Naiara entrou no elevador atordoada.
Quando voltou a si, o elevador já havia parado no subsolo.
Um estagiário se aproximou dela com entusiasmo.
— A senhora veio visitar a exposição de Sra. Catarina, não é? Por favor, me acompanhe.
Só então Naiara percebeu que havia se esquecido de apertar o botão do andar.
Como se estivesse sendo guiada por uma força estranha, ela entrou na galeria.
O estagiário, caminhando atrás dela, explicou animado:
— Esta exposição foi patrocinada pelo Sr. Afonso. Depois, haverá uma turnê nacional.
O olhar de Naiara pousou sobre uma das telas a óleo.
Era as costas nuas de um homem, os músculos bem delineados, uma cicatriz única e marcante na região lombar.
Ela já havia traçado inúmeras vezes o contorno daquela cicatriz na escuridão, por isso sabia exatamente quem era o homem retratado.
Catarina havia pintado vários quadros de Afonso, e as datas anotadas no canto inferior direito eram nítidas e dolorosamente evidentes.
20 de junho, Afonso estava ocupado na cozinha, as costas banhadas por uma luz morna.
— Aquele foi o terceiro dia em que ela esteve em confinamento, fazia greve de fome em protesto, a dor no estômago a fez desmaiar, enquanto ele cozinhava para Catarina.
1 de julho, mãos de dedos longos e definidos dobravam uma camisola de seda bordada com íris, a aliança no anelar reluzia fria.
— Era o décimo terceiro dia de confinamento; ela protestara cortando o pulso com uma lâmina, o sangue encharcou metade do lençol, e ele cuidadosamente organizava as roupas de Catarina.
15 de julho, ele caminhava sob um guarda-chuva pela alameda arborizada, na borda da moldura era possível ver suas mãos entrelaçadas com as de outra pessoa.
— Era o vigésimo oitavo dia de confinamento; seu pai a acorrentara à cama para forçá-la a desistir, febril, ela se encolhia entre os lençóis suados, enquanto ele passeava serenamente de mãos dadas com Catarina sob a luz da manhã.
Cada quadro à sua frente era como uma agulha fincada no coração de Naiara.
Afinal, durante aquele mês sombrio, ele não estava lutando contra nada, esteve o tempo todo ao lado de Catarina!
Seu gesto de quebrar uma xícara diante do pai, a declaração pública de amor, o cancelamento da parceria com o Grupo Santos — tudo não passara de encenação.
Naiara apertou os punhos com força, as unhas cravando fundo nas palmas, mas não sentiu dor alguma.
Não aguentando mais, virou-se e saiu da exposição.
......
Naiara marcou um aborto para uma semana depois e, em seguida, foi até a antiga casa para buscar os pertences da mãe.
Mal chegara em casa, o pai lhe jogou uma passagem aérea.
— Conversei com sua tia e achamos melhor que Catarina passe os últimos dias dela ao lado de Afonso. Esta é a passagem para daqui a dez dias, aproveite para viajar um pouco, relaxar.
Naiara segurou a passagem, os lábios cerrados.
Ela sabia: o pai queria que ela deixasse espaço para Afonso e Catarina.
Afinal, só sem ela por perto eles poderiam ficar juntos, sem obstáculos.
— Naiara, não entenda mal, só queremos que Catarina tenha uma boa despedida...
A madrasta tinha os olhos vermelhos, repetindo palavras que Naiara já tinha ouvido até se cansar.
Ela cortou a conversa, fria:
— Entendi, eu vou embora.
Afonso, ela não queria mais.
Aquela casa também já não lhe importava.
O pai, surpreso, não esperava que Naiara aceitasse tão prontamente, achando que, enfim, ela havia se resignado.
A voz dele suavizou um pouco:
— Vamos organizar uma cerimônia de despedida para Catarina. Daqui a três dias, não se esqueça de comparecer.
— Está bem.
......
Naiara voltou para casa, pegou uma caixa de papelão e começou a guardar tudo que lembrava Afonso.
Os copos de casal que ele lhe dera de aniversário.
Os ingressos do primeiro filme que assistiram juntos.
E também as fotos instantâneas que ela o obrigara a tirar.
Quando já estava quase terminando, ouviu um barulho na entrada.
Afonso havia chegado.
Ao ver a caixa cheia de lembranças, seu coração disparou e ele se apressou.
— Naiara, o que você está fazendo?