CamilaA manhã estava tranquila e rotineira na lanchonete, apesar do movimento aumentar em determinados momentos, mas nada que não dessemos conta.Ajudava a cozinheira com os pedidos da manhã, distraída em meio ao vapor das panelas e o aroma de café e panquecas, que tornavam o ambiente acolhedor.Estava enfileirando pratos no balcão, organizando o próximo pedido, quando a porta da cozinha se abriu, e uma das garçonetes, Carla, entrou com uma expressão meio divertida no rosto.— Camila, um cliente pediu pra ser atendido só por você — ela anunciou, me estendendo um bilhete com o pedido.Franzi a testa, intrigada. Não era comum que alguém fizesse questão de um atendimento específico. Peguei o pedido da mão dela e olhei de relance para a mesa que ela apontou. Vi um homem com o rosto coberto pelo cardápio e caminhei na direção dele, preparando um sorriso educado para o desconhecido.Ao chegar à mesa, parei, esperando que o cliente baixasse o cardápio. E então ele o fez — e eu engoli em sec
JavierAssim que chegamos em casa, a atmosfera estava tensa. O ambiente luxuoso e cuidadosamente decorado não fazia nada para aliviar a pressão que pairava entre nós.O aroma familiar do café e do couro polido da mobília preenchia o ar enquanto seguíamos em silêncio até o corredor que levava aos nossos quartos. Camila caminhava à frente, os passos firmes e decididos, mas eu podia sentir sua ansiedade a cada movimento.— Camila, espera um momento — chamei, mantendo o tom calmo enquanto a seguia até o quarto.Ela parou e se virou para mim, cruzando os braços como se estivesse se protegendo de um ataque. O olhar duelista or nos olhos dela me fez entender que ela estava pronta para qualquer tipo de batalha.— O que foi agora? — perguntou, com um tom sarcástico que deixava claro que estava longe de estar satisfeita.— Precisamos conversar sobre o que falri no carro — disse, tentando manter um tom neutro, mas as palavras pareciam pesadas na língua.— Ah, claro. Vamos falar sobre o que realm
Camila As batidas na porta me tiraram dos pensamentos que rodopiavam na minha cabeça como uma tempestade. Quando abri, me deparei com Carmen, a governanta, me olhando com um ar de impaciência.— Olá, senhora Herrera — disse, sem muito entusiasmo, como se tivesse certeza de que eu não estaria empolgada para o que vinha a seguir. — Está na hora de aprender como as coisas funcionam por aqui. Afinal, você é a senhora desta casa, e há certas responsabilidades que cabem apenas a você.E lá vem mais responsabilidade...A última coisa que eu esperava era uma aula de administração doméstica, mas Carmen não me deu tempo para discutir. Ela virou-se, acenando para que eu a seguisse, e eu, com um suspiro resignado, fui atrás dela.Descemos as escadas, passando pelo longo corredor que levava à cozinha, e durante o trajeto ela começou uma explicação minuciosa sobre as rotinas da casa. Falava dos horários de limpeza, dos funcionários que ficavam à disposição o tempo todo e até dos detalhes mais bana
CamilleA manhã seguinte parecia carregada de uma tensão quase tangível.Os olhares dos funcionários sobre mim eram julgadores, repletos de uma desaprovação que eles nem tentavam esconder. Era óbvio que ninguém havia gostado do que eu fizera na noite anterior.Suzu não me olhou diretamente, mas eu sabia que ela também me culpava pelo que tinha acontecido com Javier. E Carmen, sempre rígida e organizada, parecia me observar como quem avalia uma criança que cometeu uma travessura imperdoável.Fui deixada para tomar o café da manhã sozinha. O salão de jantar estava silencioso, o que me deu tempo para refletir sobre os olhares e o que eles significavam. Eu sabia que havia quebrado a regra frágil do código daquela casa: inimigos ou não, Javier tinha poder, e sua segurança, aparentemente, também era responsabilidade de todos ali.Depois que terminei, Carmen se aproximou, como se nada houvesse acontecido, e calmamente sugeriu que discutíssemos as refeições do dia. Eu sabia que era um aviso v
CamilleAs palavras de Roberta não saíam da minha cabeça. A menção ao que Juan Carlos poderia fazer caso eu não cumprisse seu pedido me mantinha em um estado de alerta incômodo.Minha cabeça girava enquanto eu tentava organizar uma estratégia, até que, em um impulso, me aproximei do escritório de Javier. O coração acelerado, minha mão parou antes de tocar a porta. A realidade do que eu estava prestes a fazer me atingiu, e a ideia de ser pega por alguém, ou, pior, que Javier descobrisse, fez com que eu me afastasse rapidamente.Eu precisava encontrar outra forma. A esposa que ele esperava que eu fosse... As palavras de Roberta eram uma provocação e um guia. Uma maneira de baixar a guarda de Javier, ao menos o suficiente para que eu pudesse me aproximar dele sem levantar suspeitas. Então, tive uma ideia que parecia uma tentativa de paz: talvez se eu preparasse o almoço para ele, poderia usar o gesto como uma bandeira branca.Assim que entrei na cozinha, o movimento lá dentro pareceu con
JavierEnquanto mastigava o spaguete, sentia o sabor inesperadamente bom da comida, e uma pontada de incredulidade me acompanhava. Camille realmente havia preparado o almoço? Claro, o prato era básico, mas ainda assim… Um sorriso irônico se formou no meu rosto enquanto observava cada expressão dela.Nunca pensei que a veria tentando qualquer coisa que soasse como "aproximação". Logo ela, que parecia se esforçar tanto para me manter à distância, havia se encarregado de um dos detalhes que, até então, provavelmente consideraria abaixo dela, logo depois de quase ter me matado. Alguma coisa nesse gesto não fazia sentido para mim — não se encaixava com a garota que preferiu fazer um jantar alérgico só para me irritar.Ela mantinha o olhar fixo no prato, como se estivesse deliberadamente evitando o meu, mas notei que os ombros estavam tensos.Decidi não dizer nada por enquanto, mas minha mente trabalhava a todo vapor. Fosse lá o que fosse que ela estava tentando, ou quem estava por trás da
CamilleO quarto estava silencioso quando entrei, as cortinas levemente abertas deixavam a luz dourada do fim de tarde entrar. Ao fechar a porta atrás de mim, foi então que notei a caixa sobre a cama.Era elegante, prateada, com um laço preto perfeitamente amarrado. Franzi o cenho enquanto me aproximava, deixando minha bolsa de lado. Não havia nenhum bilhete, nenhum indício de quem havia deixado ali, mas eu sabia exatamente de quem era.Minha mão deslizou pela lateral da caixa, sentindo a suavidade do material. Soltei o laço com cuidado e levantei a tampa devagar. Assim que o fiz, um perfume suave e envolvente encheu o ar.A sensação foi quase mágica, como se aquele momento tivesse sido planejado nos mínimos detalhes.No interior, um tecido tão preto quanto a noite estava dobrado com precisão. Peguei o vestido com cuidado, permitindo que o tecido escorresse pelos meus dedos como água.O decote nas costas era ousado, mas ao mesmo tempo elegante, e as linhas do vestido sugeriam que ele
JavierEnquanto o carro avançava sem qualquer sinal de congestionamento, desejei, contra toda a força, que algo surgisse para atrasar nossa chegada.Até aquele momento não tinha sentido essa necessidade, mas ali estava eu, ansioso para prolongar aquele momento com Camille.Não sabia se era o vestido impecável que abraçava suas formas de maneira hipnotizante ou algo mais profundo, algo que ainda não tinha coragem de nomear. A única coisa certa era o incômodo crescente que se formava no fundo da minha mente ao pensar nos olhares que ela atrairia aquela noite. Não suportava a ideia de outros homens a enxergando da mesma forma que eu naquele momento.Quando o carro estacionou diante das escadarias do prédio iluminado, me forcei a esconder qualquer traço de insatisfação. Saí do veículo rapidamente e contornei até o lado dela, abrindo a porta antes que o motorista sequer considerasse fazer isso.Ela hesitou por um momento, seus olhos buscando os meus como se quisesse prever minhas intenções