Os Gêmeos de Naskra
Os Gêmeos de Naskra
Por: Victoria Lucchesi
Capítulo Um

Enquanto andava pelas ruas lotadas da feira de Holirya, capital comercial de Naskra, Tess olhava os bolsos mais do que às pessoas.

As damas, sempre com quilos de jóias para atrair os nobres que passavam por ali sempre que havia feira, era o que a atraia até ali. Mas um homem, de aparência rica, chamou sua atenção mais do que as damas. Ele mantinha um saco de couro cheio de moedas amarrado à alça do cinto.

Tão fácil, ela sorriu.

Como Finn a ensinara, ela esbarrou no homem e quase foi ao chão. Recobrando o equilíbrio, ela se virou para o homem com os olhos azuis brilhando com a inocência que nunca teria.

" Sinto muito, senhor. " Ela puxou a trança de cabelos castanhos-claros para o ombro direito.

O homem lançou-lhe um olhar de nojo, como se ela fosse um ser extremamente inferior a ele. " Que não se repita."

Então saiu andando com toda a sua arrogância. Nas mãos da garota, a bolsinha de moedas era um peso bem-vindo. Com as mãos leves, puxara a ponta solta que desatou o nó, fazendo com que o ouro caísse diretamente nos dedos ágeis dela.

Tess foi para um canto da rua, num beco, e contou o dinheiro. Mais vinte e cinco moedas de prata e quatro de ouro para a bolsa maior cuidadosamente presa a si. Já havia conseguido meia dúzia de jóias e bastante ouro e prata.

Como combinado, Tess varreu os lados norte e leste da feira enquanto o irmão varria os outros. Com dedos habilidosos, a ladra ia abrindo fechos de pulseiras de ouro, surrupiando anéis com safiras e pegando bolsas de prata.

Ao final de quase duas horas no sol escaldante, parou na taverna preferida e entrou para descansar. Como faziam pelo menos duas vezes por mês, Tess entrou no Garras de Tigre, desviando com a facilidade de uma cobra dos bêbados que tentavam agarrá-la, e sentou-se numa mesa de dois lugares no canto mais afastado do balcão de bebidas.

Jogou uma moeda de prata para o atendente, que trouxe um copo de suco de cileno, uma frutinha alaranjada.

A frieza das adagas gêmeas faziam-na sentir confortável enquanto o metal estava pressionado em suas botas. Num lugar como aquele, era estupidez ficar desarmada.

A porta abriu e segundos depois um jovem de cabelos loiros como trigo sentou-se na frente de Tess.

" Quanto ouro conseguiu hoje, Finn?" Ela perguntou, sinalizando para o atendente.

" O suficiente. Mas não sabe o que eu ouvi." Ela ergueu as sobrancelhas e ele continuou. " Parece que aquele tal duque de Korlims está na cidade e irá ao baile de inverno hoje. " Ele gargalhou de alegria.

Dois mercenários passaram à mesa deles e um deles deu um passo na direção da mesa dos irmãos, os olhos fixos em Tess que já pegava uma das adagas. Mas o outro agarrou o braço do amigo, os olhos fixos na espada de Finnick.

No ano anterior, Finnick havia conseguido–melhor dizendo, roubado–a espada de um dos guardas do castelo do Lorde de Holirya. A espada tinha no punho um misto de ouro e bronze que terminava numa safira reluzente. A lâmina era boa o suficiente para cortar um homem em dois. A bainha já era ameaçadora o suficiente para intimidar até dois mercenários. E Finnick sabia exatamente como usar a espada.

O atendente deixou uma caneca de cerveja e ganhou duas moedas de prata, mais do que o valor. Agradecendo, ele saiu.

" Sabe, seu aniversário de dezoito anos está chegando. Pensei em irmos para Joraele e passarmos uns dias por lá. Talvez ficar com Maya e seu grupo. Eu sei o quanto gosta daquela cidade e podemos ir se quiser. " Finnick sugeriu.

Os olhos da garota brilharam. " Mesmo? Acha que Maya deixaria que ficássemos lá? " Ela quase quicava na cadeira.

Seu irmão riu. " Claro que sim. Sabe como o líder dela adoraria nos ter no grupo dele. Ainda mais quando eles ficam tão próximos da Fronteira. "

A Fronteira era um muro de mármore que separava o mundo humano e feérico. Só o nome do lugar já dava calafrios à ela.

Jamais um humano havia visto o muro e voltado para contar a história. Dentro, os três reinos feéricos imperavam. As rainhas feéricas Maeve, Mab e Mora mantinham suas cortes e suas legiões. Mas Mora mantinha a vantagem: os Gêmeos da Legião Congelada.

Os Gêmeos eram, segundo as histórias, Clio e Garnett. Nasceram humanos mas, depois de nascer, foram agraciados pela Deusa Mãe e ao fazerem dezoito anos suas almas completaram a ligação. Hoje, Clio mantinha a água sob seu controle e Garnett controlava metais. Juntos, eram mortais e imbatíveis.

Segundo as lendas, quando o primeiro casal de Gêmeos completasse a ligação, outros os seguiriam até completarem os sete casais escolhidos pela Deusa. Então, depois de entrar no reino feérico e aprender a manusear os dons, escolheriam uma das três rainhas para se aliar. Havia boatos de que três casais estavam na Academia Escarlate, o lugar onde os Gêmeos treinariam para usar os dons.

Mas, sinceramente, Tess achava tudo aquilo uma farsa. Jamais vira um feérico, jamais viu qualquer indício de magia em seu reino. Mas diziam que nas Terras dos Três Reinos, todo e qualquer descendente feérico seria bem-vindo. Mas ela não acreditava em nada que não pudesse ver. Ela se recusava a recordar da única exceção, quando seus pais foram mortos pelos...não, ela não pensaria naquela noite, não na frente de tanta gente.

Já Finnick havia enchido o saco dela até completar dezoito anos dizendo que amaria os deuses se eles permitissem que ele fosse um dos Gêmeos. Finn sempre acreditara na magia, por algum motivo.

" Muito bem. Eu vou ao maldito baile esta noite e depois partimos para Joraele. " Ela disse.

Finnick sorriu. " Trate de encher sua bolsa com as jóias da nobreza. Agora vamos, precisamos achar um vestido para você. "

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