(POV de Olivia)
O bipe dos monitores do hospital havia se tornado a trilha sonora de nossas vidas. Minha filha Lily estava deitada na cama esterilizada, seu pequeno corpo ofuscado pelo equipamento médico que a cercava. Insuficiência renal. Essas duas palavras destruíram nosso mundo.
— Mamãe. — Lily sussurrou, com a voz quase inaudível, abafada pelo ruído das máquinas. — Você acha que amanhã o papai virá?
Eu escovei seu cabelo fino para trás, tirando-o da testa.
— Claro, querida. É seu aniversário.
— E nós vamos para a Feira do Luar? Nós três? — A esperança cintilou em seus olhos cor de esmeralda, olhos exatamente como os meus.
— Sim, Lily. Eu já perguntei, e ele prometeu. — Forcei um sorriso, ignorando a dúvida que corroía meu coração.
O rosto de Lily se iluminou com uma alegria que eu não via há meses.
— Sério? O papai prometeu?
Eu balancei a cabeça, fazendo que sim, apertando sua mão frágil. Sem o transplante, que tinha sido subitamente desmarcado, os médicos tinham dado a ela dias, talvez horas. Aquele aniversário poderia ser seu último, e seu único desejo era passá-lo com o pai.
Na manhã seguinte, vesti Lily com roupas mais quentes. O tempo ficou inesperadamente frio, mas nada nos impediria. Esperamos na entrada da Feira da Lua, as luzes coloridas e a música alegre contrastavam fortemente com o peso no meu peito.
Uma hora se passou. Depois duas.
— Ele se atrasou no trabalho, não é isso, mamãe? — Lily perguntou, com lábios ficando ligeiramente azuis, apesar do casaco pesado.
— Tenho certeza de que sim, querida. — Telefonei para Ethan pela vigésima vez. Mas a ligação foi diretamente para o correio de voz.
Mesmo depois de três horas de espera. Lily se recusava a sentar na cadeira de rodas que eu tinha levado, insistindo em ficar de pé, para que seu pai a visse, assim que chegasse.
— Talvez ele tenha se esquecido. — Ela sussurrou, com a voz falhando. — Talvez ele esteja com Emma novamente.
Meu coração se partiu com essas palavras.
— Deixe-me tentar mais uma vez.
Desta vez, alguém atendeu. Mas não foi Ethan, e sim seu assistente.
— O Rei Alfa não está disponível. Ele está no parque temático Mundo Lupino com a Sra. Frost e a filha dela, para uma celebração especial.
O mundo sumiu debaixo de meus pés.
— Mas hoje é o aniversário da filha dele. Lily está esperando por ele na Feira do Luar. Ele prometeu que viria.
— Sinto muito, Sra. Winters. Ele deixou instruções estritas para que não fosse perturbado.
Quando me virei, Lily havia desmaiado. Seu pequeno corpo convulsionava no chão frio e sua respiração estava superficial e rápida.
— LILY! — Eu gritei, pegando-a em meus braços. — Alguém nos ajude!
No hospital, os médicos trabalhavam freneticamente, mas eu podia ver em seus olhos o que me recusava a aceitar. Os órgãos de Lily estavam falhando.
— Mamãe. — Ela sussurrou, com os olhos se abrindo uma última vez. — Por que o papai ama a Emma mais do que a mim? É porque estou doente?
Eu não conseguia responder em meio às lágrimas. O telefone de Lily escorregou do bolso e a tela se iluminou, mostrando um vídeo que alguém havia enviado a ela. Ethan, Victoria e Emma no Mundo Lupino. Ethan estava carregando Emma nos ombros, todos rindo. Uma faixa gigante dizia: "Feliz aniversário, Emmy!"
— Eu só queria que ele me amasse. — Lily sussurrou.
Então ela se foi, seu último suspiro trouxe uma pergunta que eu não conseguia responder.
O monitor se estabilizou, e o tom contínuo anunciava o que meu coração se recusava a aceitar. Minha filha estava morta. E o pai dela nem estava lá para se despedir.
A funerária estava quieta, exceto por meus soluços abafados. Eu estava sozinha ao lado do pequeno corpo de Lily, arrumado pacificamente na mesa de cremação.
— Onde estão todos? — O funcionário perguntou gentilmente. — Certamente o Rei Alfa...
— Ele não sabe. — Eu disse, com a voz vazia. — Ele nem sabe que ela se foi.
Peguei o grampo de cabelo de Pedra da Lua que eu tinha projetado para o aniversário dela, com minúsculos cristais de cura embutidos em um delicado engaste prateado. Eu tinha passado meses criando-o, infundindo cada pedra com energia protetora.
— Isso era para ajudá-la a melhorar. — Sussurrei, colocando o grampo cuidadosamente em seu cabelo. — Sinto muito que não tenha sido o suficiente.
O funcionário se mexeu desconfortavelmente.
— O Rei Alfa deve ser informado antes de prosseguirmos.
— Ele está no Mundo Lupino. — Eu disse, com amargura se infiltrando em minha voz. — Comemorando o aniversário de Emma Frost com a mesma festa que ele prometeu a Lily. Com a mulher que ele sempre amou mais do que nós.
Os olhos do homem se arregalaram em choque, mas ele assentiu respeitosamente.
— Eu entendo, Sra. Winters.
Quando a cremação começou, fiquei sozinha, observando as chamas consumirem a filha que Ethan havia esquecido.
O tráfego estava parado. Eu agarrei a Urna Cerimonial de Madeira da Lua contra o peito, as cinzas de Lily ainda quentes em seu interior. Estávamos presas na estrada, em frente ao Mundo Lupino.
Uma tela enorme na parede externa do parque brilhou com imagens e a legenda: notícias de última hora sobre a celebração extravagante do Rei Alfa.
— O Rei Alfa Ethan Stone não poupou despesas para a festa de aniversário da jovem Emma Frost hoje. — A voz alegre do locutor explodiu. — Fontes dizem que ele alugou o parque inteiro para esta ocasião especial!
A tela se encheu de imagens de Ethan carregando Emma nos ombros, ambos rindo. Victoria estava ao lado deles, a mão dela segurava possessivamente o braço de Ethan.
Victoria tinha sido o primeiro amor da juventude de Ethan. Mas ela havia deixado a matilha há cinco anos.
Depois que ela deixou a matilha, ela acasalou com outro lobo e deu à luz uma filha, Emma. Vários meses atrás, ela voltou à matilha com Emma, e minha vida mudou da noite para o dia. Ethan sentiu que era difícil e lamentável para Victoria ter de criar a filha sozinha, então ele sempre cuidava delas. Ele tratava Emma ainda melhor do que nossa filha Lily.
Agora, Emma usava um vestido de Princesa de Gelo bordado com cristais, o mesmo vestido que Lily tinha implorado para ter, aquele que Ethan se recusou a comprar porque seria muito caro para uma criança doente que não podia ir a lugar nenhum.
Eu virei a urna para longe da tela, protegendo-a como se Lily ainda pudesse ver.
— Lily, não olhe! — Eu sussurrei, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. — Não olhe, querida.
Os Jardins Imperiais estavam em silêncio quando voltei. Nossa ala da enorme propriedade parecia vazia sem a presença de Lily. Eu carreguei a urna para o quarto dela, ainda cheio de brinquedos, livros e sonhos.
Sentei-me em sua cama a noite toda, embalando a urna, observando a lua atravessar o céu pela janela.
A manhã chegou e, com ela, passos no corredor. Ethan apareceu na porta, com expressão irritada.
— Onde está Lily? Devemos encontrar o especialista hoje.
Eu olhei para ele, incapaz de compreender o que ele dizia.
— O quê?
— O especialista em rins. Que veio da Europa. — Ele verificou o relógio com impaciência. — Vá prepará-la.
Algo quebrou dentro de mim. Eu fiquei de pé, ainda segurando a urna.
— Preparar? PREPARAR QUEM?
Os olhos de Ethan se estreitaram.
— O que há de errado com você? E o que é isso?
Eu empurrei a urna em direção a ele.
— Esta é sua filha! Esta é Lily!
Ele deu um passo para trás.
— Pare de ser dramática. Onde ela está?
— Lily está morta! — Eu gritei, com a voz quebrando o silêncio da manhã. — Onde você vai buscá-la? No inferno?
O rosto de Ethan endureceu.
— Isso não é engraçado, Olivia. Não tenho tempo para suas explosões emocionais.
— Ela morreu no dia do próprio aniversário. — Continuei, com a voz embargada. — Enquanto você estava no Mundo Lupino com suas preciosas Victoria e Emma. Enquanto você estava comprando para Emma, o vestido que você disse que era muito caro para Lily.
Ethan se virou, movendo-se em direção às escadas.
— Você está sendo irracional. Eu vou pegar Lily eu mesmo.
Quando ele chegou às escadas, o telefone dele tocou. Ele atendeu imediatamente, e todo o seu comportamento mudou.
— Emmy? O que é isso, querida? — Sua voz se tornou gentil e amorosa, um tom que Lily implorava para ouvir.
A voz de uma garotinha encheu a sala, doce e exigente.
— Papai, eu sinto sua falta, você vem me fazer companhia?