Está tudo perfeito, assim eu espero, não está? Se eu coloco meu rosto pra fora da janela, o sol está brilhando, e talvez seja só a minha imaginação, mas até os passarinhos cantando lá fora parecem mais felizes.
Com certeza isso é a minha imaginação, mas agora eu posso finalmente dizer que o dia que eu tanto estava esperando chegou.
Não consigo parar de sorrir enquanto a minha irmã mais velha Elisa, arruma o meu cabelo do jeito que eu pedi pra ela.
-Toma cuidado, se ficar sorrindo tanto assim vai acabar parecendo uma careta. E você se lembra do que o papai diz não? Se bater um vento do rosto enquanto estiver fazendo careta, vai ficar assim pra sempre.
Ela fala, em tom de brincadeira, mas ela mesma tem um sorriso gigante no rosto dela, que foi contagiado pelo meu.
-Olha, se quiser tanto um casamento assim, eu me visto de noivo por você, e ainda monto tudo de uma forma impecável do jeito que quiser. Não quer repensar? Sabe que eu faria tudo pra te ver feliz, assim como mamãe e papai, mas repentino desse jeito? Como sabe que não vai se arrepender?
Eu entendo como deve ser difícil para Liza e nossos pais o dia de hoje. Meu pai é o alfa da matilha Lua de Sangue, e eu, por ser a caçula da família, nunca tive muito espaço para as minhas decisões. Mas é diferente, e com muito esforço, finalmente eles aceitaram Mason como parte da alcateia e parte da vida.
-Liza, você o conheceu! Eu sei o que eu sinto e nunca me senti assim por ninguém antes! Você mais que ninguém sabe disso. - Coloco minhas mãos junto ao meu peito, sentindo meu coração batendo e eu podia facilmente pensar que se eu me concentrasse o suficiente podia sentir também o coração dele pertinho do meu, como se fossemos uma coisa só. Eu lembro que foi assim que me senti quando me apaixonei por Mason, então agora que estávamos casando, seria assim para o resto da vida.
-Você sempre foi a mais romântica, sabia? -Minha irmã sorriu, e eu sorri de volta pra ela. - Seu cabelo está maravilhoso, vamos para o altar, seu noivo te espera.
Uma leve vitrola tocava no canto da sala para me ajudar a relaxar enquanto me aprontava. Eu sempre gostei do som abafado dela e era alto o suficiente para que não ouvissem os burburinhos de todos lá fora, esperando pela hora mágica do “Lá vem a noiva”. Mas eu percebi que algo estava errado, pois os barulhos lá de fora de alguma forma estavam mais altos do que o som saindo da vitrola. Eu olho pra Liza, e percebo que ela também tinha notado isso. Seu rosto ficando tenso na mesma hora.
Mas tudo piora quando Zeke, um dos betas do meu pai, entra correndo pela porta, quase derrubando ela da fechadura.
-A MATILHA…ESTÁ…ESTÁ SENDO ATACADA! - Ele grita e olha desesperado para a minha irmã e para mim, e sinto um nó se formando no meu cérebro. Como diabos isso está acontecendo?
Eu não tenho nem tempo de reagir, pois minha irmã olha para mim com a tensão assumida em todo seu corpo. Vejo que está tentando parecer mais calma do que realmente está, mas não adianta nada para me acalmar.
-Fique aqui, e não saia de jeito nenhum até alguém vir te buscar. -Ela fala e sai correndo atrás do beta porta afora. Eu tento correr atrás dela no momento em que vejo ela se mexer. Eu sabia que ela ia fazer uma porcaria dessas!
-ABRE ESSA PORTA! ME DEIXA SAIR DAQUI LIZA! - Eu bato algumas vezes na porta, não perdendo muito tempo pois era óbvio que eu tinha sido trancada aqui. Eu tomei impulso para trás, essa era uma casa velha então eu tinha que torcer para as portas serem tão velhas quanto. Corro o máximo que posso, bato com o ombro nela e o trinco quebra, a porta se abre e eu caio no chão do outro lado com meu ombro machucado. Mas isso não importa agora, eu tinha que achar minha família, eu tinha que achar…
Ainda no chão eu olho pra frente, estou bem no hall de entrada da casa, do lado de fora toda a matilha devia estar esperando pelo meu momento de “Lá vem a noiva.” aqui dentro não tem ninguém, e não ouço mais os sons altos que tinha ouvido antes. Uma sombra passa pela porta e meu coração b**e aliviado. Mason, meu noivo parado na entrada, vestindo um smoking e completamente intacto, não estava machucado e eu solto um suspiro de alívio quando vejo isso.
Eu começo a abrir um sorriso aliviado. Meu cabelo devia ter se bagunçado com o impacto e talvez minha maquiagem precise de mais um retoque, mas estava tudo bem.
Até que eu vejo os lobos entrando, um a um atrás de Mason. Nenhum deles eu reconheço, nenhum deles é da nossa matilha, mas tem sangue espalhado no pelo deles, e estão todos com os dentes à mostra.
Percebendo que eu ainda estava no chão, eu me levantei, mas fiquei paralisada. Mason ainda me encarava, e havia uma sombra no seu rosto que não me lembro de ter visto antes.
-Mason? O que está acontecendo? Cadê…cadê os outros? Onde está a minha irmã e os meus pais? A matilha está bem?
Vejo mais uma sombra seguindo atrás dos lobos, e eu reconheço seu rosto, reconheço seu cavanhaque mal cortado e os olhos verde sagazes. Os mesmos que os de Mason mas com algo muito mais sombrio no fundo deles. Ele entra na casa da matilha e atrás dele um lobo carrega a minha irmã pelo braço.
Seu belo vestido que tínhamos escolhido juntas…está destruído. Seu braço estava em carne viva, mas ela estava respirando. Ousei andar em direção a ela e consegui ter uma visão melhor do jardim…e de todos os corpos.
Paralisei, horrorizada.
-Mason, mate ela. - Hendrick, o tio de Mason fala.
Eu olho pra Mason, como isso foi acontecer.
Eu avanço em direção a minha irmã, desesperada para salvá-la. Não tenho tempo para pensar, só sei que ela está respirando e eu preciso salvá-la.
-MATE ELA, AGORA MASON - Ele grita em fúria, mas Mason não tinha se mexido ainda. Mas o lobo que estava segurando Liza? Eu vejo Hendrick puxá-la com força dos seus dentes, dilacerando ainda mais o braço dela, que grita, mesmo estando inconsciente. Eu vejo ele pegar uma Adaga da bainha de sua calça e fincar no pescoço dela antes que eu pudesse alcançá-la. Vejo ele me olhar enquanto passa a língua nos caninos, como se estivesse se divertindo com isso. Mason ainda ainda estava parado ali, como uma estátua. Como se ele não estivesse ali de verdade e fosse só uma sombra. Eu também devia ser uma sombra agora, e eu não fazia nada além de chorar, desesperadamente.
-Se você não puder fazer o trabalho sujo, deixe para os adultos de verdade - Hendrick fala e faz um sinal com a cabeça para o mesmo lobo que estava puxando liza e ele imediatamente parte para cima de mim.
Eu não me mexo, fecho os olhos e não faço nada quando sinto seus dentes perfurando o meu ombro. Não penso em mais nada quando deixo essa dor tomar conta de mim e não quero mais nem pensar em lutar.
Mas então, tão rápido quanto ela começou, a dor para, ouço um ganido de dor alto do lobo que estava prestes a me matar e os dentes dele se desgrudam da minha carne, e de repente, eu estou nos braços de alguém. Eu não morri, é impossível ter morrido tão rápido. Alguém me salvou. Quando eu abro os olhos e vejo o rosto de Mason, o mesmo rosto que eu pensava que alguns minutos veria no altar, e agora tudo tinha sido tirado de mim, não consigo entender por que ele não me matou de uma vez depois do que ele fez.
-Por que…por…favor. S.ó me diga. - Falar doi, e respirar também, e eu sinto minha nuca ficando melada com todo o sangue que eu estava perdendo. Mas eu preciso saber.
-Eu…esse casamento…foi tudo com um propósito. Tudo desde o começo…Foi pra isso.
E eu desmaio.
POV MASONFoi a 10 anos atrás que tudo aconteceu, mas eu ainda me lembro claramente, como se mal tivesse passado um dia. As coisas andavam muito estranhas na matilha da lua crescente. Foi o lugar que eu cresci e sempre foi tão pacifico, mas de repente….A guerra parecia prestes a estourar. Ainda assim, eu estava passando pelo território leste junto com uma equipe de patrulha. Estávamos passando perto da fronteira, éramos eu, meu pai e mais uns 5 lobos. A terra estava úmida depois de uma forte chuva e eu sentia minhas patas se afundarem a cada passo que dávamos. A fronteira agora tinha que passar o máximo de tempo possível sobre vigia. A paz era rala e parecia que qualquer coisa poderia acabar com ela, mas como alfa, meu pai estava fazendo o possível para evitar isso. Mas em um dia que era só pra ser uma vigia, um dia onde as coisas pareciam tão calmas…acabou sendo mais do que isso.Um barulho estranho chama a atenção de todos nós vindo do leste. Começamos a correr quase ao mesm
POV MASONAnos haviam se passado, mas tempo nenhum é o suficiente para apagar aquelas memórias que parecem que consomem nossas almas. Aquelas que deixam marcas e se tornam uma obsessão.Vingança era uma obsessão.E ela parecia tão fácil…tão acessível…Ela estava bem ali na minha frente, colhendo flores em uma campina, com seus cabelos loiros avermelhados sendo soprados junto com o vento e brilhando sob a luz da manhã. Era muito cedo, o sol mal tinha acabado de nascer e ela parecia ter surgido junto com ele.A filha do Alfa da alcateia lua de sangue. Ela vinha pelo menos a cada dois dias naquela campina, e no começo eu não sabia quem ela era…ou quem eram seus pais. Eu nunca falei com ela, só observava a distância vendo a forma que ela dobrava margarida por margarida até fazer a coroa de flores perfeita. A forma que ela passava a mão em seus cachos rebeldes, ainda mais rebeldes pela brisa de verão. Quando eu descobri quem ela era e sobre a sua família, de repente ficou tudo tão fácil,
Pov JudeEstávamos eu e minha irmã retirando a mesa depois do almoço maravilhoso que tivemos com o Mason e nossos pais. Pode-se dizer que foi nosso primeiro almoço de noivado, já que fazia tão pouco tempo que ele tinha me pedido em casamento. Foi uma boa oportunidade também para contarmos aos meus pais durante esse almoço. Até eu fiquei chocada com o quão bem eles tinham reagido. Tudo está indo tão rápido e está sendo tão perfeito que realmente não parece real quando paro pra pensar sobre isso. Parece que estou sonhando ou coisa parecida. -Então, quando você planeja me contar como foi que ele te pediu em casamento?Eu sinto minhas bochechas esquentarem com a pergunta da minha irmã. Ela parecia um pouco brava comigo desde mais cedo, por ter ficado sabendo ao mesmo tempo que os meus pais. Ela queria porque queria, ter sido a primeira a saber. -Bem, você vai me perdoar se eu te contar primeiro a história? -Vou pensar. Pode começar- Ela disse enquanto retirava a toalha da mesa e começ
Não sei onde estou, mas onde quer que seja esta tudo escuro, e estou perdida aqui. Não vejo um palmo sequer a minha frente mas pelo menos estou andando, Só não vejo pra onde. Acho que tem alguma coisa na minha mão, que estou segurando, mas não consigo enxergar o suficiente pra saber o que é, e a forma é muito estranha pra conseguir sentir só pelo tato.E é então que eu vejo uma pequena luz, e um portal rodeado de margaridas, iluminado de um jeito que parece ter luz própria. Eu passo por ele e o mundo fica claro mais uma vez. A coisa nas minhas mãos era um buquê, de margaridas assim como no portal, mas diferente dele, vejo respingos de sangue nas pétalas delicadas. Olho pra baixo, e vejo meu vestido branco que era pra ser um vestido de noiva, também manchado de sangue. Estou no caminho para o altar, meus pés não pararam de se mover como se agissem por conta própria, eu tento parar mas não consigo e isso é desesperador. Eu olho ao redor aterrorizada quando percebo corpos sentados nas
POV MASONMe sinto estranho, completamente estranho. Meu lobo deve ter perdido a cabeça em algum momento durante esses últimos tempos, ou pior, eu mesmo devo ter perdido a cabeça.Por que diabos eu trouxe ela para cá? Não consigo ignorar a sensação conflitante dentro de mim, alguma coisa que eu sinto que com certeza está errada. Isso com certeza é sintoma de loucura, tanto a sensação quanto às decisões que tomei e principalmente não ter matado ela quando eu DEVIA ter matado. Por que eu não matei?Eu tinha conseguido, eu realmente tinha conseguido. Agora finalmente eu poderia descansar a cabeça em algum lugar e deixar o peso do meu coração sair. Todos aqueles que foram responsáveis pela maior tragédia da minha vida e a vida de todos que um dia fizeram parte da alcateia de meus pais, finalmente o preço tinha sido pago. Sangue por sangue. Depois de tantos anos, eu finalmente poderia deitar minha cabeça no travesseiro e dormir um sono sem pesadelos. Mas agora, bem agora no momento cruc
POV JudeEu acordo mais uma vez com as vozes que tinham acabado de falar comigo no sonho martelando na minha cabeça.“Foi culpa sua Jude. A culpa foi sua do que aconteceu com a gente. “A cabeça decepada do corpo da minha mãe tinha falado comigo no sonho, e a sua voz arrastada como de um zumbi de filme antigo -Pelo menos os que falam- tinha me causado arrepios, a voz e também o que ela estava dizendo.Realmente era culpa minha que eles tinham morrido, realmente foi culpa minha por eu ter deixado Mason entrar na minha vida. Não consigo deixar de pensar que teria sido mais misericordioso se eu tivesse ido junto com eles. Mas nem mesmo consigo ter certeza de que eu mereço essa misericórdia.Fazia uns dias que eu estava nesse quarto, e ninguém vinha me visitar, a não ser os guardas que me traziam as refeições e em algum dos casos, algumas roupas que com certeza tiraram da minha antiga matilha. Isso foi um combustível e tanto pra chorar até pegar no sono nesse dia, quando percebi que entre
POV MASONEstou andando de um lado para o outro no carpete do escritório, quase abrindo um buraco com meus passos quando burburinhos no corredor chamam a minha atenção. As paredes daqui bem que podiam não ser tão finas.-É verdade então? O que andam dizendo? Ele perdeu mesmo o controle do lobo?-Eu também ouvi sobre isso! Ouço burburinhos vindos do corredor, vozes baixas que pensam que sussurrar é o suficiente pra que eu não as ouça. Faça meu favor. Bato na porta, dessa vez tentando reunir um bocado de controle ao fazer isso, considerando que só essa semana eu tinha conseguido a façanha de quebrar três mesas. Não queria que o mesmo acontecesse com a porta.-ISSO NÃO É HORA NEM LUGAR PRA CONVERSINHAS! VÃO EMBORA DAQUI E NÃO SE METAM ONDE NÃO SÃO CHAMADOS!Ouço passos e depois silêncio. Isso não está certo, nada está certo. Eu realmente não consigo conter o meu próprio lobo, não consigo conter meus pensamentos, não consigo mais controlar nada! Ninguém deveria saber disso, saber que
POV JUDEMeu sentidos deviam estar meio letárgicos, talvez por ter acabado de acordar de algum tipo de sono, como um daqueles cochilos da tarde que tiram toda a nossa noção sobre os nossos arredores e até nós mesmos. Talvez seja fome, esse sono ou o frio, ou até mesmo uma mistura dessas três coisas, mas eu posso jurar que ouço esses passos se afastando. Mais do que ouço, eu VEJO aquelas botas polidas saírem pra longe, em passos firmes e decididos. Também posso jurar que pude ouvir alguém rosnar, mas isso não me fez tirar a cabeça de baixo das cobertas pra conferir. Acho que nada me faria fazer isso, na verdade.Eu só vi elas se afastando e me cobri totalmente de novo, pronta pra voltar pra terras dos sonhos que hoje mais estava parecendo um vale fundo e escuro, o que eu achava muito mais fácil de lidar do que aquele vale dos pesadelos que eu costumava cair hora ou outra. Mas então, em um piscar de olhos, estou direcionada entre braços quentes que pareciam ter vindo tão de repente q