#2

༺ ITALIA ༻

༺ 2024 ༻

O relógio marcava quinze para as dez quando ele finalmente terminou de revisar a última das pastas que estavam sobre sua mesa. Como tem feito no último ano, usou aquela noite de sábado para colocar em dia todo o trabalho acumulado da empresa, mas, depois de um longo dia, Alessandro finalmente podia descansar.

Ao contrário de sua irmã, que naquele momento estava curtindo mais um fim de semana de festas, Alessandro levava muito a sério sua posição na empresa, ainda mais agora que era o CEO e estava tão perto de herdar a presidência a qualquer momento. E naquele momento, esse era seu maior desejo: fazer um bom trabalho e ser reconhecido por isso, e não apenas pelo sobrenome de sua família. Ele sempre teve muito claro qual era seu lugar e suas obrigações como herdeiro de uma grande empresa, então não queria que, ao assumir o cargo, o posto fosse grande demais para ele ou se tornasse um fardo pesado em seus ombros. Pelo contrário, faria aquele cargo ser seu e o administraria com confiança. Por isso precisava tomar as rédeas da sua vida com responsabilidade e não se permitir distrações. Talvez por isso tenha cancelado seu casamento com Rosangela — ele não tinha a menor intenção de se concentrar em algo que não fosse seu trabalho.

Após se espreguiçar um pouco, vai até a cozinha pegar um copo de água, depois segue até a sala de estar onde se senta no sofá em frente à TV, a qual liga para começar a fazer zapping, buscando algo que o distraia por um tempo. Embora devesse acompanhar sua irmã Thalia em seu “compromisso” naquela noite, sentia-se exausto demais até mesmo para cogitar ir à festa de noivado da melhor amiga dela.

Quando terminou de assistir “O Senhor dos Anéis”, o relógio já quase marcava uma da manhã. Com o controle remoto na mão, se preparava para desligar a TV e ir dormir, mas quando o celular ao seu lado se iluminou com a chegada de uma mensagem, ele desviou a atenção para o aparelho. Vendo o identificador, notou que era sua irmã. Provavelmente Thalia já estava bêbada o suficiente para querer sair da festa, mas ele não tinha nenhuma intenção de fazer o papel de motorista da vez.

Ignorando a mensagem, segue com seu plano, ou pelo menos essa era a intenção — até ser interrompido novamente, desta vez por uma chamada de vídeo da irmã. Sabendo que não se livraria dela tão facilmente, Alessandro suspira e acaba atendendo.

—Espero que você esteja a segundos de morrer, porque, se não estiver, vai desejar estar — diz assim que atende a chamada.

“Tem uma coisa que você precisa ver — diz exaltada —. Espero que esteja sentado, porque se não estiver, é melhor procurar onde se sentar! Porque isso é uma bomba!”

—Quer ir direto ao ponto? — pergunta enquanto caminha pelos corredores escuros até seu quarto.

“Como você é chato! E eu que ligo querendo ser uma boa irmã, te dar a melhor notícia da sua vida e alegrar essa tua vida de merda.”

Alessandro não consegue evitar passar a mão no rosto ao ouvir as palavras da irmã. Pelo visto, assim como todo mundo ao seu redor, Thalia também achava que sua vida era uma desgraça.

—Vou desligar — avisa, prestes a encerrar a ligação.

“Não se atreva! — exclama irritada —. Deixa eu achar eles que eu te mostro o que quero que veja.”

—Thalia, se isso for mais uma das tuas piadas idiotas, eu juro que vou…

“Não estou achando! — reclama frustrada enquanto encara a tela do celular —. Enfim, você se lembra da sua secretária, Nicole?”

Ao ouvir aquele nome, Alessandro não consegue esconder a expressão de desgosto. Como ela havia prometido aquele dia no escritório, ele não ouviu mais nada sobre ela nos últimos cinco anos — foi literalmente como se a terra a tivesse engolido.

—Vai direto ao ponto — insiste, sem entender por que ela trouxe Nicole à tona.

“Pois bem, o ponto é o seguinte, maninho: pelo que vi hoje, você acabou de se tornar o maior canalha do mundo, e quando o vovô descobrir toda a verdade, pode dar adeus a qualquer chance de herdar a empresa.”

—Que merda você está falando?

“Tô falando de você agindo como um verdadeiro filho da pu…”

—Vou desligar — diz, cortando-a, já cansado da ladainha.

“Espera, cacete! É que eu não sei como começar — e depois disso, Alessandro a vê caminhar pelo salão até chegar ao que parece ser uma varanda, pois, ao se virar, ele vê as luzes da cidade ao fundo —. Tá, lembra que me contou que demitiu ela porque ela tentou te extorquir fingindo uma gravidez, né?”

—Thalia… — diz, exausto da conversa.

“E também colocou uma ordem de restrição e proibiu ela de entrar na empresa quando continuou te procurando depois disso…”

—Ao ponto!

“Bem, depois do que vi hoje, estou mais do que certa de que ela não mentia, e que você, meu querido irmão, foi apenas um prepotente irresponsável com as próprias ações.”

—Do que você tá falando? — pergunta, agora mais atento, sentindo um calafrio subir pela espinha —. Thalia, explica essa porra direito.

“Então... Nicole estava aqui hoje. E não veio sozinha, estava com o filho. E se não fosse por Ricardo, eu com certeza teria desmaiado e causado um escândalo. Adivinha só com quem aquele menino se parece? Eu juro, ele é tua cópia de quando era criança. Só que com olhos verdes.”

Alessandro fica em silêncio tentando processar as palavras da irmã. Conhece Thalia bem o suficiente para saber, só pelo tom, quando ela está brincando ou falando sério — e ali, não havia nada de brincadeira.

—Thalia…

“Vou te mandar uma foto. Consegui tirar uma antes de Nicole me ver e colar no menino.”

E com isso, a ligação cai. Alessandro fica alguns segundos com o celular erguido, tentando processar tudo. Mas essa intenção logo é interrompida por uma nova notificação no chat com Thalia.

Se não estivesse sentado na cama, poderia jurar que teria desmaiado ali mesmo.

Enquanto encara a tela do celular, Alessandro sente como se o mundo girasse a uma velocidade vertiginosa e, de repente, parasse bruscamente, o esmagando contra o chão. O loiro mal consegue acreditar no que vê.

Na foto, Nicole aparece sorrindo, segurando uma taça. Seu corpo escultural está envolto em um vestido vermelho que marca cada curva — curvas difíceis de acreditar que passaram por uma gravidez. Seu cabelo agora rosa claro cai livremente. Por um instante, Alessandro a compara com Jessica Rabbit — tão linda, sedutora e envolvente quanto. Mas isso não é o que chama sua atenção.

O que realmente o paralisa é o menino ao lado dela. Deve ter uns quatro anos, talvez quase cinco. Cabelos loiros arrumados, bochechas redondas levemente sujas de chocolate e, ao dar zoom na imagem, confirma o que Thalia disse: os olhos verdes da mãe.

O ar abandona seus pulmões enquanto ele analisa cada detalhe da imagem. As palavras ditas a Nicole naquele escritório cinco anos atrás voltam à sua mente com força total. Lembra-se das vezes que ela tentou falar com ele nos meses seguintes, até que ele se irritou e conseguiu a ordem de restrição. Merda. Todo esse tempo ele esteve certo de que ela era apenas uma interesseira — um pouco mais astuta que outras, mas só isso. Uma caçadora de fortunas. Mas como negar a realidade, se aquele menino na foto é o retrato vivo dele mesmo?

—Thalia… — diz ao retornar a ligação, mas ela não deixa ele falar.

—Não é idêntico a você? Só que ele é bem mais fofo do que você era nessa idade.

—Thalia… A Nicole… ela ainda está aí? — pergunta, com a esperança de que ainda dê tempo de chegar à festa, conversar com ela, se desculpar e resolver a situação da criança.

—Acho que já foi embora.

—Merda! Por que não me ligou antes? — reclama, apertando o celular com força.

Sem esperar por resposta, Alessandro encerra a chamada e deixa o celular sobre a cama. Não precisa ver a foto de novo. Basta fechar os olhos para ver o menino.

Aquela criança é sua cópia perfeita.

Só que trinta anos mais jovem.

—Eu... sou pai.

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