Rebeca O impulso de ligar para Rahmi é constante. Está ali, latejando no fundo da minha mente, como uma necessidade sufocante. Mas basta lembrar das palavras cruéis da mãe dele para que meu dedo recue. A forma como ela me tratou, com desprezo e preconceito, ainda queima na memória. Foi mais do que um ataque verbal — foi uma tentativa de me apagar. E o pior? Nem mesmo Nathifa me procurou desde que deixei Istambul. Tenho quase certeza de que a mãe dela também interferiu, cortando qualquer laço que restava entre nós. Minha raiva não é apenas pelas palavras racistas e desrespeitosas, mas também por aquela quase agressão que presenciei. Por mais que eu tente manter a calma, a sensação de impotência me corrói. Pedi para Letícia que, se Rahmi ligar, diga apenas que não estou. Não tenho forças para enfrentá-lo. Já se passou um mês desde minha partida, e mesmo assim, a saudade dele e da Nathifa continua doendo. Não entendo por que ela se afastou. Nem tentei descobrir. Talvez por medo da r
Rebeca A viagem foi longa, e o cansaço pesava nos meus ombros, mas não consegui pensar em descanso. Assim que o avião pousou, dei instruções para que minhas malas fossem direto para o hotel. Eu não iria para lá. Meu destino era outro. Passei o endereço para o taxista, tentando controlar a ansiedade que me consumia a cada quilômetro percorrido. Quando o carro parou em frente ao hospital, meu coração acelerou com uma dor que ameaçava me destruir. Assim que saltei, avistei Nathifa me esperando na entrada. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados. Assim que nos abraçamos, ela desabou em prantos. — Eu quero vê-lo agora mesmo — pedi com a voz firme, mesmo que por dentro estivesse desmoronando. — Amiga… ele está em coma. Não adianta. — Eu não me importo, Nathifa. Quero vê-lo. Preciso vê-lo — repeti, agarrando-me à única certeza que me restava: meu amor por ele. Ela assentiu com pesar. — Tudo bem. Vou falar com o médico para te deixar entrar. Por um momento, o silêncio entre nós fo
Rebeca A cama do hospital parecia ainda maior com ele tão magro e frágil, perdido entre os lençóis brancos. Como pode uma doença consumir tanto alguém em tão pouco tempo? O doutor, gentil e compreensivo, nos deixou a sós. Graças a Deus por ele. Vestida com a roupa apropriada, me deitei ao lado de Rahmi, abraçando seu corpo debilitado. Pude sentir seus ossos sob minha pele. Uma dor cortante me atravessou. Ainda assim, estar com ele era tudo o que eu mais queria. — Meu amor... que bom que você acordou. Eu estava perdendo a cabeça de tanto medo. — minha voz falhou. — Eu te amo. Amo tanto que dói. — Também te amo, loucamente... — ele sussurrou, com os olhos marejados. — Não sei mais viver sem você. — Não fale agora, meu turco. Você precisa de força. Teremos tempo, eu prometo. Vai dar tudo certo. Ficamos assim por alguns minutos, colados um no outro. Eu precisava daquele contato. Depois de tanto tempo afastada, nada me tiraria dos braços dele. O silêncio, porém, não durou. A porta s
Rebeca Dizem que todos merecem uma segunda chance e, sinceramente, eu queria acreditar nisso. A mãe de Rahmi cometeu um erro grave comigo, um que me fez chorar por dias. Mas ela me procurou, pediu perdão com lágrimas nos olhos, e eu vi ali o peso do arrependimento sincero. Perdoei. Não por ela, mas por ele. Rahmi é o amor da minha vida, e vê-lo em paz com a própria família é tudo o que eu desejo agora.Depois de um mês separados, finalmente ele estava voltando para casa. Minhas amigas já tinham voltado para o Brasil, e eu falava todos os dias com minha mãe por videochamada. Ela estava completamente apaixonada pelo neto que acabou de ganhar Pietro, o nosso pequeno milagre.Mas nem tudo era perfeito.Havia uma enfermeira. Jovem, bonita, sempre com um sorriso no rosto e mãos atenciosas demais. Eu tentava não surtar, mas era impossível ignorar a pontada incômoda de ciúmes que nascia toda vez que ela entrava no quarto dele. Eu sei, parece bobagem… Mas quem gosta de ver outra mulher cuid
Rebeca Alguém bateu na porta. A enfermeira.Levantei e abri com má vontade. Assim que ela entrou, me afastei um pouco, mas disparei:— Ah, a intrusa chegou.— Amor… — Rahmi suspirou, repreendendo com o olhar.— Tudo bem, tudo bem… Vou pedir um enfermeiro gostosão para cuidar de mim e você vai ver como é bom.Ele ficou sério, o maxilar travado. Voltei para a cama e o beijei, rindo da própria provocação.— Brincadeira, amor… Me desculpa.— Não gosto dessas brincadeiras, Rebeca.Enquanto a enfermeira media sua pressão, roubei outro beijo, olhando diretamente para ela. Que ficasse claro: ele era meu.Os dias passaram e, para meu alívio, Rahmi estava se recuperando muito bem. O turco já falava com mais clareza, estava de pé e até dispensaram a enfermeira. Com isso, seus pais decidiram preparar um jantar especial para celebrar sua melhora e, para minha surpresa (e pavor), também para agradecer à nora. Sim, eu.Quando soube disso, quase tive um ataque cardíaco. A ideia de passar uma noite s
Rebeca O jantar mal tinha terminado e ele já me puxava pela mão com força.— Hein, pra onde você tá me levando? — questionei, tentando acompanhar seus passos apressados.Ele não respondeu. Me empurrou com firmeza dentro do carro e acelerou em silêncio pelas ruas até o hotel de luxo. Pegamos o elevador privativo, e no instante em que a porta se fechou, ele me tomou nos braços e colou sua boca na minha com uma fome animalesca. O desejo nos consumia, mas algo estava prestes a explodir além da tensão sexual.Assim que entramos no apartamento, ele me encostou na parede e, sem aviso, rasgou meu vestido com brutalidade, deixando os pedaços caírem aos meus pés.— Mas que porra é essa?! — explodi, empurrando-o com força. — Você tá maluco?! Esse vestido me custou caro, seu idiota!— Eu já falei que não quero ver você exibindo essas pernas gostosas por aí — rosnou, os olhos cheios de posse.— Você não manda em mim! — gritei, empurrando-o de novo. — Eu visto o que eu quiser, entendeu? Que merda
RahmiQuem diria que eu, que sempre bati no peito dizendo que nunca quis ser pai, estaria aqui... completamente rendido por esse pequeno furacão correndo pela varanda da minha casa? Pietro. Meu filho. Com os olhos e a pele da mãe, é a definição de beleza pura. Um serzinho que sorri e o mundo inteiro se curva.É engraçado como a vida prega peças. Meus pais aqueles mesmos que já torceram o nariz só de ouvir o nome da mãe dele agora fazem questão de pegar o primeiro voo pro Rio de Janeiro todo mês. Eles dizem que vêm ver a família, mas a verdade é que não conseguem passar muito tempo longe do neto. Pietro virou o xodó dos dois. Mimado é pouco pra definir.Já Nathifa... aparece de vez em quando. Está focada na carreira e não posso culpá-la. Ela transformou um sonho em realidade e hoje comanda a própria loja de roupas, onde desenha cada peça com as próprias mãos. Uma estilista respeitada, com talento e visão de negócios. Isso definitivamente corre nas veias dela.Mas hoje… hoje é um dia
Rahmi Cheguei ao Brasil às oito da manhã para uma série de compromissos profissionais. Enquanto me preparava para minha primeira palestra, meus pensamentos vagavam pelos velhos tempos, me levando direto a Roberto. Não hesitei em procurá-lo. Sabia que ele ficaria feliz em me ver e, sinceramente, a ideia de passar esses dias sem alguém de confiança para me acompanhar me parecia insuportável. Nos conhecemos na faculdade, em Istambul. Roberto era um verdadeiro prodígio ganhou uma bolsa para estudar Direito, enquanto eu cursava Arquitetura, bancado pelos meus pais. Eu nunca fui o mais dedicado, mas com esforço e influência familiar, me formei e tracei meu próprio caminho no mundo dos negócios. Ele, por outro lado, se tornou um advogado respeitado e, assim que terminou seus estudos, retornou ao Brasil para abrir seu próprio escritório no Rio de Janeiro. Ao encontrar seu número no celular, liguei. Ele atendeu rapidamente e nossa conversa foi como se nunca tivéssemos nos afastado. Nos enco