver seu próprio passado sombrio.
Ler maisDeve haver maneira melhor de viajar do que pegar um voo de mais de oito horas de Chicago até Londres, e ainda vou ter que passar mais duas horas em um carro até chegar em Harlley, uma cidadezinha monótona no interior. Mas, sinceramente, acho que passaria o tempo que fosse preciso dentro de um avião, se isso significasse um recomeço.
Esse emprego como cuidadora de um veterano de guerra – ex-fuzileiro naval – apareceu na hora certa. Paga bem e vou receber moradia e alimentação de graça, além de que o trabalho é basicamente ajudar um velho a fazer alguns exercícios e garantir que ele se alimente bem, pelo menos foi isso dois dias atrás. Mas se bem me lembro, o senhor Allen comentou que o que aconteceu com seu filho foi bem tenso e que ele está passando por muita coisa agora, mas não entrou em muitos detalhes sobre o assunto, o que me enche de perguntas.
Mas agora parando para pensar, o pai dele deve ser muito velho também, afinal um veterano de guerra deve ter o que, uns cinquenta anos? Esse tal de Dimitri Allen deve ter uns setenta, talvez oitenta, além de ser incrivelmente rico para conseguir pagar um salário de cinco dígitos para uma cuidadora. Pesquisei o nome dele na internet e tem até bastante coisa, aparentemente ele é CEO das redes de hotéis Allen, então não é para menos que ele possa me pagar tanto, mas eu com certeza deveria ter aberto mais que apenas um site para pelo menos saber onde estou me metendo.
Solto um longo suspiro e observo o mar de nuvens pela janela, pensando se eu realmente fazendo a coisa certa, afinal é muito suspeito: salário alto; um trabalho relativamente fácil; moradia e alimentação garantida e ainda tenho dois dias e uma noite de folga por semana.
— Se isso não é uma oportunidade de ouro, não sei o que é.
Resmungo para mim mesma e olho para o lado para ter certeza que o cara ao meu lado não me ouviu, mas ele está concentrado demais em seja lá o que ele esteja assistindo em seu celular para me ouvir sendo sarcástica. Só espero que eu não esteja indo direto para algum tipo de golpe ou algo assim, mesmo sabendo me virar, seria um terrível inconveniente dar de cara com um bando de vigarista em uma cidade que fica no meio do nada, ao invés do sr. Allen.
[ … ]
Meia hora depois, o avião pousa, eu pego minhas coisas e desembarco o mais rápido que posso, não aguento mais nem olhar para o cara que viajou ao meu lado, quanto mais o resto do avião. Um pouco mais a frente tem várias pessoas com plaquinhas, procuro a com o meu nome e a acho segurada por um senhor de cabelos grisalhos e com um terno arrumado. Caminho até ele e me apresento com um sorriso gentil, preciso de uma boa primeira impressão.
— Boa tarde, eu sou a Hayden. —O senhor sorri igualmente gentil e segura minha mão para um cumprimento firme.
— Boa tarde, srta. Delyon, sou o David, sou o motorista dos Allen e vou te levar para Harlley. Teve uma boa viagem? — Okay, eu definitivamente amo o sotaque londrino!
— Cansativa, mas tranquila. Obrigada por perguntar. — Ele acena com a cabeça.
— Fico feliz, senhorita, mas é melhor nós irmos agora se quisermos chegar a tempo do chá da tarde. — Concordo com a cabeça e o sigo. Ele joga a plaquinha com meu nome em uma lata de lixo quando a gente sai do aeroporto e confere seu relógio de pulso.
Ele é, com toda certeza, sem dúvida alguma, MUITO inglês. E acho que vou ter que me acostumar com os chás, tomara que não seja tão ruim quanto os que eu já tomei em Chicago.
A viagem de carro é silenciosa, calma, mas eu estou morrendo de curiosidade e acho que não vou aguentar muito tempo mais sem fazer uma pergunta. As lindas paisagens que vemos pelo caminho me conseguiu me distrair no começo, mas agora que se passaram meia hora, parece que estou vendo a mesma imagem repetida várias e várias vezes.
Me ajeito em minha poltrona mais confortavelmente e viro meu rosto para David com um sorriso curioso.
— David? — Ele olha para mim e em seguida olha para
pista.
— Sim?
— Olha, não vou mentir para você, o sr. Allen não me falou muita coisa do Elijah, me pergunto se você não poderia me dizer o que esperar. Quer dizer, supondo que você conheça bem o Elijah. — Elijah, o meu "paciente".
— Bem, senhorita, acho que… — Ele comprime os lábios parecendo um pouco nervoso, mas ele mal deixa transparecer. — o jovem Allen é um bom garoto, mas acredito que paciência é algo que você irá precisar, senhorita. — Eu arqueio uma sobrancelha questionadora para ele, que por sua vez não desvia os olhos da pista.
— Como assim "jovem Allen" e "bom garoto"? — David me da apenas um aceno sutil com a cabeça, não muito disposto a uma conversa mais longa, mas eu preciso tentar mais uma vez. — Não quero ser indelicada, mas Elijah Allen não tem mais ou menos a sua idade? Pessoas velhas não deveriam ser sempre gentis e alegres? — Falo em tom de piada e ele ri, parecendo brevemente mais relaxado.
— Você é realmente uma figura, senhorita Hayden. — Eu sorrio, mas paro assim que percebo a expressão sombria que tomou conta do rosto dele. — Mas não, Eli e eu não temos a mesma idade, ele é realmente jovem, deve ter seus vinte e sete anos. — Eu arregalo meus olhos em choque. — E sobre aquilo que eu falei antes…
— A paciência? — Ele sorri apenas com um canto dos lábios e nega com a cabeça.
— Não, aquilo sobre ele ser um bom menino. Ele realmente é, então não esqueça disso, tudo bem? — Seu olhar é tão sincero, parece realmente preocupado, imagino que ele se importe de verdade com Elijah.
— Tudo bem. — Suspiro insatisfeita, não estou nem perto de descobrir mais sobre tudo isso, eu realmente deveria ter pesquisado mais! — Você trabalha lá há muito tempo?
— Sim, fazem vinte anos que trabalho para os Allen.
— Então você os conhece bem, acredito. — Ele concorda. — Tenho que admitir que estou um pouco nervosa com isso tudo.
— Entendo, é uma mudança muito grande. Nós recebemos e-mails do pai do Eli falando um pouco sobre você.
— Nós? — Ele sorri gentilmente.
— Sim, a minha esposa, Briana, trabalha como cozinheira lá, você vai ver, ninguém cozinha melhor que ela. — O tom de adoração em sua voz é claro como o sol, posso ver o quanto ele a ama.
— Então estou ainda mais ansiosa para conhecê-la. — Ele ri, mas então eu fico séria, uma pergunta pinicando em minha língua. — O que aconteceu com Elijah? Que tipo de acidente ele sofreu durante a guerra?
David agarra o volante com mais força, dor e remorso tomam conta do seu rosto, seus olhos azuis escurecem e ele parece lutar uma guerra interna.
— Não cabe a mim falar, senhorita. — Sua voz sai tremida e eu recuo, melhor deixar isso como está.
O resto da viagem corre em um silêncio confortável, eu até consigo dormir um pouco com o balanço do carro, mas acordo quando ele para e me deparo com grandes portões de ferro, que se abrem automaticamente para passarmos.
— Chegamos? — Pergunto sonolenta.
— Sim, senhorita. Seja bem vinda a mansão Allen.
— Qual é, David, acho que já temos intimidade o suficiente para você me de Hayden, não acha? — Ele ri e concorda com a cabeça.
— Se você se sentir confortável com isso, por mim tudo bem. — Sorrio e aceno que sim. Ele aponta e eu olho na direção, para fora da janela. — Essa é a casa principal, tem dezoito cômodos no total. — Meu queixo cai, é um eufemismo chamar isso de casa, tá mais para um castelo! — Mas a Briana vai fazer um tour com você mais tarde, para mostrar melhor o lugar. Temos piscina lá trás, quadra de tênis e um jardim lindo, existe também um jardim privado, mas está fora dos limites.
Okay, uma propriedade como essa, provavelmente nem vou sentir falta desse tal jardim privado, é só eu garantir que eu não quebre essa regra e acredito que vai ficar tudo bem.
— Esse lugar é incrível!
Todas as dúvidas que eu tinha sobre isso tudo ser uma armação vão por água abaixo, esse lugar é digno da realeza! David para o carro no estacionamento e se vira para me olhar nos olhos, eu chego a até ficar um pouco surpresa, já que ele passou a viagem toda evitando olhar para mim.
— Você vai ficar na casa principal para ficar mais fácil de
cuidar das necessidades de Eli, mas mais para frente tem a casa dos funcionários, onde moro com Briana. Tem muito espaço lá, caso você prefira. — Franzo o cenho, não entendendo direito o que ele sugeriu.
— Sinto muito, David, mas acho que eu perdi alguma coisa. — Ele aperta uma mão em volta do volante e da de ombros parecendo sem jeito.
— Não se preocupe, só quis dizer que é uma opção também. — Diz e sai do carro sem mais indícios de que ele vai explicar algo além disso. Ele tira minha mala do carro e a carrega até a porta da frente contra a minha vontade.
E quando entramos, damos de cara com um hall espaçoso e antiquado, com escadas largas cujo os corrimãos de madeira são perfeitamente esculpidos, decorações em mármore, esculturas em pedra e quadros por todas as paredes, mesmo de longe posso dizer que são legítimos. Esse lugar cheira a riqueza, não consigo acreditar que irei morar aqui pelos próximos meses, sinceramente, isso aqui é demais para mim!
— Ah, vocês finalmente chegaram! — Uma mulher madura vem até nós com um sorriso largo e alegre nos lábios, ela da um selinho em David e depois se vira para mim e me abraça. — Como vai, querida? Meu nome é Briana, é um prazer te conhecer, Hayden. — Pelo menos não preciso me apresentar.
— O prazer é meu, David me falou sobre você durante a viagem. — Ela lança um olhar brincalhão ao marido.
— Coisas boas, espero. — Diz sarcasticamente.
— Com certeza! — Falo e ela ri, David apenas nega com a cabeça alguns paços atrás de nós. — Eu não acredito que esse lugar é real, sinto como se fosse acordar de um sonho a qualquer momento. — Seu sorriso permanece gentil e empático, seus olhos brilham.
Nós também amamos o lugar, acredito que mais tarde você irá querer explorar, certo? — Concordo com a cabeça. — Ótimo, mas por agora vamos tomar o chá enquanto ainda está quente e você pode me contar tudo sobre Chicago, o que acha?
— Só se você me contar tudo sobre Harlley. — Ela solta uma risada gostosa e olha para David.
— Eu gosto dela.
— Imaginei que sim, querida. Na verdade, ela me lembra um pouco você quando nos conhecemos.
Ele está com o cabelo penteado, a barba feita, usando uma calça jeans escura, uma blusa branca e uma jaqueta de couro preta. Ele abre um sorriso divino enquanto olha nos meus olhos, ele já era lindo antes, mas agora… eu sou literalmente incapaz de andar nesse momento, acho que minhas pernas não estão funcionando direito.— E aí, Chicago, sentiu minha falta? — Eu abro e fecho minha boca mas não consigo formular uma frase, ele olha para Maya atrás de mim. — Ei, Maya.Ele sorri e eu só escuto os passos apressados dela passando por baixo de uma portinha na bancada, ela o abraça apertado e sua voz soa trêmula e rouca, ela se afasta e começa a bater no peito dele.— Seu idiota! Como você não fala um “a” por um ano e aparece aqui do nada?! Você não pode fazer isso, não pode!Ela diz e ele a puxa para outro
Pego o meu casaco e saio. Desço as escadas esperando encontrar com Elijah fora do seu quarto, mas quando chego a cozinha, encontro apenas Briana terminando de fazer o jantar.— Olá. — Digo enquanto ela cobre algumas panelas com suas devidas tampas.— David pediu para te avisar que… — Ela para de falar quando se vira e me ver. Seus olhos se arregalam e suas sobrancelhas se erguem em choque. — Meu. Deus. — Ela diz, da a volta no balcão e vem até mim. — Você está divina! Está linda demais!— Oh, pare com isso. — Balanço a mão tentando disfarçar que ela me deixou sem graça.— Não mesmo! Você já estava linda antes, mas agora… — Ela bate palmas, vem em minha direção e segura minhas mãos. — Não vai ter um ser humano que não vá olhar para você hoje, pode apostar.— É muita gentileza sua, Bri.Ela sorri e solta minhas mãos, voltando para o outro lado do balcão e levando algumas coisas para a geladeira.— Ah, antes que eu me esqueça, o David deixou a
— Eles eram uns sádicos! Eles atiravam facas em nós como se fossemos alvos, ou então nos espancavam até que perdermos a consciência. As vezes eles chamavam um médico para tratar nossas feridas, mas era apenas para que a gente não morresse tão rápido. Nos davam água e um pouco de comida, e então começava tudo de novo. Uma vez eu consegui chutar um deles com força suficiente para ele cair no chão, então o outro atirou na minha coxa e no meu joelho, mas ele não era muito bom de mira, ou excepcional, ou eu que tive muita sorte mesmo, ele não acertou em pontos que me fariam sangrar até morrer. E quando o outro se levantou, estava puto, pegou sua faca e cortou meu rosto com a faca cega que ele carregava na cintura.Só de ouvir, me dá vontade de vomitar, não sei se eu seria forte o suficiente para me manter vivendo dia após dia depois de tudo isso. Ele me afasta um pouco, seus olhos procurando pelos meus.— Owen ficou furioso. Ele gritou comigo, me chamou de idiota inúmeras v
— Eu… er… — Ele ri de novo, mais alto que da primeira vez, e então nega com a cabeça sem deixar seu sorriso sumir.— Eu não estou julgando, muito pelo contrário. — Ele olha para mim, seus olhos brilhando. — Muito obrigado, Hayden. — O choque atinge meu peito, espalhando uma alegria pelo meu corpo de forma efervescente. — Faz muito tempo que não o vejo sorrir como ele está sorrindo ultimamente, e isso é muito bom.— Acredite em mim quando digo que o que eu faço é muito pouco ainda, mas estou tentando. E… eu gosto muito dele, muito mesmo. — Ele concorda com a cabeça e cantarola alguma canção feliz.— É como eu estava dizendo antes, vocês me lembram muito a mim mesmo e a Briana no início do nosso relacionamento, e estamos juntos até hoje.Eu sorrio com a imagem fofa que minha mente forma automaticamente de Eli segurando minha mão enquanto nós passeamos pelas ruas calmas do centro de Harlley… eu suspiro enquanto olho para além da janela, perdida em meus devan
Eu ando pelas ruas fazendo anotações mentais dos lugares mais bonitos, tiro algumas fotos e exploro os pontos turísticos.As praças são adoráveis, as pessoas são amigáveis e todas foram gentis quando eu precisei pedir informações, está tudo correndo perfeitamente bem. Não sabia que precisava tanto fazer isso, respirar esse ar, andar por aí sem um objetivo certo, poder entrar nas lojas e comprar o que eu quiser sem me preocupar, ou até mesmo não ter preocupações com Jackson, é libertador!Observo os pássaros voando tranquilamente e pousando nos fios dos postes, tão tranquilos e livres, cantarolam a melodia mais graciosa em seu tom mais divino.Paro na frente de uma livraria e entro para ver se tem algo melhor que biografias, estou cansada disso.— Bom dia! — Diz um jovem animado atrás do balcão na entrada.— Bom dia. — Respondo com um sorriso e dou mais alguns passos para dentro do estabelecimento.— O que está procurando? Posso te ajudar? — Ele pa
Nós tomamos o café juntos e depois eu volto para o meu quarto para tomar um banho e vestir uma roupa bonita para sair hoje. Depois de muito pensar, acabo por escolher um jeans velho e folgado, desgastado pelo tempo em alguns rasgos nos joelhos, que são considerados moda hoje em dia, e uma blusa tricotada, preta e de mangas cumpridas, para me proteger do ar frio dessa cidade. Como vou andar bastante hoje, um tênis confortável é uma boa opção, assim não terei bolhas nos pés nem dor nos calcanhares. Por último, pego meu cachecol favorito e o enrolo ou redor do meu pescoço, olho para a forma desajeitada como um pequeno coração foi costurado em uma das extremidades e sorrio da pequena tentativa da minha irmã de costurar, mas ela melhorou bastante desde que ela fez essa peça. A saudade aperta meu peito, mas eu me recomponho para conseguir manter o foco na minha missão de h
Último capítulo