Otávio se inclinou, como sempre fazia, para ajudar Lívia a colocar o cinto de segurança. Quando percebeu que os olhos dela estavam vermelhos, falou com doçura:
— O vídeo foi um acidente. Eu vou resolver isso, pode deixar. Você não está bem hoje. Vou te levar pra casa, descansar um pouco.
Lívia apertou os lábios, sem dizer nada. As palavras que ele dissera no escritório ecoaram na mente dela — e as lágrimas vieram sem controle, caindo em silêncio.
Otávio ficou um instante sem reação. Então secou o rosto dela com cuidado. Logo depois, como se lembrasse de algo, abriu a porta do carro e disse:
— Espera um pouco. Vou comprar uma coisa.
Assim que a porta se fechou, Lívia percebeu que ele tinha levado o celular errado. O dele ainda estava ali, largado no console ao lado do banco.
Como se movida por algo além da razão, Lívia pegou o aparelho e digitou a data de nascimento de Marina.
O desbloqueio funcionou.
No topo das conversas do aplicativo, o nome de Marina aparecia fixado.
A mensagem mais recente dizia:
“Você pode terminar com ela antes de eu voltar?”
Otávio respondeu:
“Ela é só um brinquedo. Eu nunca estive com ela de verdade.”
O coração de Lívia apertou com tanta força que pareceu falhar por um segundo. Mesmo assim, forçou os olhos a continuar subindo pelas mensagens.
Durante os dois anos em que Marina ficou fora do país, Otávio ligava para ela todos os dias — pontualmente às oito da noite.
Era o mesmo horário em que ele dizia estar em reunião do conselho, pedindo a Lívia que não o incomodasse de jeito nenhum.
Além disso, ele fazia transferências mensais para Marina. Altos valores. Centenas de milhares de reais. Sem nenhum comentário, sem nenhuma explicação.
Marina, por sua vez, vivia mandando selfies, pedindo elogios com um jeitinho manhoso.
Otávio respondia com figurinhas fofas — como Lívia jamais tinha visto — e mensagens cheias de cuidado, lembrando ela de não sair com pouca roupa, de se proteger do frio.
Ao ver tudo aquilo, Lívia entendeu.
Ela nunca tinha conhecido Otávio de verdade.
Toda a doçura que ele demonstrava... era só a ponta de um amor profundo que ele sempre sentira por Marina.
Quando Otávio voltou para o carro, trazia uma caixinha nas mãos. Era um anticoncepcional de emergência.
Ele passou a mão com carinho pelos cabelos dela e disse, na voz mais terna que já usara:
— Ontem foi tudo muito rápido. Não deu tempo de pensar. Toma isso, por precaução.
Lívia segurou a caixa com força, os dedos trêmulos, os lábios quase rasgando com a mordida que deu neles.
Se não tivesse ouvido tudo com os próprios ouvidos, talvez ainda estivesse ali, achando que Otávio realmente se importava com ela.
Mas agora, ela estava completamente acordada.
O carro parou em frente à mansão. Otávio se inclinou, como de costume, para se despedir com um beijo.
Mas Lívia desviou o rosto, apressada em soltar o cinto de segurança.
O olhar dele escureceu por um instante. Sem dar espaço, puxou ela para os braços, firme.
— Ainda está chateada por causa do vídeo?
Diante do silêncio dela, ele tentou explicar:
— Não fui eu quem gravou. O responsável do hotel já foi demitido.
Otávio levantou o queixo dela com os dedos, olhando nos olhos dela com intensidade:
— Lívia, eu nunca quis te machucar. E nunca vou fazer isso. Nosso aniversário está chegando. Eu vou compensar você, de verdade.
Mas às vezes, o que mais machuca não é a verdade, e sim uma mentira vestida de bondade.
Lívia sentiu o nariz arder. Empurrou ele devagar e disse:
— Eu vou entrar.
Saiu quase correndo rumo à casa.
Mal tinha cruzado a porta, esbarrou direto no pai, Alberto Vidal.
O rosto dele estava fechado, sombrio. Antes mesmo que ela conseguisse dizer uma palavra, ele ergueu a mão e deu um tapa violento no rosto dela.
— Lívia, eu realmente te subestimei. Quer namorar, namora. Mas fazer um vídeo daqueles? Sem vergonha! Você jogou no lixo o pouco de respeito que ainda me restava! Agora entendo por que todo mundo na sua faculdade vive te atacando — você mesma se coloca nesse papel, se suja e depois atrai os vermes!
Depois de gritar, Alberto jogou uma passagem no chão, bem diante dela.
— Comprei sua passagem pra daqui a sete dias. Some da minha frente. E nunca mais volte.
Lívia se abaixou devagar para pegar o bilhete. Os dedos tremiam como se aquilo fosse uma sentença — não de viagem, mas de exílio.
O pai achava que ela era uma vergonha. Queria que ela sumisse.
E tudo bem.
Ela também não queria mais ficar.
— Eu vou embora. — Disse Lívia, com a voz calma. — E vou fazer como o senhor quer. Nunca mais volto.
Alberto ficou paralisado. Por um segundo, achou que tinha escutado errado.
Na época em que mandara Marina para o exterior, também tentara convencer Lívia a ir junto. Mas ela recusou com firmeza. Só depois de muita insistência, confessou que estava apaixonada. Que o amor era grande demais para partir.
Ele pensou que ela resistiria outra vez.
Mas, dessa vez, ela aceitou. Sem hesitar.
Só então Alberto pareceu conter um pouco da raiva. Falou em um tom frio:
— Marina volta pro país neste fim de semana. Estou organizando um jantar de boas-vindas pra ela, e você vai participar. O vídeo já vazou. Se não aparecer, vai parecer que está admitindo tudo o que andam dizendo por aí.
Lívia assentiu com um leve movimento de cabeça.
— Entendi.
...
Lívia pediu três dias de licença na faculdade.
Durante esse tempo, juntou tudo o que Otávio já tinha dado a ela e colocou tudo à venda online, pelo preço original.
Três dias depois, Marina voltou ao país.
Alberto organizou uma recepção em grande estilo no hotel mais luxuoso de Altoréu, convidando todas as figuras importantes do mundo dos negócios.
Entre os convidados estava Otávio.
Lívia não esperava encontrar ele naquele evento. Assim que o viu, virou-se para sair, mas foi puxada pelo pulso e arrastada até um canto vazio.
Otávio a encurralou contra a parede, com os braços firmes de cada lado do corpo dela. O hálito quente roçava o ouvido dela, sufocante.
— Você sumiu da faculdade, ignorou todas as minhas mensagens... Nem no nosso aniversário apareceu. Lívia, tem ideia do quanto eu fiquei preocupado com você?