— Me fez ser repreendida pelo meu irmão! Vou te dar uma lição. Divirta-se com o meu cachorro!
No segundo seguinte, a respiração ofegante de um cão de grande porte se aproximou lentamente.
Ele pisou diretamente no meu peito.
Gritei de pavor, e o bebê em meu ventre se agitou ainda mais.
Quando lutei para empurrá-lo, ele mordeu minha mão com força!
Deitada, impotente, no chão frio, ouvia os rosnados do cão, enquanto as lágrimas escorriam silenciosamente.
Em meio à minha consciência turva, quase podia sentir a morte me acenando.
Justo quando pensei que tudo havia acabado, Luísa reapareceu.
Ela puxou o cachorro e chamou meu nome, mas eu não tive forças para responder.
Ela pareceu um pouco assustada e entrou apressadamente.
O porão não tinha eletricidade e estava completamente escuro.
Ela teve que agarrar meus cabelos e levantar minha cabeça para poder ver meu rosto.
De repente, ela soltou minha cabeça, que bateu com força no chão.
— Meu cachorro nunca morde ninguém. Olhe como você está assustada, sua covarde! Por que parou de gritar? Você estava gritando com tanta força quando falava com Aurelio ao telefone, não estava?
Seus olhos estavam cheios de desprezo.
— Já sei. Este é o seu novo plano, fingir-se de morta, certo? Eu te aviso, ninguém aqui será enganado por você novamente!
Ela deu dois passos para trás e se agachou para acariciar o cão, mas sentiu a mão molhada.
Luísa ligou a lanterna do celular e viu que o cachorro estava coberto de sangue.
Antes que eu pudesse sequer explicar, ela enlouqueceu de raiva e chutou minha barriga.
— Cecília! Você enlouqueceu? Como ousa machucar o meu cachorro! A vida dele vale muito mais que a sua!
— Se ele morrer por sua causa, farei Aurelio se divorciar de você!
— Uma vadia cruel como você só poderia dar à luz a outro desgraçadinho, jamais seria digno de ser o herdeiro! E ainda queria dar à luz antes de Ursula? Continue sonhando!
Ela saiu furiosa, e antes de partir, fechou até a janela do porão.
O ar foi se tornando rarefeito.
Meu corpo inteiro tremia incontrolavelmente.
Em minha consciência nebulosa, quase ouvi o choro de um bebê.
Aquela voz infantil me chamava de "mamãe" sem parar, implorando para que eu o salvasse.
Comecei a chorar desesperadamente.
Hoje era o dia em que eu finalmente conheceria meu bebê, o seguraria em meus braços e beijaria seu rostinho macio.
Mas faltava tão pouco.
Por que o destino foi tão cruel comigo e com meu filho?
Acariciei minha barriga com os olhos marejados e murmurei:
— Meu bebê, se houver uma próxima vida, espero que você nasça em uma família mais feliz...
Minha respiração ficava cada vez mais fraca, e parecia que meu sangue também parava de circular.
Nesse exato momento, a porta do porão se abriu e um feixe de luz atingiu meu rosto.
A pessoa que entrou se assustou ao me ver caída em uma poça de sangue.
Usei minha última gota de força para estender a mão em sua direção e sussurrei:
— Salve-me...
Sua voz tremia de medo.
— Quem é você? O que você fez para ser punida assim pelo Sr. Aurelio?
— Eu sou... a esposa de Aurelio.
Estendi meu braço ferido, onde ainda usava a aliança de casamento que Aurelio e eu havíamos desenhado.
Estava manchada de sangue, quase irreconhecível na penumbra.
— É a nossa aliança, única e personalizada.
Ele se aproximou e reconheceu o anel, mas antes de me soltar, hesitou e ligou para Aurelio.
— Sr. Aurelio, encontrei sua esposa no porão. Ela está coberta de sangue e parece estar em estado grave. Devo levá-la ao hospital?
A resposta de Aurelio veio com um toque de perplexidade.
— Sangue? Luísa acabou de vir reclamar que Cecília machucou o cachorro dela. Não imaginei que o ferimento fosse tão sério. Não é à toa que Luísa ficou tão brava.
Seu tom endureceu.
— Não se deixe enganar por ela. Aquele sangue não é dela. Ela está bem, apenas está desesperada para dar à luz antes de Ursula. Deixe-a aí, eu mesmo irei buscá-la mais tarde.
O homem tentou explicar, mas Aurelio desligou o telefone mais uma vez.
Ele me olhou com pena, passou por mim, pegou algumas coisas e saiu.
Quando pensei que ele me ignoraria como todos os outros, ele voltou.
— A senhora está grávida. — Ele disse com firmeza, convencendo a si mesmo. — Não posso deixar uma gestante morrer. Minha esposa também está grávida, e eu gostaria que alguém a ajudasse se ela estivesse em apuros. Por isso, vou salvá-la.
Ele me carregou para fora do porão nas costas e chamou uma ambulância.
Finalmente, respirei um pouco aliviada.
Mas quando chegamos ao hospital, descobrimos que não havia ninguém, nem medicamentos, nem equipamentos médicos.
Os paramédicos fizeram várias ligações até descobrirem que estávamos no mesmo hospital que Ursula.
Preocupado demais com Ursula, Aurelio havia transferido todos os recursos médicos para o quarto particular dela!