O Pai do Meu Filho
O Pai do Meu Filho
Por: Mariana Moraes
Capítulo Um

Não havia nada mais desagradável do que despertar com uma intensa dor de cabeça causada pela ressaca num quarto completamente desconhecido.

Não completamente. Eu sabia exatamente à quem pertencia aquele quarto pois estava consciente o suficiente na noite anterior para concordar em ir até ele.

Jason Martell. Deitado ao meu lado naquela cama de casal, nu do tronco para cima, com seus membros inferiores cobertos por um grosso edredom branco, dormindo tranquilamente de boca aberta, estava o quarterback e capitão do time de futebol americano do nosso colégio.

Vai, Lobos da Montanha! A vitória deles no dia anterior rendera uma verdadeira festa na casa de Bailey. Tinha gente bêbada para todo lado e a piscina estava lotada. Todos compartilhavam a adrenalina de que a polícia poderia aparecer a qualquer momento por causa do som alto. Eu e mais algumas pessoas estávamos na mesa de pingue-pongue, fazendo uma competição de quem conseguia beber mais shots em trinta segundos. E eu venci.

— Nossa, Ariana, eu nunca vi uma garota beber assim.

Com aquelas palavras, Jason se aproximou de mim. Naquele momento, não consegui dizer o que causava mais efeito sobre mim: o álcool ou os profundos olhos azuis de Jason, que estavam fixados diretamente nos meus. Seus lábios formaram um sorriso malicioso ao passo que ele se posicionava diante de mim como uma presa prestes a ser caçada.

— Isso é porque você não me conhece. — rebati, virando de costas e saindo rebolando. Eu sabia que Jason não desistiria tão facilmente e sabia que ele viria atrás de mim.

— E o que devo fazer para conhecê-la?

Enquanto tentava tirar os detalhes sórdidos e explícitos da noite passada da minha mente e ao mesmo tempo lembrar se alguma camisinha estivera envolvida naqueles acontecimentos, a ideia de que inúmeras outras garotas estiveram na mesma posição que eu surgiu em minha mente. Espero que ele pelo menos troque a roupa de cama.

De repente, o alarme do meu celular começou a tocar. Droga.

— Mas que merda...? — ouvi Jason resmungar, despertando. Eu não tinha muito tempo a perder então imediatamente pulei da cama e comecei a vestir as minhas roupas que estavam espalhadas por todo o quarto. — Ah, bom dia, Ariana.

Tomei um susto ao ouvir meu nome e acabei tropeçando na tentativa de colocar aquele jeans. Não pude deixar de ficar envergonhada com o meu caso da noite passada olhando eu me vestir daquela forma.

— Nem vai esperar o café da manhã? — indagou ele, sentando na cama.

— Eu realmente tenho que ir. Mas eu me diverti muito ontem a noite. — num suspiro, peguei minha bolsa e olhei uma última vez para Jason, que ainda forçava uma carinha triste de cachorrinho perdido quando ambos. — Tchau.

Apressada desci correndo as escadas em direção à porta dos fundos. O barulho do piso rangendo obviamente deve ter chamado atenção, porque ouvi a voz de uma mulher, provavelmente a mãe de Jason, chamá-lo.

— Jason? Já está acordado?

Eu congelei imediatamente, sem saber o que fazer. Tudo indicava que ela se aproximava das escadas e logo veria uma garota estranha saindo da sua casa numa manhã de sábado.

— Só vim beber água, mãe! Vou voltar a dormir! — exclamou Jason, no topo da escada. Em seguida, ele se voltou para mim com uma expressão "eu te salvei, sou seu herói" no rosto e murmurou: — Vá.

Assenti com a cabeça e sibilei um agradecimento.

Com passadas largas, porém silenciosas, sai rapidamente da casa e logo me vi dentro do lata-velha da família Baker. Aquele carro estava na família há 20 anos. Fora do meu avô, que entregou para meu pai consertar. Infelizmente nem eu, nem minha irmã tínhamos habilidades para mecânica, e quando chegou a hora de nós recebermos o carro, ele acabou daquela forma mesmo. Com a pintura gasta, vários problemas, banco manchado, velho, mas no final das contas, útil.

Depois de improvisar uma maquiagem com o que tinha na minha bolsa, liguei o carro e dirigi para casa. Esperava que meus pais não reparassem que eu estava com a mesma roupa da noite anterior. Eles sabiam que eu tinha ido ao jogo, mas não à festa. Eles tinham ido à uma confraternização de fim de ano da empresa da minha mãe e chegaram bem tarde em casa, imaginando que eu estava lá, dormindo.

Bem, eu definitivamente não tinha ido para casa e muito menos dormido naquela noite. Contudo, lá estava eu, com as olheiras cobertas de corretivo, dirigindo às 6 horas da manhã torcendo para chegar em casa antes de eles acordarem.

Duas semanas depois, fui buscar minha irmã cinco anos mais velha no aeroporto. Ela vindo passar os feriados de fim de ano conosco, após um seis meses longe, na faculdade.

A cada tempo que passávamos separadas, minha irmã parecia mais madura. Até estava usando um blazer. Já eu, estava de shorts e camiseta porque estava especificamente quente naquele dia. Eu imaginava que chegaria o dia que ela estaria cansada de fazer as unhas e falar sobre as fofocas dos garotos do colégio. Afinal, ela era uma mulher da universidade agora.

— Ariana!

Como eu disse, ela parecia mais madura. Isso não anulava a criança sapeca que vivia dentro dela e provavelmente nunca ia morrer. Assim que ela me viu, começou a pular de felicidade, pegou a sua mala e veio correndo para me abraçar.

— Eu senti tanta saudade, April. — falei.

— Eu também. Como está a mamãe e o papai?

— Ah, como sempre. Você sabe, sendo os pais mais carinhosos e superprotetores da história. — suspirei. — Eu pedi para mamãe fazer uma torta de limão, aliás. Eu sei que você gosta. Espero que fique pronta para o jantar.

— Ei, calma aí. — ela franziu a testa. — Você odeia torta de limão.

— Eu sei, mas eu ontem eu tava com uma vontade enorme de comer torta de limão. Estranho, não é? — dei de ombros. — Enfim, eu senti sua falta. — a abracei de novo. — Fique atenta porque posso acabar não deixando você voltar.

— Estaria me fazendo um favor! — ela soltou uma gargalhada espalhafatosa. No caminho do carro, ela me contou sobre como estava sendo horrível lidar com uma matéria e o professor chato e os inúmeros conteúdos e trabalhos acumulados. — Me lembre de não ir pra faculdade de novo... Ariana, você está bem?

— Eu tenho estado meio enjoada esses dias. —  disse eu, colocando a mão na cabeça. — Acho que preciso ir ao banheiro.

Dito isso, corri para o toalete do aeroporto. Eu achava que era apenas um enjoo matinal, no entanto, quando comecei a vomitar, achei que devesse me preocupar.

— Será que foi algo que você comeu? — perguntou April, segurando meu cabelo. Neguei com a cabeça, impossibilitada de falar. — Pode ser virose também. Ou verme. Apesar de que...

Me afastei da privada, tentando normalizar minha respiração. Seja o que fosse, não deveria ser sério.

— Apesar de que o que? — falei, me aproximando da torneira para lavar o rosto.

— Quando foi a última vez que desceu sua menstruação?

Arregalei os olhos, e os meus batimentos cardíacos pararam por um segundo. Me virei para April, rindo. Ela deveria estar louca. Deveria ser o fuso horário mexendo com a cabeça dela.

— Não, April. Não. — neguei veementemente. — Me ouviu? Não.

— Vai me dizer que a santinha aqui nunca...

Antes que ela começasse a fazer um gesto inapropriado com as mãos eu a segurei.

— Para com isso!

— Está bem! Está bem! — ela bufou e estendeu as mãos como se estivesse se rendendo. — Foi só um pensamento.

Respirando fundo, me sentei naquele chão gelado do banheiro, contemplando o que poderia ser verdade.

— Algumas semanas... eu acho. — lamentei, fitando o chão. Eu só... eu não poderia estar grávida. Seria o fim da vida como eu planejei. Eu não queria nem pensar nisso.

— Você deveria fazer o teste. — April se ajoelhou na minha frente. Aquele era o momento em que ela daria uma de irmã mais velha protetora e responsável. Por mais desregulada e maluca que fosse, ela nunca deixou de me apoiar quando eu precisei. Ela ficava comigo quando eu tinha pesadelos, me ajudava a estudar quando eu tirava nota baixa... e agora faria um teste de gravidez comigo.

Compramos um teste de cada marca possível na farmácia do aeroporto. Quando fomos pagar, o moço nos olhava com estranheza e desapontamento. Afinal, éramos duas garotas, de dezesseis e vinte e um anos comprando inúmeros testes de gravidez.

Talvez eu devesse me acostumar com esse tipo de olhar.

Enquanto eu fazia os testes, April estava do outro lado da porta, fazendo um teste online que ela tinha achado.

— Você se sente cansada mesmo quando dorme o suficiente? — ela fez a primeira pergunta.

— Sim, eu e todo aluno do ensino médio. — resmunguei.

— Você notou um atraso no seu ciclo menstrual? Sim. Você tem estado enjoada e com vontade de vomitar? — ela riu e respondeu por mim novamente: — Sim... Você está urinando mais do que antigamente?

— Sei lá. Talvez. — aquelas perguntas que ela fazia e a espera dos tracinhos aparecerem estavam me deixando ansiosa. Eu balançava a minha perna e olhava para aqueles testes na espera da confirmação de que eu obviamente não estava grávida.

Após mais algumas perguntas, encerrou-se os dois minutos de espera e o resultado do teste começou a aparecer.

— "Parabéns!" — exclamou April, lendo o resultado do teste online. Naquele exato momento, eu abri a porta do toalete, com o resultado em mãos. — "Você está..."

— Grávida.

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