PROPOSTA DE AMOR
PROPOSTA DE AMOR
Por: Maria Pulido
PREFÁCIO

Quando você sente que o tempo está acabando, uma vida nova começa...

A morte coloca todos nós, no mesmo lugar; o rico, o pobre, o homem, a mulher... Não há diferença quando ela b**e à sua porta, apenas a tristeza pelo vazio que deixam aqueles que partiram.

Quando você sente que não tem mais nada a fazer, que tudo o que resta é sofrer a dor mais profunda, o tempo para completamente...

—Sam! Por favor! —Vai embora…! Minha mãe grita, com o rosto inchado e tão cheio de sangue que seus lábios tremem incontrolavelmente quando pega as mãos daquele homem, implorando para ele parar, mas ele não para.

Não o fez.

Tento mandar minha mente agir, mas ela me ignora, meu corpo está literalmente paralisado de medo.

Ele a segura pelo pescoço enquanto desfere outro golpe em seu rosto.

Que ironia, aquele mesmo homem que ao amanhecer diz a ela que a ama, que não quis fazer isso, que o perdoe, que não vai acontecer de novo... esse é o mesmo homem que no dia seguinte após cada embriaguez, promete que vai mudar.

Bom! Agora ele tem seu corpo como se fosse um saco de areia, é no corpo da mãe onde ela tira sua desgraça e suas dívidas, que aparentemente são culpa dela.

Não posso ir embora, não posso, só tremo dos pés à cabeça, chorando sem parar, gritando para ele deixá-la em paz. Minha garganta aperta de dor, mas agora o que preciso é tomar uma decisão rápido porque senão minha mãe vai morrer nas mãos daquele homem.

Minhas calças estão molhadas, minha camisa está grudada em mim como uma segunda pele e o suor cobre todo o meu corpo. Não sei que horas são, foi uma noite tão longa que já perdi a noção do tempo, mas só espero que amanheça logo.

Como se uma vozinha sussurrasse em meu ouvido, vendo a bagunça espalhada na cozinha, me viro para o lado esquerdo e vejo a parte de acima de uma garrafa de cerveja quebrada, caída no chão perto de muitos copos.

—Pegue, faça —diz minha voz interior; então sem pensar muito e mesmo que minhas pernas tremam e eu não tenha certeza delas, corro em direção da garrafa e pego, mas o nervosismo é tão forte que, na hora de me abaixar, perco o equilíbrio escorregando um pouco, e por ato do reflexo coloco minhas mãos no chão deslizando um pouco para frente.

Dói pra caramba! 

Vários fios de sangue escorrem pelo meu pulso, há um corte profundo nele, literalmente me cortei, culpa da minha falta de jeito. Sem me importar com a dor, pego o bico da garrafa quebrada e corro para a frente onde observo o corpo de minha mãe em total calma.

Ela desmaiou.

Ela está deitada no chão, seu corpo só se mexe porque o homem a chuta nas costelas, uma dor profunda se gesta em meu peito quando vejo seu estado. Eu coloco as mãos sobre minha boca e os soluços saem incontrolavelmente; raiva, fúria, impotência dominam todo o meu ser.

Eu odeio isso! Eu odeio aquele homem!

O mais rápido que posso, corro, corro em direção a ele com apenas um pensamento na mente.

Salvar mamãe.

Eu me jogo em cima do sujeito, enfiando a garrafa em suas costas quantas vezes fosse possível, aplicando toda a força que vem do meu corpo. Mas minha força é tão fraca, e o medo tomou conta de mim, que não consegui fazer muito mal a ele.

—MERDA!!! —Grita o desgraçado—. Mas o que você fez comigo?! Você deveria ter ouvido sua mãe!

Corro com todas as minhas forças em direção à porta, preciso sair, preciso de alguém para nos ajudar. Não sei quando vai aparecer alguém, também não sei se o Joshua vai chegar a tempo, tudo que eu quero é conseguir pegar minha mãe e tirá-la daqui, preciso que ela saiba que temos que deixar este homem e fugir daqui. E também entenda que tudo vai dar certo, que logo vamos acordar desse pesadelo.

Consigo agarrar a maçaneta, o tremor de todo o meu corpo já tomou conta de mim, mas me obrigo a fazer o que é necessário. Eu giro a maçaneta e abro a porta, imediatamente um forte puxão

faz

meu couro cabeludo queimar, eu grito de dor, tropeçando para trás, e caindo em cima de várias panelas que minutos atrás foram espalhadas quando a luta começou.

Eu coloco minhas mãos no chão para me levantar, mas sem sucesso, um soco bem na minha bochecha, faz minha cabeça bater no chão.

Então um zumbido ecoa na minha cabeça, embaçando minha visão e me deixando completamente tonta.

—Fique assim.

Eu gostaria de me levantar, mas há uma grande fraqueza em meus sentidos, vejo um chute vindo em minha direção que atinge meu estômago, e a vontade de vomitar começa a me enfraquecer ainda mais, então tusso várias vezes para recuperar o fôlego.

Imediatamente ouço minha mãe gritar ao fundo.

—Deixe-a filho da put@! Sou eu que você quer, não é?

Mãe! Acordou! Está viva!

Sinto esperança ao ouvi-la, de certa forma uma sensação de alívio apesar de tudo que está acontecendo, me acalma.

Então um barulho, como se muitas coisas estivessem caindo de novo, me faz abrir os olhos imediatamente e tento me sentar. Utensílios de cozinha; colheres, garfos, copos, caem no chão enquanto o homem revira uma gaveta.

Num piscar de olhos minhas esperanças estão caindo aos pedaços, o homem se levanta rapidamente e pega uma faca e caminha na direção da mamãe.

Não…! Não! Não! Não!…

Eu me odeio por não conseguir controlar minha tontura, me odeio por estar tão fraca e não conseguir me levantar. Então, como último esforço, meus olhos se conectam aos dela; e lá está ela, me olhando com lágrimas nos olhos se desculpando com o olhar e com os gestos, ela me olha como se estivesse desistindo.

—Calma... —sua boca gesticula.

—Mãe... não... —Consigo pronunciar com dificuldade, acho até que as palavras não foram audíveis.

O homem enfia impiedosamente a faca em sua barriga, puxando-a para fora e enfiando-a várias vezes.

NÃO…

Uma dor aguda perfura meu peito junto com seu grito intenso. A dor e a impressão que minha visão agora tem são indescritíveis, não aguento mais, não pode estar acontecendo, não.

Então me deixo levar, me deixo esvair com a fraqueza que toma conta do meu corpo, e fechando os olhos, uma escuridão lentamente começa a me cobrir...

Coração ou razão? Dependendo de quem te orientar, você sofrerá mais ou menos na vida. E eu já tinha sofrido demais na minha.

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