A noite foi difícil. Dormi mal e, assim que amanheceu, mandei uma mensagem para o Gabriel. Tinha pedido à minha irmã que conseguisse um celular novo. Marquinho também acordou cedo, já perguntando pela mãe. Eu ainda não tinha notícias, mas Gabriel garantiu que ela continuava lutando pela vida. Sabia que precisava descer para o café da manhã, então preparei o Marquinho e o avisei de que era melhor ele ficar na cozinha com a cozinheira. Aquele menino não precisava ouvir os desaforos que, com certeza, minha avó soltaria. Minha intenção era entender como estava o clima na família e depois correr para o hospital, saber do estado da Maria e falar com Gabriel sobre o processo do Diego. Quando enfim cheguei à sala, todos já estavam à mesa. Ninguém sabia ao certo como se dirigir a mim. Pelo olhar da minha mãe, pude imaginar que Grace tinha contado tudo o que eu disse e ela, claramente, não aprovava a situação, provavelmente estava morrendo de medo da minha avó, com toda a
Quando cheguei em casa, esperava encontrar minha avó já armada para mais uma discussão, mas, para minha surpresa, todo mundo tinha saído e apenas minha mãe estava em casa. Não precisei de muito para adivinhar que tinham delegado a ela a missão de conversar comigo e colocar juízo na minha cabeça.Avisei que precisava cuidar do Marquinho primeiro. Minha mãe não disse nada. Levei ele para tomar banho e se trocar. Depois de um dia cheio, o menino estava cheio de sono. Não conversamos muito, falei apenas que, no dia seguinte, podíamos ir de novo ao hospital falar com o Gabriel sobre o estado da mãe dele. Marquinho tinha voltado a ser um menino mais quieto e calado,Toda a situação era muito complicada, e ele tinha medo de perder a mãe. Na nossa preocupação, a gente se entendia, mesmo sem conversar muito. Acompanhei ele no jantar, e só depois que ele dormiu e eu tomei banho é que fui conversar com minha mãe, que estava na sala tomando uma taça de vinho.— Ninguém voltou ainda? — perguntei, e
Daniel, ao meu lado, falava alguma coisa à qual eu não estava prestando atenção. Meu olhar e pensamento estavam perdidos em algum ponto do corredor, para ser mais exato, no quarto de Maria, que ainda permanecia na UTI, lutando pela vida.Eu não sabia que alguém que eu conhecia há tão pouco tempo podia se tornar uma pessoa tão importante na minha vida. Até o momento em que a conheci, só me importava com os negócios, com quanto eu conseguiria ganhar e levar vantagem, como conseguiria livrar a cara dos meus clientes duvidosos. O amor era algo distante, que eu acreditava só trazer prejuízo, como advogado já tinha visto de tudo. Então surgiu Diego, um homem inocente incriminado, que eu queria tirar vantagen na verdade, mas no fim, seu relacionamento com Elle me trouxe Maria, uma mulher forte, sobrevivente, que merecia muito mais do que uma cama de hospital.Daniel continuava falando, e eu só pensava que eu não podia ser a pessoa a dar a notícia ao Marquinho de que ele tinha perdido a mãe,
Mais uma noite mal dormida estava cobrando seu preço. Nem a maquiagem era capaz de disfarçar meu cansaço e minhas olheiras. Eu tinha ligado para Gabriel, e ele havia desaconselhado a visita, mas fui firme e disse que assumia o risco. Eu precisava falar com Diego. Precisava ouvir da boca dele a história toda, ou acabaria enlouquecendo com as inúmeras teorias que a minha mente era capaz de criar.Eu não duvidava do amor de Diego por mim, porque já o tinha visto enfrentar o perigo várias vezes para me salvar. Ninguém da minha família era capaz de entender o que passei no cativeiro, presa em um quarto escuro, sem saber se ia morrer ou não, e Diego tinha ido sozinho até lá para me resgatar. Uma atitude que parecia sem importância para todo mundo, menos para mim. Mas eu precisava entender o que aconteceu quando ele saiu misteriosamente da minha vida, e, pelo jeito, minha avó estava envolvida nessa história.De manhã, liguei para Gabriel. Ele não atendeu, nem respondeu minhas mensagens. Arru
No hospital, encontrei Gabriel no local onde Maria estava internada, já que eu não podia ir ao hospital onde Diego estava. Mais uma vez, ele primeiro deu atenção para Marquinho, garantindo que Maria estava melhorando e que já havia até perspectiva de começar a reduzir a sedação.Fiquei feliz com a notícia, mas não aguentei quando Gabriel falou comigo e contou o que havia acontecido com Diego e qual era o estado dele. Precisei de um abraço e de muitas garantias de que ele sairia dessa, e que Daniel já estava a caminho para encontrar a mulher misteriosa que havia testemunhado contra Diego. E o meu desejo era correr até o outro hospital e vê-lo com meus próprios olhos. Medo e esperança se misturavam no meu coração. Outro sentimento desesperador era a impotência, eu não podia fazer nada além de esperar que tudo desse certo. Mais uma vez, levei Marquinho para o parque depois da visita ao hospital, onde passamos o restante da tarde tentando nos distrair. Infelizmente, essa estava se torna
Quando saí do banho, dei de cara com a minha avó sentada na minha cama. Pela sua expressão, já imaginava que ela queria ter uma conversa definitiva. Margareth Walker nunca foi de negociar por muito tempo. Já tinha gritado, ameaçado, mandado minha mãe falar comigo, mandado o James, e como nada tinha funcionado, eu imaginava que agora ela viria com a cartada final.— Foi uma conversa rápida com James. O homem veio até aqui com a família, arrependido, e você mal deu uma chance para ele falar, se explicar e, o mais importante, mostrar o quanto se arrepende do que fez — ela começou.— Duvido que ele se arrependa do que fez, e me espanta a senhora achar que, depois de tudo, eu daria qualquer tipo de chance para ele — retruquei irritada. — Pare de ser uma menina teimosa, Elle — ela disse, levantando-se da cama para me encarar olho no olho. — Você acha que vou aceitar essa história com esse bandido? Que vão viver um final feliz? Querida, o que esse homem tem a oferecer para alguém como você?
Em meio ao tormento da recuperação de Maria e ao atentado contra Diego, Elle e Marquinho precisaram se abrigar na minha casa. Quando ela ligou contando o que havia acontecido, não hesitei em dizer que tinha o lugar ideal, eu não podia deixar o menino desabrigado, era a primeira vez eu tomava esse tipo de decisão, em geral minha casa era um refúgio que poucas pessoas conheciam e nenhuma jamais dormiu. Eu sabia que a família de Elle era rica, poderosa e influente em Nova York. Já tinha ouvido alguns boatos, e o envolvimento com Diego era claramente uma situação proibida. Mas não imaginava que a avó dela seria capaz de expulsar a própria neta de casa. Sempre achei que coisas assim só aconteciam em novelas. Pelo que Elle disse quando conversamos, ela já suspeitava que algo iria acontecer, sua avó faria de tudo para acabar com esse relacionamento.Mas Elle era forte e não se deixou abalar. Concentrou-se em cuidar de Marquinho e acompanhar as notícias sobre a recuperação de Maria e Diego.
Peguei uma tesoura e comecei a cortar suas roupas enquanto as jogava pela janela em pedaços. Era um belíssimo espetáculo para a vizinhança. Vi quando um carro de polícia chegou.James ainda teve a audácia de me chamar de amor enquanto, escondido no banheiro, pedia perdão e dizia que tudo era um engano. Meu telefone começou a tocar, meu pai, provavelmente já sabendo, minha mãe e a droga do meu irmão, que ligava do Japão.Não atendi ninguém. Depois de jogar as roupas caras pela janela, minha missão era destruir aquele apartamento, pedaço por pedaço. Aquele lugar que eu chamava de lar, montado com extremo bom gosto.Tesourei as almofadas, o estofado milionário do sofá, as cadeiras. Quebrei todos os enfeites dados no dia do noivado, o vaso de 20.000 de uma tia distante que era feio de doer. Rasguei livros de colecionador e o quadro doado por algum artista da família de James.Alguém batia na porta. Iam arrombá-la. Não importava. Nada mais me importava. A fúria começou a doer. Perdi a vont