Capítulo 7
— Naiara, você quase matou a Catarina e ainda tem coragem de dormir?!

Naiara levantou a cabeça com dificuldade e viu os olhos do pai ardendo de raiva.

Ao lado, a madrasta mantinha a cabeça baixa, soluçando sem parar.

— Naiara... — A voz da madrasta estava embargada, as lágrimas rolavam sem cessar. — Sua irmã não tem muito tempo, por que você simplesmente não a deixa em paz? Já deixamos de lado o que aconteceu na festa de despedida, mas desta vez... você quer mesmo a morte dela?

Naiara apertou fortemente o lençol, sem conseguir mais suportar o falso semblante da madrasta.

Forçando-se, sentou-se e disse, palavra por palavra:

— Não fui eu que coloquei a maldição na festa de despedida, nem a empurrei do penhasco. Você sempre protege a Catarina quando ela me arma, não tem medo de pagar por isso?!

Um tapa forte atingiu seu rosto, fazendo Naiara cambalear um passo para trás, com sangue escorrendo pelo canto da boca.

— Insolente! — O pai tremia de raiva. — Sua mãe era igualzinha, sempre colocando a culpa nos outros! Agora até você...

— Calma! — A madrasta acariciou as costas do pai. — A culpa é minha, fui eu que não soube educar a Naiara...

— Não é sua culpa! — O pai interrompeu em voz alta, fitando Naiara com os olhos fixos. — Já que você é tão capaz, a partir de hoje, não é mais filha da família Santos!

Depois de dizer isso, saiu batendo a porta com a madrasta.

Ao mesmo tempo, um raio cortou o céu e a chuva caiu torrencialmente.

Naiara caiu no chão sem forças, encolhendo seu corpo magro em um canto, enterrando o rosto nos joelhos e chorando em silêncio.

Em meio à confusão, as últimas palavras de sua mãe voltaram a ecoar em seus ouvidos.

Aquela mão magra segurou-a com força, a voz fraca, mas cada palavra era clara:

— Naiara, daqui em diante... siga bem seu caminho... Mamãe vai estar no céu... olhando por você...

Durante todos esses anos, ela se obrigou a comer direito, a dormir cedo.

Queria que sua mãe visse lá de cima que, mesmo sem o amor do pai, ela ainda poderia viver brilhantemente.

Mas e agora?

— Mamãe... — Naiara murmurou, as lágrimas encharcando o tecido sobre os joelhos. — A Naiara de agora deve estar te decepcionando muito...

Lá fora, a chuva continuava a açoitar.

Naiara ficou ali, abraçada a si mesma, adormecendo em meio às lágrimas.

......

Quando Naiara acordou novamente, percebeu que, em algum momento, fora levada para o sofá da sala.

O fogo crepitava na lareira.

Afonso estava sentado ao lado, os dedos longos segurando um cigarro, a fumaça azulada envolvendo seus dedos.

— Afonso... — Ela chamou com voz fraca, a garganta seca e dolorida.

O homem virou-se ao ouvir, e aqueles olhos que antes eram gentis agora só mostravam frieza.

— Acordou?

— Por que estou aqui? — Naiara tentou se sentar, mas estava sem forças.

Afonso não respondeu, apenas disse friamente:

— Ontem eu ia te buscar, mas a exposição de arte da Catarina pegou fogo de repente. Todas as obras dela, nenhuma se salvou.

O coração de Naiara afundou.

Ela entendeu o que Afonso queria dizer, apressou-se a explicar:

— Não fui eu quem colocou fogo, nada do que aconteceu foi minha culpa, você pode investigar...

— Naiara. — Ele a interrompeu suavemente, o olhar tão estranho que a deixou inquieta. — O maior sonho da Catarina é ser artista, aquelas pinturas eram tudo para ela. Ela jamais destruiria com as próprias mãos o que construiu com tanto esforço.

Os dedos de Naiara começaram a tremer.

— O que você está querendo dizer?

— Não contei ao seu pai, nem à Catarina, sobre o incêndio. — Afonso levantou-se, olhando-a de cima. — Mas isso não pode ficar assim. Você também precisa sentir o que é ter aquilo que mais ama destruído.

Só então Naiara percebeu que Afonso segurava o boneco que sua mãe fizera para ela.

— Eu sei que este é seu bem mais precioso. — Os dedos dele fecharam-se lentamente, deformando o boneco em sua mão. — Se eu o destruir, você também vai ficar arrasada, não vai?

— Não! — Naiara praticamente se jogou do sofá, tropeçando ao correr até ele.

Aquele boneco tinha sido costurado à mão por sua mãe, quando ela tinha dez anos, mesmo doente.

Naquela época, a mãe já estava tão fraca que mal conseguia segurar uma agulha, mas insistiu até terminar, entregando-lhe no leito de morte com carinho:

— Naiara, mamãe não pode mais te acompanhar, quando sentir saudades, olhe para ele...

Mais tarde, Naiara costurou em segredo as cinzas da mãe dentro do boneco, e dormia com ele todas as noites, sobrevivendo às madrugadas mais difíceis.

Agora, Afonso queria destruí-lo!

— Eu disse que, quando Catarina partisse, tudo voltaria ao normal. Mas você não soube obedecer.

Então, Afonso ergueu a mão e lançou o boneco nas chamas da lareira.

— Não! — O grito de Naiara foi lancinante, e ela se atirou ao fogo sem se importar com nada.

As labaredas queimaram seus braços, mas ela parecia não sentir dor, lutando para tirar do fogo o boneco já carbonizado.

Tremendo, abraçou o boneco destruído com força, grandes lágrimas caindo sobre o tecido queimado.

Ouviu passos atrás de si.

Afonso passou por ela e deixou a sala sem olhar para trás.

......

Naiara chorou a noite inteira abraçada ao boneco.

Assim que amanheceu, saiu da mansão com o boneco destruído nos braços e arrastando uma mala.

No caminho para o portão, a cadeira de rodas de Catarina apareceu de repente à sua frente.

— Saia da minha frente. — A voz de Naiara saiu rouca.

— Por que tão agressiva? — Catarina sorriu com leveza. — Agora que você vai embora, dificilmente nos veremos de novo. Afinal, na cabeça do papai e do Afonso, você já provou ser cruel. Eles nunca vão deixar você voltar ao país.

— É? Melhor assim. — Naiara ergueu o olhar, fria. — E você também vai morrer logo, realmente não vamos mais nos ver.

Ao ouvir isso, Catarina deu uma risada.

— Naiara, você realmente acreditou que eu estava com uma doença terminal? — De repente, Catarina se levantou da cadeira e se aproximou passo a passo. — Isso foi só um truque para enganar o Afonso. Quando eu anunciar que houve um erro no diagnóstico, você acha que ele vai ficar radiante?

— Ah, e vou te contar mais um segredo. — Catarina aproximou-se do ouvido dela. — Na verdade, o seu casamento com o Afonso é falso. Eu sou a esposa legítima dele.

Depois de dizer isso, Catarina tentou encontrar qualquer sinal de abalo no rosto de Naiara.

Mas não conseguiu.

Os dedos de Naiara apertaram a alça da mala até ficarem brancos, mas seu rosto permaneceu sereno como a água:

— Então desejo que vocês sejam felizes para sempre.

Sem olhar para trás, ela caminhou em direção ao portão.

Enquanto esperava o táxi na rua, o carro preto de Afonso parou devagar ao seu lado.

Ele baixou o vidro e perguntou:

— Vai embora?

Naiara respondeu com um simples:

— Hum.

— Neste tempo, vamos esfriar a cabeça. — Afonso disse em tom grave. — Quando você voltar, resolvemos tudo direito.

Naiara não respondeu, entrando em silêncio no táxi.

Vendo o carro dele se afastar, murmurou em seu coração: Afonso, espero que não se arrependa quando souber a verdade.

Quando o táxi arrancou, Naiara lançou um último olhar para a mansão que carregava todas as suas alegrias e dores. Em seu olhar, não havia mais emoção.

Ela desviou o olhar, dizendo baixinho:

— Para o aeroporto, por favor.

Os dois carros seguiram em direções opostas.

Assim como suas vidas, que jamais voltariam a se cruzar.
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