Capítulo 08
Por Contrato
O Sentido do Amor
Thaila não era acostumada com tanta gentileza masculina, e ainda mais de um médico bonito mesmo que inicialmente muito arrogante, se não tivesse um passado recente traumático, ela até gostaria dele, mas não, ela definitivamente estava fechada para qualquer contato masculino. Por isso, fez o médico entender logo que ela não gostou da sua última colocação.
— Olha doutor, talvez seja a fome que me fez ouvir algo fora do lugar, mas o senhor não precisa ser capaz de nada por mim, ok.
— Desculpe, senhorita Sousa, pois eu não tive intenção de ser invasivo, e prometo que isso não vai mais acontecer, afinal de contas eu quero jogar conversa fora enquanto comemos esse delicioso café da manhã!
— Está bem, doutor não vamos desperdiçar comida.
— Isso, vamos.
Alexissuos, suspirou aliviado, pois por muito pouco estragou tudo indo rápido demais.
Com sua paciente finalmente tranquila e totalmente à vontade enquanto comia, Alexissuos tentou saber mais sobre como Thaila deixou seu país de origem.
Aproveitou também para descobrir se ela tinha alguém em sua vida, porém, novamente o desconforto imediato dela o fez mudar de assunto.
Fazia muito tempo que ele não jogava conversa fora com alguém. Na verdade, sua vida era tão cheia de trabalho que nem sabia dizer quando foi a última vez que fez isso.
Já Thaila estava gostando de falar sobre sua vida, depois do embate inicial,mas, claro, não contou toda a verdade, preferindo, por algum motivo, criar a ilusão de que veio simplesmente para a Itália por ser seu sonho de infância.
Porém, no momento em que a conversa abordou seu status de relacionamento, ela se fechou completamente. Afinal, sua horrível experiência recente era algo que não queria lembrar, pois o sexo casual que fizerae parecia tão surreal e inacreditável, que ela se recusava a aceitar que realmente aconteceu.
Por isso, foi um grande alívio perceber que o médico mudou de assunto, passando a falar sobre os pontos turísticos que ela precisava visitar em Milano, para se apaixonar ainda mais pela cidade histórica e ter certeza de que não voltaria ao Brasil.
— Mas, eu não posso ficar para sempre. Apesar de gostar muito daqui, eu só estou como estudante, e minha permissão de residência jamais será aceita.
— Por que não, talvez você possa, Thaila. Existem várias outras opções, como permissão de trabalho ou até por motivo de casamento.
Novamente, ao citar a palavra casamento que remetia ao assunto voltando para o lado sentimental, Thaila se retraiu. Com um movimento brusco, imediatamente ela se pôs de pé, respondendo mais para si, sem encarar os olhos intessos de Alexissuos.
— Ninguém se casaria comigo. E quem disse que eu vim para a Itália para isso? Afinal, eu não acredito em conto de fadas com final feliz, doutor, e estou totalmente indisponível para pensar em vida amorosa.
Ao ouvir aquilo tudo de Thaila, Alexissuos ficou muito chocado, e sem palavras, afinal ela era dura demais a respeito de relacionamento amoroso.
Com o fim da refeição e o horário da medicação se aproximando, Alexissuos decidiu que era hora de levar sua paciente de volta ao quarto. Um pouco chateado, com situação totalmente contrária aos seus planos, ele não estava nem um pouco otimista depois da fala de Thaila, e isso o irritou além do que imaginava.
O retorno para o quarto foi um grande alívio para Thaila. Ela estava irritada ao perceber o interesse do médico como homem.
Pois ela não era tão boba assim e notou como ele a olhava, mesmo que tentasse disfarçar, por isso ela fez aquele discurso duro, porque mais que ele tivesse sido um fofo com ela, e de fato, fosse um dos italianos mais lindos que ela já vira, definitivamente ela sabia que ele jamais a levaria a sério.
Além disso, ela mesmo tinha os pés no chão, pois era pobre, estrangeira e, além disso, carregava o trauma recente que vivenciou. Por isso, passou a evitar qualquer contato com o médico, o que foi relativamente fácil, já que ele quase não aparecia.
Alexissuos queria muito dar atenção a Thaila, mas realmente enfrentou muitos plantões cheios de pacientes graves, e sua presença fazia toda a diferença para salvar vidas. Todo o tempo livre que tinha, tentava visitar ela, mas logo percebeu que ela havia posto um muro entre eles, e nitidamente ele não poderia ultrapassá-lo.
Como seu juramento como médico era salvar vidas, mais uma vez deixou seu lado pessoal em segundo plano. Afinal, sabia que, assim que tudo estivesse sob controle, Thaila ainda estaria ali.
Thaila, estava totalmente sem paciência depois de receber a visita da prima, que mais parecia uma cobradora ambulante, por isso ela não pensou duas vezes e exigiu sua alta.
Para sua surpresa, o médico muito jovem de plantão a liberou, dizendo que não havia despesas geradas.
Como havia um grande alvoroço no hospital por conta de um desastre ocorrido em uma rodovia próxima, ela entendeu que toda a equipe estava ocupada com diversas cirurgias emergenciais.
Por isso ela nem sequer tentou entender os detalhes de não ter saldo devedor. Na verdade, aquilo nem foi uma surpresa, já que se lembrou da conversa com doutor Gio, que havia dito que cuidaria do assunto.
Então, pela primeira vez na vida, Thaila simplesmente aceitou ser ajudada. Ainda assim, antes de sair, deixou seu número de contato, prometendo voltar assim que tivesse um tempo, para se colocar à disposição para qualquer serviço disponível.
Com a cabeça pesada, ela entrou no pequeno apartamento que dividia com a prima, acreditando que, ao menos, teria um tempo só para si. Mas tudo não passou de um sonho dela, pois, menos de dez minutos depois de chegar, sem nem conseguir se deitar como gostaria, ouviu a prima chamando, já impaciente.
— Thaila, cadê você, sua irresponsável!
— Estou aqui, já vou.
Batendo o pé enquanto fumava sem parar, Aline tentava não gritar ainda mais alto do que sua vontade mandava. Seu desejo era simplesmente mandar Thaila para o olho da rua, mas, por ora, recuperou o bom senso. Afinal, quem ela conseguiria explorar tanto quanto aquela prima idiota, que ela sempre soube manipular?
Então, antes de perder o resto de paciência, tentou fingir ser mais cordial.
— Thaila, que bom que finalmente você entendeu que não pode se dar ao luxo de ficar à toa naquele hospital caro!
— Eu sei, Aline. E você nem precisa continuar, porque eu tenho toda a minha parte das despesas do mês. Só preciso ir até a empresa de limpeza Bianchi buscar o que falta do seu cartão.
— Que ótimo! Então, já que você voltou, limpe todo o apartamento antes de ir lá na empresa buscar o meu dinheiro.
— Ah não vai dar, Aline, pois eu ainda não me sinto bem e preciso descansar. Na verdade, eu deveria ficar mais um dia no hospital, mas saí antes.
— E eu com isso, Thaila? Me poupe de suas queixas bobas, porque você está super bem! E não se esqueça de que fui eu quem te levou para o hospital!
— Mas, Aline, é sério, eu preciso de repouso, e...
Sem deixar Thaila concluir e contar sobre a gravidade do que poderia acontecer, Aline, totalmente sem noção, exigiu novamente de forma cruel:
— Já disse que não me interessa, sua idiota! E pode parar com essa frescura de doença, porque você não vai morrer, Thaila. Então, faça como eu mando, ou acho melhor você procurar outro lugar para morar!
— Tudo bem, eu vou arrumar tudo.
— Ótimo. Vou atender um cliente de fora, então não me espere.
Chorando e limpando, Thaila só queria sumir e, de fato, encontrar outro lugar para morar. Afinal, estava farta de ser explorada pela própria prima.
Autora: Graciliane Guimarães