Miranda Newman
Olhei para Dominic, desejando acabar com aquela expressão séria no rosto dele. Será que ele não poderia ao menos dar um sorriso mínimo sobre o nosso pequeno sucesso na missão?— Tradição, huh? — provoquei, tentando quebrar o clima.— Precisamos treinar sua atenção em campo. Você nem percebeu que ela estava nos olhando — ele respondeu sério.— Provavelmente estava chocada com a grandiosidade dessa casa. Sério, precisava ser tão extravagante? — comentei, apontando para o luxo que nos cercava.Dominic deu de ombros e continuou como se não fosse nada:— Eles são ricos, Miranda. Se queremos nos aproximar, temos que ser como eles.Decidi explorar a casa, deixando para trás a sala ampla e seguindo diretamente para o segundo andar. Dominic me seguiu em silêncio. Para uma casa tão grande, eu esperava encontrar mais quartos, mas apenas dois estavam disponíveis. Abri a porta do primeiro e fiquei boquiaberta.Olhei para a suíte gigantesca, como se tivesse saído de uma revista de decoração, e confesso que fiquei deslumbrada. Era incrível. Mas minha atenção foi capturada pelas portas laterais, e decidi investigá-las.Para minha surpresa, deparei-me com um closet espaçoso. Retiro o que disse antes; aquela suíte não era apenas incrível, era perfeita. Saí de lá pisando nas nuvens e segui para a segunda suíte.A segunda suíte não possuía um closet, mas não perdia em nada em classe. A agência realmente havia sido generosa.— Você pode ficar com a suíte principal. Eu fico com essa — sugeri, olhando para Dominic.Ele desviou o olhar de baixo para cima e encontrou meus olhos. Parecia ter dado uma checada discreta no meu traseiro. Ora, ora... Parece que ele não era uma estátua de mármore sem emoções afinal.— Parceiro, você estava olhando minha bunda? — perguntei com um sorriso travesso.Dominic ficou inicialmente vermelho, o que só provava que eu estava certa, mas logo murmurou algo ininteligível e saiu andando.— Você pode checar se quiser, eu sei que eu chequei — gritei rindo enquanto o seguia. Era muito difícil conseguir alguma reação dele, mas quando finalmente a tinha, era tão prazeroso.Após terminarmos de analisar a casa, que se provou igualmente maravilhosa como os quartos, não pude deixar de dar ênfase na mini sala de treino que a agência havia montado. Fiquei muito satisfeita com o que vi.Ainda na sala, rindo da cara que Dominic fez quando o acusei de olhar minha bunda, ouvimos a campainha tocar. Dominic me lançou um olhar sério e foi atender. Eu me escondi na cozinha para escutar a conversa sem ser vista.— Oh, olá? — escutei Dominic dizer incerto.— São os novos vizinhos? — perguntou uma voz forte, com um tom curioso. — Sou Victor Pavlov, acredito que conheceram minha sobrinha Kate.Ah, nosso alvo decidiu nos fazer uma visita. Nada como recebê-lo com grande estilo.— Parceiro, estou te esperando para inaugurar a casa — disse, entrando na sala com uma expressão manhosa. Fingi surpresa e constrangimento ao ver Victor, e pude perceber, pela minha visão periférica, que Dominic arregalou os olhos momentaneamente ao entender o sentido das minhas palavras.Ah, como amo meu trabalho.Victor riu sem graça.— Perdão, acho que atrapalhei... — ele parecia incerto sobre qual palavra usar, o que tornou a situação engraçada. Todos nós sabíamos o que ele quis dizer. — ... algo — finalizou sem encontrar uma definição melhor.— Sou Miranda, muito prazer — disse, estendendo a mão. — E o senhor é? — perguntei, mantendo o personagem, como se eu não soubesse quem ele era, como se eu não tivesse uma pasta com todos os dados possíveis sobre a vida dele.Victor se aproximou mais, analisando-nos, enquanto eu me aconchegava num meio abraço com Dominic, como se fosse perfeitamente aceitável estar tão próxima dele.— Victor Pavlov, muito prazer... São recém-casados? — perguntou, curioso.Tentei me concentrar, mas, naquele momento, com Dominic ao meu lado, só conseguia pensar: "Victor quem?"— Noivos, mas está tão na cara? — perguntou Dominic, rindo, trazendo-me de volta à realidade.Victor sorriu.— Bastante. Mais uma vez, desculpe pela intromissão. É que ouvi falar de vocês, causaram uma impressão e tanto na minha sobrinha — comentou, como quem não quer nada.— Kate? Adoramos ela — disse, sorrindo, e dessa vez foi sincero. Ela realmente parecia ser uma boa garota.— Sim, ela é maravilhosa — concordou com afeto. — Ela também me disse que os convidou para o meu jantar de aniversário semana que vem.— Sim, mas se o senhor não se sentir confortável, entenderemos perfeitamente. Acabamos de nos conhecer — disse Dominic rapidamente. Por que diabos ele estava dizendo isso?Victor fez um gesto de desdém com a mão.— Que bobagem! Eu insisto. Será um prazer ter vocês conosco — disse, sorrindo. — Então, me contem, o que fazem da vida?— Eu sou advogado, estou abrindo um escritório aqui na cidade, e minha linda esposa aqui é engenheira — respondeu Dominic, orgulhoso ao se referir a mim. Ele era um ótimo ator.— Um homem de palavras e uma mulher de números. Que casal mais interessante — comentou Victor, com curiosidade. — Me diga, como um casal tão oposto se conheceu? –Ele estava fazendo muitas perguntas. Era evidente que Victor estava tentando colher informações sobre nós. Mas estávamos preparados para isso. Mantive meu sorriso e olhei para Dominic, buscando sua aprovação antes de responder.— Conta você ou conto eu? — perguntei, mantendo um tom descontraído.Dominic soltou uma risada suave e melódica, surpreendendo-me com sua expressão de diversão. Era difícil acreditar que alguém daquele porte poderia ser tão gracioso.— Conta você, sei que adora essa história — respondeu, divertido.Aproveitei a oportunidade para envolver Victor em nossa narrativa fictícia.— Claro que sim. Conheci você nessa história, parceiro — disse, piscando para Dominic. Em seguida, direcionei meu olhar para Victor. — Eu fui até o escritório dele em Los Angeles porque tive um pequeno probleminha com a justiça.Dominic riu, acompanhando o jogo de papéis.— Pequeno? Miranda, você colocou fogo na casa do seu vizinho... — zombou, reforçando a história.Era uma velha tática de agente: adicionar um pouco de verdade à mentira para torná-la mais convincente.Bufei exasperada, interpretando meu papel.— Foi um acidente, eu já disse... — comecei a explicar, mas Dominic interrompeu.— Eu sei, meu amor, mas para o tribunal não foi. Para eles, foi proposital. Não ajudava em nada o fato de você viver brigando com ele... — zombou, mantendo o jogo.— Stanley é um pé no saco, você conheceu aquele velho, tem que concordar comigo — usei um nome semelhante ao de nosso chefe, propositalmente, pois ele também era um chato às vezes. Dominic riu, dessa vez soando genuíno, como se eu realmente o divertisse. Ele entendeu minha piada.— Eu o conheci, me pareceu um senhor bem simpático — finalizou Dominic, sendo um verdadeiro puxa-saco.Durante toda a nossa interação, Victor ria gostosamente.— Ok, meus amigos, já entendi. Miranda, problema; Dominic, solução. Realmente, os opostos se atraem — comentou Victor, com bom humor. — Ou se matam — acrescentou, brincando.Nós rimos, e cheguei a pensar que, na realidade, estávamos mais próximos da segunda opção. Às vezes, Dominic parecia me odiar.— Bom, não vou mais tomar o tempo dos pombinhos — disse Victor, se despedindo. — Vejo vocês semana que vem.Assim que Victor se foi, trancamos a casa e só começamos a conversar com calma quando já estávamos no carro, a caminho do meu apartamento.— Primeira impressão? — perguntou Dominic, curioso.Refleti por um momento, avaliando a situação.— Pavlov parece ser alguém desconfiado, fazendo todas aquelas perguntas. E mais, você notou que ele alterou sua rotina? Ele fez algo diferente hoje, nesse horário em que chegamos.Olhei para Dominic, buscando sua confirmação, Dominic segurou o riso por um instante, apreciando minha perspicácia.— Notei tudo isso também, mas eu estava me referindo à casa — respondeu ele, surpreendendo-me novamente.Fiquei momentaneamente confusa, mas logo entendi o que ele queria dizer.— Ah, a casa! — exclamei, percebendo sua referência. — Sim, a casa é simplesmente maravilhosa. Tenho certeza de que ficará ainda mais perfeita comigo dentro daquela banheira enorme. -Ri, tentando manter o clima descontraído, mas algo na expressão de Dominic mudou. Seus olhos escureceram e seus ombros ficaram tensos. Será que eu havia dito algo errado?— Vamos, temos que reportar tudo ao Stan e escrever um relatório — disse ele rapidamente, com o maxilar travado, enquanto dava partida no carro.Eu hein, parceiro estranho.