Capitulo Cinco: Luto Atrasado.

• Por Alivia...

As palavras da jovem deixaram Vanessa assustada num primeiro momento, e num segundo, ela estava confusa e preocupada.

Ir ao cemitério era a última coisa que Alivia devia fazer naquele momento. Seria doloroso demais, uma emoção desnecessária no momento em que estava.

--- Como assim, minha filha? --- Vanessa ainda estava em choque, e seu cérebro se esforçava para acompanhar.

A decisão havia sido muito repentina, e a mais velha não esperava que a filha fosse querer algo assim tão depressa. Alivia não estava preparada. Não, Vanessa não podia deixar a filha ir. Ela sabia o que era melhor para sua menina.

--- Você não está sendo precipitada? --- Vanessa tentou argumentar --- Não precisa fazer isso agora.

--- Eu tenho todo o direito de visitar os túmulos deles! --- Alivia se levantou, indignada com as respostas da mãe --- Eu não estava em seus enterros, e quero ir lá, colocar flores e chorar.

Ela lutava para manter as lágrimas contidas. O que era aquilo? Frustração? Raiva? Ela estava irritada com sua mãe, ou com ela mesma?

--- Eu sei que você tem esse direito, mas não precisa apressar nada. --- Vanessa rebateu --- Você voltou ontem, vamos com calma.

--- Calma? Como quer que eu vá com calma? --- Alivia riu com amargura, cruzando os braços --- Eu estive em coma por quase dois anos! A última coisa que quero é adiar alguma coisa!

Ela balançou a cabeça, saindo da cozinha, seus longos cabelos pretos estavam presos em um coque mal feito, e seus passos estavam firmes enquanto atravessava o corredor.

--- Se a senhora não quiser vir comigo... então eu vou sozinha. --- Alivia seguiu pela sala limpando todo e qualquer rastro das lágrimas em seu rosto --- Agora é o meu luto.

--- Filha, espere! --- Vanessa pediu seguindo atrás da filha que já batia a porta da casa --- Droga!

Vanessa prendeu os cabelos castanhos em um rabo de cavalo baixo, e subiu ao andar de cima as pressas para buscar as chaves do carro. Alivia não iria sozinha de jeito nenhum.

O luto é algo pessoal demais para montar um padrão a seguir. Você não pode comparar o seu luto, e a sua forma de vivê-lo, com os das outras pessoas. Cada um tinha seu tempo, e para a jovem de cabelos negros, o luto estava atrasado.

Alivia sentia os olhos azuis arderem, havia saido as pressas pela porta de casa, e não estava muito longe quando sentiu um tranco na perna e no quadril, indo ao chão com violência e um baque surdo.

--- JAKE! --- Ela ouviu uma voz masculina gritar, não muito longe --- O quê foi que você fez, pirralho?!

Alivia sentiu a perna latejar, a calça jeans quase rasgou ao raspar na calçada, os cabelos que estavam presos se soltaram e espalharam, caindo em cascatas negras e desgrenhadas pelas costas e pelo rosto pálido da jovem.

Que havia acontecido? Por pouco ela não caiu de cara no chão e quebrou o nariz.

--- Sai daqui com essa bicicleta, agora! --- Alivia ouviu alguém se aproximar e se abaixar ao seu lado --- Ei, você esta bem?

--- Eu... --- A jovem engoliu em seco, sentindo mãos fortes segurarem seus ombros e cintura, a levantando um pouco do chão, fazendo-a ficar sentada --- Porra. --- Murmurou.

--- Você bateu a cabeça? --- O estranho perguntou, parecendo preocupado.

Alivia tentou focar sua visão no rosto dele, mas as madeixas de seu cabelo a atrapalhavam, ela piscou algumas vezes, enquanto sentia os fios serem afastados de seu rosto e colocados atrás de sua orelha pela mão do estranho, então pode enxergar quem era.

Joshua. Seu novo vizinho.

--- O quê bateu... em mim? --- Alivia perguntou encarando os olhos azuis dele.

Não era um azul normal, ela só tinha visto aquele tom de cinza-azulado tão intenso em um par de olhos. Nos seus. A oscilação entre cinza, azul e preto variava por conta da luz, mas naquele momento, eram os olhos mais azuis que ela já havia visto.

--- Meu irmão... --- Joshua respondeu após alguns segundos de silêncio, parecia estar saindo de um transe, encarou os olhos de Alivia e continuou --- Ele não é muito bom com a bicicleta... sinto muito!

--- Tudo bem...sem problemas. --- Alivia tentou sorrir, não tinha muita vontade, mas Joshua sorriu formando covinhas em suas bochechas, ele segurou em um braço dela e em sua cintura a pondo de pé --- Obrigada.

--- Imagina! --- Ele ainda tinha um sorriso no rosto --- E sua perna não está doendo? --- Ela negou --- Certeza?

Alivia devia admitir que ele era lindo, a jovem desviou o olhar, pegando uma mecha do cabelo, que insistia em cair no rosto, e colocando atrás da orelha.

Era estranho ficar tão perto de alguém que não fosse Luige.

Joshua pareceu prestes a dizer algo, Alivia o encarou, mas o loiro abriu e fechou a boca, não dizendo nada.

--- Filha! Você não devia ter saído assim de casa! --- Vanessa apareceu na porta, como um furacão chegando até os jovens poucos segundos depois --- O quê aconteceu aqui?

--- Fui atropelada. --- Alivia encarou a fachada da casa.

--- Como?! --- Os olhos de Vanessa quase saíram das órbitas --- Você está bem? Como isso aconteceu? Quem foi? --- A mulher passou a examinar a filha minuciosamente.

--- Foi uma bicicleta senhora... --- Joshua interviu com um sorriso divertido e tímido, ao mesmo tempo.

--- Quê? --- Vanessa encarou o rapaz com a cabeça tombada de lado --- Você é o filho da Angeline, certo?

Alivia sorriu discreta. O loiro assentiu.

--- Meu irmão... ---  Joshua apontou para Jake, alguns metros de distância deles, montado em sua bicicleta azul com preto --- Bateu na sua filha sem querer, sinto muito. --- Esclareceu com um sorriso discreto.

--- Entendi...você me assustou filha. --- Vanessa encarou Alvia de modo sério, a jovem deu de ombros, ocupada demais em prender o revolto cabelo negro --- Bem... --- Ela suspirou, desistindo de um diálogo --- Vou tirar o carro, e então vamos onde você queria, querida.

--- Ok.

Foi tudo que Alivia disse como resposta, enquanto Vanessa andava ate a garagem para pegar o carro, a jovem finalmente conseguiu prender os cabelos outra vez, e então encarou Joshua que continuava parado, com um sorriso de canto.

--- Que foi? --- Ela levantou as sobrancelhas.

--- Nada... --- Ele respondeu, meio sem graça olhando para o lado e vendo o irmão ainda parado --- Jake vem aqui. Agora. --- Ele mandou num tom sério que quase nunca usasa, apenas com Jake.

Jake se afastou da bicicleta a escorando na parede branca da casa, e andando a passos lentos e arrastados ate o irmão, parecia saber que levaria uma bronca daquelas, parou ao lado de Joshua.

--- Quê é? ---- Perguntou o mais novo sem encarar Joshua e evitando fazer contato visual com Alivia.

O menino vestia uma bermuda jeans verde escuro e uma blusa azul claro, com o desenho de uma âncora preta, e mangas longas azul escuro.

--- Pessa desculpas para ela. --- Joshua mandou encarando o irmão de cima, o loiro era um rapaz de 1,78 de altura e seu irmão de 1,40 ficava ainda menor perto dele.

--- Desculpa... --- Ele finalmente encarou Alivia, que sorriu ao ver os olhos castanhos tão meigos do menino a encarando --- Eu não queria ter batido em você...

--- Tudo bem, lindinho. --- Ela se inclinou, ficando frente a frente com ele e jogando seus cabelos revoltos para trás --- Jake, não é? --- Perguntou e ele assentiu --- Jake, não precisa se preocupar, eu estou bem.

--- Que bom. --- Ele sorriu, se afastando e correndo até sua bicicleta no momento em que Vanessa saía da garagem com o carro prata --- Sinto muito, mesmo!

Ele gritou e acenou, sumindo rua abaixo.

--- Jake não consegue ficar quieto nem por um minuto.

Alivia ouviu a voz de Joshua dizer e o encarou, ele olhava o irmão brincar com um sorriso, ela assentiu, costumava sorrir assim para seu irmão.

--- A maior parte das crianças é assim... --- Ela falou ainda o encarando, com as mãos nos bolsos da calça jeans.

--- Você tem toda razão, senhorita...? --- Ele se virou para ela com uma sombrancelha dourada arqueada.

A jovem sorriu de canto e abriu a boca para o responder, mas foi interrompida pelo som da buzina do carro de Vanessa parado na rua. Estava na hora de ir, de enfrentar seus traumas. 

--- Já estou indo, mãe! --- Gritou revirando os olhos e voltando a encarar o rapaz encantador a sua frente, ele a encarava com expectativa --- Dion, Alivia Dion, muito prazer. --- Falou por fim.

--- Sou Joshua Dortmund. --- Ele estendeu a mão para ela que a segurou com um sorriso discreto, a reação que ele esperava e não a que tinha normalmente --- O prazer é meu.

--- Bem Joshua, eu tenho que ir agora. --- A jovem soltou a mão dele, e começou a se afastar antes que sua mãe saísse do carro para buscá-la.

--- Onde vai com tanta pressa? --- Ele perguntou franzindo as sombrancelhas, era muito curioso e admitia isso --- Se me permite perguntar.

Alivia o encarou por sob o ombro com um sorriso triste. Não eram os sorrisos que estava acostumada, mas agora eram involuntárias.

--- Ao cemitério. --- Respondeu ela, aumentando o passo ate o carro de Vanessa, que logo partiu rua afora.

--- Cemitério...? --- Joshua tombou a cabeça de lado, foi quando sentiu algo passar rapidamente ao seu lado quase o acertando --- JAKE!

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