Escondido pela cortina de tecido grosso, observo mais um carro passar e parar alguns metros à frente. Mais um maldito abutre. Contenho a vontade de rosnar feito um bicho raivoso e bato nas laterais da cabeça com as mãos, tentando me concentrar. Como se isso fosse capaz de fazer eu me sentir menos covarde. Porque é exatamente isso que eu sou.
Eu devia ter contado antes. Se eu tivesse sido mais aberto, se tivesse mantido a honestidade em primeiro lugar, não estaria sofrendo com esse conflito moral agora. Distante da única pessoa que me fez sentir algo em muito tempo, porém, tudo em que consigo pensar é: "Será que Lia sabe?", "Será que os abutres contaram para ela?", "Se sim, qual foi a versão que chegou em seus ouvidos?"
A leva de fotógrafos na porta da minha casa me impede de pensar com clareza. Não posso sair e ir ao seu encontro sem ligá-los a ela, justi