Os dias seguintes foram uma mistura de euforia e saudade. Elisa começava a encaixotar os livros, organizar papéis, e fazer listas intermináveis de tudo o que precisavam levar. A casa de praia se transformara num quartel de mudanças — caixas por todos os lados, Leo correndo entre elas com um capacete de brinquedo, fingindo ser um operário.— Mamãe, essa caixa vai no foguete? — ele perguntou, apontando para a que continha os sapatos de salto de Elisa.— Vai sim, meu amor — ela respondeu, rindo. — Mas só se o foguete for rosa e cheio de glitter!Rafael aparecia com fita adesiva na testa, marcadores coloridos nos bolsos e um olhar confuso.— Amor, você etiquetou essa caixa como "urgente-dramática-com-salto". Isso é algum código secreto?— Claro. Quer dizer que são meus sapatos preferidos e que você não pode esquecer dela nem se o caminhão de mudança pegar fogo — disse, se aproximando e selando seus lábios nos dele com um beijo rápido.Apesar da leveza, o clima tinha um peso sutil. Elisa p
O carro parou em frente à nova casa no coração de Florianópolis. Era um sobrado charmoso, com janelas grandes e cortinas brancas dançando ao vento. Um pequeno jardim frontal com hortênsias azuis dava as boas-vindas como se a cidade os recebesse de braços abertos.— É aqui — Rafael disse, virando-se para Elisa, que segurava Leo dormindo no banco de trás.Ela olhou para a casa com os olhos marejados.— Parece saída de um sonho.— Não. É o começo de um novo — ele respondeu, com aquele sorriso de canto que ela tanto amava.Entraram juntos, Rafael carregando Leo nos braços, e Elisa girando a chave com uma sensação doce no peito. O interior era acolhedor, com tons claros, móveis simples e um aroma de lavanda no ar, que logo se espalhou pela casa enquanto as janelas eram abertas.— Vamos precisar de muitos cafés pra organizar tudo — Elisa disse, observando as caixas ainda fechadas.— E talvez uns bons vinhos também — Rafael respondeu, piscando.Naquela primeira noite, dormiram juntos no colc
O avião pousou em São Paulo sob um céu nublado. Elisa desceu segurando Leo pela mão, enquanto Rafael carregava a mochila com os pertences do pequeno. O aeroporto estava movimentado, mas o trio caminhava com uma determinação silenciosa.— Já faz tempo que não venho aqui... — Elisa murmurou, observando o saguão cheio de pressa e despedidas.— Vai ser rápido, amor. Entramos, resolvemos, saímos. Depois praia, vinho e você deitada no meu peito ouvindo o mar — Rafael disse com um sorriso que tentou disfarçar a tensão.Elisa sorriu de volta, mas o coração batia acelerado. Eles pegaram um táxi até o antigo escritório da empresa onde ela havia trabalhado por anos. O prédio era o mesmo, imponente, mas agora lhe causava arrepios.— Você quer que eu entre com você? — Rafael perguntou ao parar em frente ao edifício.— Quero. Mas preciso falar com Clarice primeiro, a sós. Talvez seja melhor. Você pode ficar com o Leo no café da esquina?Ele assentiu, beijou sua testa e levou Leo pela mão, que já pe
O avião tocou o solo de Florianópolis sob um céu azul vibrante. O cheiro de maresia invadiu as narinas de Elisa assim que saíram do aeroporto. Ela segurava firme a mão de Leo, enquanto Rafael empurrava a mala maior com um sorriso contido.— Lar, doce lar — Rafael disse, olhando para Elisa com um olhar cúmplice.— Nem acredito que estamos de volta. Parece que se passaram semanas em dois dias.— Foi intenso. Mas você foi incrível, como sempre.Elisa sorriu, mas o cansaço estampado em seu rosto deixava claro que o alívio de estar em casa não apagava o peso do que ainda viria. A batalha legal começaria oficialmente dali a três dias, com a primeira reunião com o advogado. Mas havia algo mais urgente: reconectar-se com sua nova rotina, com o presente que ela escolheu construir.Ao chegarem em casa, Leo correu para o quintal como se tivesse reencontrado o paraíso. O cachorro da vizinha latiu ao vê-lo, e logo os dois já estavam brincando na grama como velhos amigos.— Eu senti falta disso — E
O dia da primeira audiência havia chegado. O sol ainda nem despontava no céu quando Elisa já estava de pé, encarando o espelho com um nó no estômago. Vestia um conjunto social discreto — blazer bege, blusa de seda branca e calça preta. Prendeu os cabelos num coque firme, deixando apenas duas mechas soltas nas laterais. Seus olhos estavam levemente marcados com delineador, mas seu olhar era firme, decidido.Rafael apareceu na porta do quarto com uma caneca de café em mãos e um sorriso doce.— Você está linda. Séria, mas linda.Ela sorriu, meio sem graça.— Acho que é a primeira vez que ouço isso às seis da manhã.— É porque hoje você vai mostrar ao mundo a mulher forte que é. E eu estarei lá, aplaudindo.Elisa tomou o café em silêncio, cada gole aquecendo sua coragem.— O Leo ainda dorme?— Sim. Mas preparei o lanche da escola. Vou levá-lo enquanto você vai para o fórum. Já falei com o advogado, ele vai te encontrar lá.Elisa assentiu, mas antes de sair, se aproximou de Rafael e seguro
O sábado chegou com céu nublado e vento frio, o tipo de dia que Elisa costumava usar como desculpa para um cobertor, chocolate quente e desenhos animados com Leo. Mas naquele sábado, nada disso seria possível.Era o dia da primeira visita supervisionada entre Henrique e Leo.Elisa passou a manhã preparando o filho com cuidado. Leo usava uma calça jeans azul escura, camisa vermelha com estampa de dinossauros e um casaco de moletom cinza. Ela fez questão de arrumar seu cabelo com gel, deixando os fios castanhos assentados para trás.— Mamãe, por que eu vou ver aquele moço hoje? — perguntou Leo, com os olhinhos inocentes, sentando-se na beira da cama.Elisa se agachou na frente dele, segurando suas mãozinhas.— Porque ele é seu pai, filho. E agora ele quer te conhecer melhor.Leo franziu a testa.— Mas meu pai é o Rafa.Ela sentiu o coração apertar, mas sorriu com carinho.— O Rafa é muito especial, sim. Ele cuida da gente e te ama muito. Mas você também tem outro pai, que quer passar um
O sol se despedia atrás do mar calmo, tingindo o céu com tons alaranjados e dourados. Helena caminhava descalça pela areia morna da casa de praia onde tudo havia começado a se reencaixar. O vestido leve branco voava suavemente com o vento, e o som das ondas batendo ritmadamente era como uma canção de despedida dos dias difíceis.Dante apareceu atrás dela, agora com aquele olhar sereno e apaixonado que só ele sabia ter. Usava uma camisa de linho aberta no peito, revelando a pele bronzeada, e uma bermuda clara. Em suas mãos, uma caixinha pequena, forrada de veludo azul.— Você está tão linda — ele disse, com um sorriso nos lábios e os olhos brilhando. — Quase não consigo acreditar que essa mulher maravilhosa é minha esposa... de novo.Helena se virou, sorrindo, mas com os olhos marejados.— Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que a vida nos daria uma segunda chance... E que ela seria ainda melhor que a primeira.Ele a abraçou por trás, encostando o rosto em seu pescoço.— Porque ag
O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse