Mundo ficciónIniciar sesiónLuiza não conseguiu dormir naquela noite.
Mesmo depois de chegar em casa, trancar a porta e se deitar, o rosto dele continuava vivo em sua mente. Alex, com seus olhos impossíveis — caramelo profundo envolto por aquele halo vermelho-rubi que parecia pulsar como fogo vivo. Quanto mais ela tentava esquecer, mais a imagem retornava, como se algo dentro dela estivesse sendo puxado para ele. Do outro lado da floresta, Alex caminhava em passos pesados até o coração do território. O vento frio balançava os galhos, carregando consigo o eco distante de uivos. Uivos de aviso, de reconhecimento. A alcateia o saudava. A Alcateia da Lua Negra não era qualquer grupo de lobos. Eram antigos, mais antigos do que qualquer registro humano. Cada membro carregava marcas que diferenciavam sua linhagem da de outros clãs. E Alex, como Alfa, carregava a mais estranha e temida de todas. Ele parou diante do grande penhasco onde a lua sempre se refletia negra no lago — a marca que dera nome à alcateia. Não precisava olhar para o próprio reflexo na água para saber o que veria. Aqueles olhos. A cor caramelo de seu pai, herdada da linhagem Alfa… E o anel rubi. A marca da maldição. Ele se ajoelhou na beira do lago. — É assim que vai ser para sempre — murmurou, com a voz baixa. — Até que ela decida. A água se moveu de leve, como se respondesse. **A história dos olhos do Alfa** Há muitos anos — antes de Alex nascer, antes mesmo de seu pai assumir a liderança — a Alcateia da Lua Negra havia sido traída por uma bruxa. Não qualquer bruxa: Lyranne, uma feiticeira capaz de controlar a energia da lua. Ela se apaixonara pelo Alfa da época. E quando descobriu que ele estava destinado a outra, a fúria dela incendiou a floresta. Armas mágicas caíram sobre os lobos; uma guerra destruiu metade da alcateia. Antes de bater em retirada, Lyranne lançou sua última maldição: “Todo Alfa da Lua Negra nascerá incompleto. Seu poder será dividido entre luz e fogo, e apenas sua parceira destinada poderá quebrar a chama que o consome.” Desde então, cada Alfa nascera com olhos divididos entre a cor caramelo da linhagem e o rubi ardente da maldição — o fogo que queimava por dentro, tornando-os mais fortes… e mais instáveis. Mas Alex… Alex era o primeiro em gerações a sentir a maldição despertar antes do tempo. Os mais velhos diziam que isso só acontecia quando a parceira humana — sim, humana — já caminhava pelo mundo. Quando a lua os chamava para perto. E naquela noite, ao ver Luiza na floresta, o rubi em seus olhos ardera tão forte que quase cegava. Ele sabia. A alma dele sabia. Ela era a escolhida. E se ela o rejeitasse… Se ela negasse o vínculo… O fogo rubi tomaria o caramelo por completo. E Alex deixaria de ser Alfa. Se tornaria algo irreconhecível. Algo perigoso até para ele mesmo. Um vulto surgiu atrás dele. Era Carlos, seu segundo em comando, com o olhar preocupado. — Os olhos estão piorando — disse Carlos, cruzando os braços. — Todos sentiram seu poder oscilar. — Eu a encontrei — Alex respondeu sem virar. Sua voz saiu baixa, mas havia nela uma certeza dura como pedra. Carlos respirou fundo. — E ela…? Alex fechou os olhos. A imagem de Luiza — assustada, confusa, mas incapaz de fugir — tomou sua mente. — Ainda não sabe quem é — disse ele. — E não sabe quem eu sou para ela. Carlos hesitou antes de perguntar: — Vai contar a verdade? Alex se levantou devagar, os olhos rubi-caramelo refletindo a luz negra da lua. — Ela precisa saber — disse ele. — Antes que a maldição avance. Antes que eu perca o controle. O vento soprou forte, fazendo o lago escurecer ainda mais. Alex olhou para o céu e pensou nela. A humana que carregava o destino da alcateia. A única capaz de salvar ou condenar o Alfa da Lua Negra. — Luiza — sussurrou ele. — Espero que esteja pronta. Porque a partir daquela noite, quer ela quisesse ou não, suas vidas estavam ligadas. Para sempre.






