Capitulo quatro

Seja bem-vinda

Piercings, cabelos cor-de-rosa, um olhar sombrio. Daqueles tipos de que já vem escrito "Cai fora" em suas íris, combinados com um sorriso lindo e dentes perfeitos.

Garotas assim são difíceis de se encontrar por aí. A maioria só quer chamar a atenção, conseguir inflar o próprio ego, pisando em outras pessoas apenas por diversão. Mas não Ana, Ana Anderson. Ela era assim por natureza. Preferia guardar seu lado doce para sí mesma.

Sentia que não era bom se entregar logo de cara, ser simpática com quem não devesse ou merecesse. Empatia só era bom quando houvesse reciprocidade. RE-CI-PRO-CI-DA-DE. Ta aí uma palavra que ela sempre prezou. Mas nunca provou da mesma.

Logo em seu primeiro dia de aula na faculdade em Albizu University - Miami, uma das mais renomadas universidade da Flórida, Ana sentiu um leve desconforto em seu estômago. Sentiu por um instante que sua vida daria um passo gigante, como se mudanças fossem ocorrer. Talvez para melhor, talvez para pior... Não dava para saber :

- Vamos.. Você vai se atrasar, Ana. - Disse Peter, ao abrir a porta do quarto de sua filha.

- Já estou indo, pai. Só estou terminando de pegar algumas coisas.

- Estou te esperando lá fora, dentro do carro. Não demore. - Disse ele, frio.

- Sim senhor!

Peter saiu para retirar seu carro da garagem enquanto Ana deu uma última olhada em um espelho que estava

mal pendurado em sua parede. Ainda não havia arrumado seu quarto como deveria. A bagunça da mudança para a casa nova ainda estava em evidência. Caixas cheias de coisas ainda estavam perdidas pelo quarto todo.

Ana desceu as escadas após fechar a porta do seu quarto, passou pela cozinha e pegou uma maçã e logo foi para fora, encontrar seu pai.

O carro já ligado e pronto para partir, uma BMW antiga, preta em fosco. Um carro bonito porém bem ultrapassado. Peter olhou para sua filha e abriu a porta por dentro, para que ela pudesse entrar :

- Entre, precisamos repassar algumas coisas! - Ele disse.

O tráfego não estava ruim e o trajeto até a universidade não era tão longe, só iria demorar dez minutos até o destino. Mas Peter não desperdiçou nem um segundo sequer : - Você se lembra de tudo o que eu te contei, não é?

- Sim, pai!

- Eu não quero que se repita o que acontecia na Califórnia, Ana. - Disse Peter, encarando Ana com um olhar ameaçador. - Nos mudamos para cá por um único propósito. Não era minha escolha mas foi preciso. Então, se mantenha na linha.

- Pode deixar! Eu já entendi. - respondeu a garota, seca.

- E só pra relembrar, você vai passar muito tempo sozinha em casa. Não quero nenhuma garota lá, nenhuma namorada, amiga ou qualquer coisa desse tipo.

- Mais alguma ordem, senhor? - Perguntou Ana, irritada.

- Não use seu sobrenome.. Por causa do seu tio, nós estamos marcados. Ainda estou resolvendo a questão de mudar nossos sobrenomes. Ainda mais aqui na Flórida, é perigoso saberem quem somos.

- Vai me contar o que o tio Rayn, a qual eu nunca vi na vida, fez?

- Isso não é da sua conta! Mas só saiba que você não deve sair por aí dizendo seu nome de verdade.

- E que nome eu vou usar?

- Seu nome do meio...

- Ah tá! Ana Da-ra. Tá certo.

- Chegamos! - Exclamou Peter ao estacionar o carro na frente da universidade. - Vamos.. Desça. Você já tinha que estar lá dentro. Vai perder a orientação.

- Ok.. Até mais. - respondeu Ana, descendo do carro.

- Não esqueça de tudo o que eu te falei... ANA DARA.

- Não vou esquecer... PETER.

O carro arrancou para o final da rua, Ana ficou parada olhando seu pai ir embora. Depois que o perdeu de vista, subiu as escadas enormes e interminaveis da universidade. Entrou pela porta e sentiu todos os olhares se voltarem para ela. Ana era bonita. Correção. É bonita! Mas se sentia estranha, então quaisquer olhar fazia ela lembra de se sentir assim. Cânceriana. Paranóica.

Respiração: precisava controla-la antes que entrasse em colapso e tivesse mais uma de suas crises de ansiedade.

Ana procurou pela multidão aonde seria a tal orientação, até ouvir um grupo de pessoas falando sobre a universidade e as grandes honras que eram fazer parte dali. Ela se juntou ao grupo e tentou ao máximo ouvir o que uma das garotas estavam dizendo. Certamente ela veterana e estava tentando ser gentil com os calouros.

Após a garota terminar de falar, o grupo começou a segui-la para um tour pelo campos. O lugar era imenso. Todo em azul, branco e vermelho. As cores da Albizu Miami. Tinha três andares, muitas escadas, muitas salas. Um campo de futebol americano enorme. Algumas líderes de torcida esnobes. Nada fora do padrão. Do normal.

Após a orientação, Ana decidiu procurar a recepção para pegar sua grade de aulas. E ao chegar lá, percebeu que havia uma outra garota que também parecia estar fazendo a mesma coisa que ela.

A garota era loira, olhos azuis, cabelos longos, usava óculos. As roupas eram normais. Parecia uma patricinha. Coisa de garota padrão. Mas tinha alguma coisa nela que chamou a atenção de Ana na mesma hora. Algo invisível, uma rebeldia interna, esperando para ser liberta :

- Com licença! - Disse a garota loira, para a recepcionista. - Eu vim pegar minha grade de aulas.

- Chegou atrasada... Senhorita...

- Bucker.. Olivia Liz Bucker. - Respondeu a garota loira. Ana ao ouvir, logo tentou puxar na memória onde já tinha ouvido esse nome tão familiar. Mas não conseguia pensar em alguma coisa, a tal Olivia era linda demais.

- Olivia... Bucker? - Perguntou a recepcionista, espantada - Você é filha da Olivia Bucker? Seu tio é o Bryan Bucker?

- É... - Liz olhou para os lados e logo percebeu que todos a olhavam - Sou.. Olivia é minha mãe.

- Seu tio é um grande contribuinte dessa instituição. - Disse a recepcionista, sorrindo.

- É.. A família toda estudou aqui!

- Você não vai dar problemas como sua mãe, não é?

- Eu acho que não!

- Ótimo! Seja bem-vinda a Albizu! - Exclamou a recepcionista - Aqui está a sua grade.

- Obrigada!!

- Próxima! - Gritou a recepcionista.

Liz caminhou sem olhar para os lados, apenas se concentrou em achar a sala de química. Mas ao virar o corredor, ela olhou para trás. Para ver aquela garota de calça jeans rasgada no joelho. A garota com incrivelmente olhos verdes escuros.

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