O que restou da festa foi um verdadeiro caos. Eu sequer consegui dormir olhando para toda aquela bagunça, bebidas e comidas jogadas por todos os lugares, era bastante tarde quando um motoqueiro chegou, a Cíntia, uma das funcionárias me chamou, dizendo que havia algo para mim, achei estranho, até ver do que se tratava.A lembraça de Alexandre, dizendo no quarto que cuidaria sobre o meu uso de anticoncepcional me veio a mente, eu pensei que ele teria esquecido, li as bulas atentamente de cada caixa, e o que me pareceu mais seguro, tomei.Era uma novidade para mim, aquele mundo, eu sabia que precisava ter cuidado com o meu corpo, tudo que me lembrava era de ter ido a ginecologosita algumas vezes, a partir do momento em que começou a vir a minha menstruação, depois algumas crises devido ao excessivo uso de roupas apertadas, biquinis e calcinhas, eram crises de candidiase sem fim.Corrimento aqui ou ali, mas nada de fato, tão preocupante.Fiquei parada me olhando no espelho do quarto, ao co
Ela parou diante da bancada da cozinha, talvez não esperasse de mim uma resposta direta, crua e infonsiva, os nossos olhos cruzaram como quem se enfrentavam naquele pequeno cômodo.— Você sabe o que passou pela minha cabeça enquanto eu te procurava? Sabe como eu me senti?— Neguei, afinal eu nunca saberia, a culpa pesava ainda mais, naquele momento eu estava com Maria Vitória na biblioteca, havia uma mistura de culpa, remorsso, mas menos arrepedimento, fui bombadeado por lembranças sutis.Daquela garota naquele biquini vermelho a minha frente, gemedo falando o meu nome, beijando a minha boca, até se tornar ofegante, enquanto eu continuei, era fácil ser duro com ela, eu me sentia seu dono, e de alguma forma, era gostoso sentir que sei mais do que ela.Clara pegou uma uva e a levou à boca, evitando me olhar.— Não. O que sentiu? Medo? Insegurança? — Perguntei me sentando no sfá, onde esteva a pouco. Ela chupou a uva pegando apenas com a ponta das unhas, era como um desafio para toda e qua
Afirmei, vendo sua surpresa quando voltei para o quarto. Ele ainda parecia atônito com minha presença, como se não acreditasse que eu realmente tivesse voltado. Passei por ele em silêncio, disposta a escutar, afinal eu também tinha erros.Ele fechou a porta atrás de si com força contida, cruzando os braços, o maxilar travado de tensão.— Você não tem direito algum de chegar aqui me ditando regras, Maria Vitória. — Sua voz era baixa, mas firme. — Posso ter exagerado, sim, mas jamais faria as coisas que você mencionou. Eu não sou esse tipo...Eu ri. Ri de nervoso, de raiva, de tudo que vinha entalado há anos.— Ah, não? Então quem estava deitado com a perna de um “negrão” por cima, completamente despido? Hein? Vai negar o que eu vi?Ele empalideceu. Deu um passo para trás, como se minha pergunta tivesse sido um tapa.— Isso… não é possível. Você só pode estar inventando. Sua mãe me avisou, e eu não quis acreditar. Disse que você era venenosa. Que tentou roubar o namorado dela.Fiquei imó
Saí do quarto sem olhar para trás. O som abafado da televisão ligada na sala misturava-se aos meus pensamentos, cada vez mais distorcidos.Não havia como voltar à cama depois daquilo. Nem havia cama onde deitar, na verdade. Apenas um passado que parecia se desfazer, camada por camada, diante dos meus olhos. E no fundo, bem fundo, eu já não tinha certeza se era uma raiva, ou um alívio, eu não sentia mais vontade de tocar em Maria Clara, em estar perto.O peso do que estava acontecendo, transitava entre nós dois, a culpa não era únicamente dela, era nossa, mas ao pensar em Maria Vitória, não havia arrependimento algum, eu jamais seria um hipócrita para tanto, mas sabia que era momento de me afastar.Fui até a varanda, com o cabelo ainda molhado do banho. A brisa da noite era cortante. Sentei na cadeira de madeira, encostei a cabeça na parede e fechei os olhos. O meu corpo cedia, mas a mente ainda processava as palavras de Clara, era como ferro atravessando a carne, sem passagem ou aneste
Passava do ínicio da tarde quando vi Alexandre cruzar o terminal rodoviário. Desviei o olhar, fingindo estar concentrada no celular. Eu precisava parar de pensar nele, ainda mais daquele jeito, usando roupa de hospital fora do hospital, e ainda assim, ele me parecia sexy, bonito e muito atraente. A sua maneira de andar, calmamente, a cada passo firme, sem pressa, transmitia uma elegância, que poucas vezes foram vistas, ele sabia o que estava fazendo a cada passo, a cada olhar, e isso me desestabilizava por inteira. Mantive os meus olhos na tela, buscando distrair as minhas ilusões.Eu não poderia me apaixonar por ele. Aquele homem é comprometido, casado e por mais que eu tivesse vindo de um lar, onde isso não significava muita coisa, eu queria respeitar o casamento de Alexandre, eu não queria mais me sujeitar a relacões extra-conjugais como diversão.Aquele não era o momento para achá-lo sexy. Era uma fossa. Era fim, mas ele se aproximou devagar, e mesmo de cabeça baixa, observei os
O domingo não foi diferente. Ir para o trabalho era a minha salvação. Alguns funcionários do plantão ainda comentavam sobre a festa apocalíptica de Heitor. Eu me mantive à parte, trabalhei o dia inteiro. Quando a noite chegou, o celular tocando dentro da gaveta me tirou do transe dos papéis.Imaginei que fosse Clara. Talvez pedindo para conversar. Pedindo desculpas. Ou cobrando explicações.Mas o número desconhecido na tela me fez hesitar por alguns instantes. Não era da cidade. Não importava quem fosse, não naquele momento. Tentei voltar ao trabalho, mas a ideia de ser Maria Vitória me fez pegar o celular de novo. Ela me ligaria se precisasse? Teria algo dado errado com os medicamentos?Retornei a chamada, torcendo, secretamente, para que minha insanidade fosse verdade. Mas não era. Era apenas um contato aleatório, confirmando uma apresentação em uma faculdade federal, a aula magna, eles havia gostado da minha palestra de encerramento, o auditório ficou lotado.Achei estranho o dia e
Deixei Heitor para trás naquele refeitório, eu até poderia me sentir inquieto com Maria Vitória partindo, mas isso não me dava motivos de ir atrás dela, como um resolvedor de soluções, faltando apenas um cavalo branco, no fundo, Maria Vitória partir, mesmo que precocemente, nos tirava de uma confusão enorme. — Por favor Alex, só desta vez...Heitor me seguia pelos corredores como se eu fosse seu salva guarda, e no fundo, algo já me cansava daquele papel. — Talvez, talvez a mãe dela tenha razão, mas pensa na situação, a Maria Vitória pode mesmo estar tendo um caso com o padastro, a mãe grávida, eu não vim ela...— Ela não teve um caso com padastro. — Afirmei aguardando o elevador, o pouco que eu conheço Maria Vitória poderia ser capaz de afirmar. — Como pode dizer isso com tanta certeza? A Maria sequer olhou para alguém naquela festa. — Questionou, ela tinha ficado comigo, como eu poderia dizer, a voz na minha cabeça gritava. — Você não pode saber, estava bêbado, subiu no meio da festa
O olhar de Alexandre se manteve fixo a estrada por longo tempo, eu me sentia ansiosa, querendo roer as unhas, não sabia como seria esta conversa, sequer estava preparada para olhar no rosto do meu pai, e sobre nós, não falamos nada. Quando a sua mão tocou o meu joelho, eu estremeci, olhei para Alexandre receosa, e o olhar que ele me deu de volta, em silêncio, por alguns segundos, era douradouro o suficiente para que eu soubesse que não haveria mais uma vez. E talvez fosse melhor assim.Eu não queria perder a cabeça, não por um homem, ainda mais um que não era meu. Ele voltou a olhar a estrada, me ignorando ao seu lado, e como ele, fitei a janela, tentando fugir de tudo aquilo, havia um desejo enorme de resolver tudo de uma vez, e ir embora, mas eu sabia que isso machucaria pessoas que sequer sonhava com esta loucura, a amizade entre eles é linda, eu desejei ter uma amizade assim, alguém que me defendesse mesmo quando eu estivesse errada.Olhei para Alexandre ali a espera do sinal ver