Ao chegarem, Jacob pediu que Alfred os acomodassem no quarto de hóspedes. Marília adormeceu quase imediatamente, exausta. Gustavo também, e Larissa por sua vez não conseguiu dormir.Jacob e Larissa ficaram na sala. Ela segurava uma caneca de chá quente entre as mãos, sem realmente beber. O olhar dela estava distante, mergulhado nas lembranças.— Eu sinto tanto a falta dela, Jacob... — disse, de repente, com a voz embargada. — Tudo aqui ainda parece um pesadelo. Como aconteceu... tão rápido, tão cruel. Ela era tudo para mim. Era o meu mundo...Jacob se aproximou, sentando-se ao lado dela no sofá. Colocou a mão sobre a dela, com cuidado.— Eu sei que nada que eu disser vai amenizar essa dor... — murmurou. — Mas eu estou aqui. Para tudo. Para te ouvir, para te segurar quando você cair... e para lembrar, com você, de quem ela foi.As palavras de Jacob pareciam acalmar algo dentro dela, mas também traziam à tona a dor mais funda. Ela começou a chorar baixinho, quase em silêncio, mas com o
Jacob retornou logo depois, com um semblante preocupado.— Larissa… me perdoa, mas eu vou precisar voltar para a empresa agora. É urgente. Tem uma reunião importante que eu não posso deixar de comparecer.Ela assentiu, compreensiva, apesar do cansaço evidente.— Tudo bem... eu entendo. Já fez muito vindo comigo até aqui.Jacob segurou sua mão com carinho.— Eu vou deixar você e o Gustavo em casa. Seus tios e primos já devem estar lá, certo?— Sim... — ela respondeu, forçando um sorriso breve. — Eles disseram que estariam me esperando. Quiseram ajudar com o almoço, e... sei lá, só estar perto.Ele beijou sua testa com delicadeza.— Me liga se precisar de qualquer coisa. Assim que terminar essa reunião, eu volto para você. Prometo.— Obrigada, Jacob. Por tudo.Enquanto ele abria a porta do carro para ela e Gustavo entrarem, Larissa lançou um último olhar para o cemitério ao longe, onde o túmulo recém-fechado descansava sob as flores. E, em silêncio, sussurrou para si:— Adeus, mãe... eu
Jacob entrou na empresa como um furacão controlado. Seus passos rápidos e decididos ecoavam pelos corredores de mármore enquanto os funcionários desviavam, cumprimentando-o com acenos respeitosos. Ele mal respondia. Havia um ar de urgência em seu semblante — e não era apenas devido à conversa inacabada com o pai ao telefone.Quando chegou diante da porta do imponente escritório de Willian Lauder, nem bateu. Apenas entrou, fechando a porta com firmeza atrás de si. Willian estava de pé, junto à janela panorâmica, observando a cidade com as mãos nos bolsos e o cenho franzido.— Que bom que chegou. — disse ele, sem se virar de imediato. Quando o fez, seu olhar era direto, prático, mas carregava certa tensão. — Sente-se. Precisamos conversar rapidamente antes da reunião.Jacob obedeceu sem dizer uma palavra. Sentou-se diante do pai com sua habitual elegância, o terno alinhado, os gestos calmos. Cruzou as pernas com leveza, mas por dentro estava em alerta, como se esperasse uma bomba.— Sim
Sentada à beira de uma mesa longa, de vidro fosco, cercada por pastas, fotos de modelos e uma equipe de assistentes que sussurrava entre si. Ao vê-lo, ela se levantou lentamente, como quem já esperava por aquele momento com a precisão de um relógio suíço.— Jacob. — disse ela, com um leve sorriso que não alcançava os olhos. — Sempre pontual. Ou devo dizer... desesperadamente pontual?Jacob manteve o semblante sério, a expressão neutra.— Não vim aqui para discutir ironias, Istela. Estou aqui a trabalho. Meu pai disse que você preparou algumas candidatas.Ela se aproximou, o salto de seus sapatos ecoando suavemente no piso polido.— Claro. Selecionei cinco meninas. Jovens, profissionais, mas inexperientes com esse tipo de apresentação. Será um risco — e você terá que escolher bem. — Ela fez um gesto com a mão, chamando uma assistente. — Dê ao senhor Lauder os portfólios.Jacob pegou a pasta, abriu e começou a folhear rapidamente os dossiês. Fotos, medidas, histórico de desfiles. Mas se
Após a última candidata se retirar da frente do pequeno palco, o silêncio recaiu sobre a sala. Os olhos de todas as modelos estavam voltados para Jacob, esperando por qualquer sinal — uma palavra, um gesto, uma expressão que pudesse indicar quem seria escolhida. Mas ele permaneceu imóvel por um instante, com o olhar fixo nas anotações que segurava.Lentamente, levantou-se. Seu semblante era sério, os ombros carregavam o peso de algo muito maior do que uma simples decisão de casting. Caminhou com passos firmes até o centro da sala, onde olhou para todas as modelos. Seu tom, quando finalmente falou, era grave, reflexivo:— Senhoritas... cada uma de vocês demonstrou talento, elegância e profissionalismo. Mas eu preciso ser honesto com vocês. — Ele respirou fundo, passando os olhos por todas. — Este desfile não é apenas um evento. Não é só sobre moda. É... sobre transformação, superação.O silêncio da sala agora era quase sufocante.— Técnica é importante — continuou ele —, mas o que proc
O vento soprou suavemente, bagunçando os cabelos ruivos de Larissa Wolverie enquanto ela observava o horizonte da janela de seu pequeno apartamento. Seus olhos verdes, vivos como esmeraldas, carregavam o peso de muitos segredos e dores. Ainda jovem, aos 22 anos, Larissa já havia experimentado o tipo de sofrimento que muitos só enfrentam em uma vida inteira.Ela era o tipo de mulher que chamava atenção onde quer que passasse – não apenas pela beleza incomum, mas pela força silenciosa que exalava de seus gestos, de seu olhar firme e da forma como enfrentava o mundo. Mas por trás da postura determinada havia uma história marcada por perdas, dúvidas e uma promessa de recomeço.Cinco anos antes, sua vida desmoronou de forma brutal.Ela tinha apenas 17 anos quando encontrou o corpo de seu pai. Um tiro na cabeça. Sangue no chão. Silêncio. Até hoje ela não sabia ao certo o que havia acontecido. Teria sido suicídio? Ou alguém o matou? A polícia encerrou o caso com rapidez, sem respostas. Apena
Jacob Lauder sempre foi um homem reservado, mas com um coração intenso e uma alma que buscava o amor com a mesma paixão que dedicava à vida. Aos 22 anos, encontrou o que julgava ser seu final feliz: Aline Santoro. Uma mulher doce, forte, enigmática. Os dois se apaixonaram rapidamente, e logo estavam vivendo uma vida de sonhos — uma casa acolhedora, tardes de risadas, viagens espontâneas e madrugadas cheias de promessas sussurradas entre lençóis.Durante cinco anos, Jacob acreditou que tinha tudo. Cada gesto, cada palavra trocada com Aline, parecia confirmar que ele havia feito a escolha certa. Ela era o seu lar, seu porto seguro, sua melhor amiga.Mas nenhuma felicidade permanece intocável quando há segredos enterrados.Aline carregava um silêncio antigo dentro de si, algo que jamais teve coragem de contar. E esse segredo não era pequeno. Era do tipo que podia desmoronar castelos, romper laços de sangue, e queimar tudo o que antes parecia eterno.Ela era filha adotiva de Madeleine San
O sol tingia o céu de laranja e dourado enquanto se escondia no horizonte. A brisa salgada soprava com mais força, trazendo um friozinho que contrastava com o calor do dia. Larissa sentia a areia fina grudando em seus pés enquanto recolhia os pertences espalhados. As toalhas úmidas, os chinelos cobertos de areia, a bolsa de palha que a mãe insistia em carregar – tudo precisava ser organizado antes de voltarem para o hotel. Gustavo, seu irmão caçula, corria pela praia, os pés afundando na areia quente antes de mergulharem na espuma gelada das ondas. Ele gargalhava, aproveitando cada segundo como se o mar fosse um presente raro. E, de certa forma, era. Era a primeira vez que Gustavo via o mar. Larissa suspirou, ajustando a bolsa no ombro. O vento bagunçava seus cabelos enquanto observava a mãe caminhar lentamente até o carro. Giovana parecia cansada, como se a própria existência lhe pesasse nos ombros. — Gustavo, vamos indo! — Larissa chamou, tentando soar firme. O garoto parou por