No fim dos gemidos e do ritmo abafado, ele se aproximou do ouvido dela e murmurou:
— Boa menina.
Apenas duas palavras. Mas foram suficientes para explodir como uma bomba no grupo interno da Universidade Imperial de Altoréu.
“Essa voz... Não é do Otávio Montenegro, não, né?”
“Lívia é mesmo esperta. Conseguiu fisgar logo o membro do conselho diretor da universidade! Agora faz sentido ninguém mais ter coragem de mexer com ela.”
“Sempre achei que a Lívia fosse uma menina inocente... Mal sabia que era só mais uma interesseira. Filha de amante mesmo, né?”
Quando os comentários chegaram aos ouvidos de Lívia, ela estava no dormitório, tricotando um cachecol para Otávio.
Uma das colegas de quarto aumentou o volume do vídeo ao máximo, com um sorriso sarcástico estampado no rosto, e passou o celular para as outras, uma a uma. Em seguida, alongou a voz de propósito:
— Lívia, gemendo desse jeito, tão treinada e safada... Aposto que não foi a primeira vez, né?
Explodiram risadas ao redor. Lívia empalideceu na hora, paralisada no lugar. A lã que ela tricotava caiu do colo sem que percebesse. Num rompante, levantou-se e saiu correndo porta afora.
Tropicando pelos corredores, foi direto para o escritório de Otávio. Queria entender o que, afinal, tinha acontecido com aquele vídeo.
Mas mal chegou à porta, ouviu vozes debochadas lá de dentro.
— Otávio, você não teve dó nenhuma da Lívia, hein? Fez questão de filmar bem o rosto dela. Nem chance de negar, coitada.
As palavras explodiram na cabeça de Lívia. Um frio cortante se espalhou por todo o corpo.
— Também, né, quem mandou mexer com a mulher que o Otávio ama de verdade? Foi bem feito.
— O mais engraçado é que ele ainda teve que inventar aquelas fofocas de que a mãe da Lívia era amante, fingir que protegia ela dos colegas que faziam bullying, bancar o herói apaixonado.
— E aí, Otávio? Já decidiu quando vai contar a verdade? Imagina a cena: a garota descobre que o homem que ela ama há tanto tempo vai virar seu cunhado. Vai desmaiar na hora! Hahaha.
Otávio estava largado no sofá, com ar despreocupado. Batia o cigarro no cinzeiro com os olhos sombrios, calado.
Um dos amigos, vendo que ele não reagia, cutucou:
— Tá com pena agora? Pô, ela fez a Marina ser mandada pro exterior por dois anos! A menina passou fome lá fora, passou aperto. Não dá pra deixar barato não.
Ao ouvir o nome de Marina Vidal, Otávio finalmente quebrou o silêncio.
Ele apagou o cigarro com calma e disse, num tom indiferente:
— Quando a Marina voltar. E é o mesmo dia daquele “dia especial” que a Lívia tanto espera. Vou preparar uma "surpresa". Vai devolver cada centavo do que tirou da Marina.
Lívia prendeu a respiração. Seus olhos, atravessando a névoa de fumaça, pousaram no rosto frio e impassível de Otávio. Sentiu como se o peito tivesse se rasgado ao meio — a dor foi tão forte que a visão escureceu.
Então era isso. Todas aquelas fofocas sujas sobre sua mãe tinham partido dele.
Otávio só a havia procurado, só fingira proteger ela para se vingar.
Ele amava, de verdade, a meia-irmã dela. Marina.
Lívia não conseguiu ouvir mais nada. Se virou e saiu correndo, desesperada.
Mas mal tinha dado alguns passos quando foi cercada por um grupo de garotas.
— Olha só quem tá aqui! A estrela pornô do vídeo!
— Saiu do escritório agora? Foi entregar o corpinho de novo?
Lívia empalideceu, tentou escapar, mas foi empurrada de um lado para o outro por mãos hostis.
Foi quando a voz cortante de Otávio soou atrás dela:
— Quem mexer com a Lívia na minha frente tá pedindo pra morrer.
Ninguém percebeu quando ele saiu do escritório, mas agora sua silhueta alta e imponente caminhava na direção delas, ameaçadora.
As garotas se dispersaram na hora, como se o próprio diabo tivesse aparecido.
Otávio se aproximou de Lívia, ajeitou os fios de cabelo bagunçados, e quando seus olhos encontraram os dela, passou de leve o dedo pela bochecha trêmula dela.
— Eu já te disse... Se alguém mexer com você de novo, é só dizer meu nome.
O cheiro familiar de tabaco a envolveu — forte, quente — e fez seus olhos se encherem d’água.
O Otávio à sua frente se confundia com aquele das lembranças — o homem que tantas vezes a protegera do mundo, que parecia sempre surgir quando tudo desabava. Ela ficou atordoada.
Na época em que a mãe tirou a própria vida, o pai logo reatou com o antigo amor de juventude, e a vida de Lívia virou a de uma órfã.
Mais tarde, já na universidade, espalharam que sua mãe fora amante, que a verdadeira filha legítima da família Vidal era Marina.
Como "filha da amante", o destino dela foi o bullying — cruel, constante.
Foi Otávio quem a salvou. Com a autoridade de membro do conselho diretor da universidade, criou um abrigo para ela, um mundo onde, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia segura.
Na noite do aniversário de Otávio, sob o embalo do álcool e do desejo reprimido, os dois finalmente se entregaram um ao outro. Longe do homem refinado de sempre, Otávio revelou um lado dominante e intenso, prendendo-a contra a imensa janela sem cortinas. Ali, sob a luz da cidade, admirou cada tremor do corpo dela, frágil, exposto.
Quando enfim seus corpos se uniram por completo, Lívia sentiu-se como um pássaro que, após vagar sem rumo por muito tempo, finalmente encontrava o caminho de volta ao ninho, envolta por uma sensação profunda de saciedade e segurança.
Mal sabia ela que, por trás daquela aparente ternura, havia apenas cálculo, cada toque, parte de um plano frio e milimetricamente traçado.
Tomada por um instante de torpor, só percebeu onde estava quando já caminhava ao lado de Otávio para fora do prédio, sentando-se no banco do carona de seu carro.