Ao sair do tribunal, Naiara sentiu-se como um cadáver ambulante, o olhar perdido, os passos vacilantes.
Só quando entrou no táxi parado à sua frente, as lágrimas reprimidas finalmente rolaram silenciosamente.
Quatro anos atrás, para preservar a reputação das duas famílias, ela se casou com Afonso no lugar de Catarina, que havia fugido.
No início, Afonso era frio com ela.
Mas ela nunca reclamou, cuidando meticulosamente de todos os detalhes da vida dele.
Com o tempo, o coração de Afonso amoleceu diante da sua presença constante.
Ele passou a permitir que ela alterasse sua rotina.
Tinha paciência para ouvir suas piadas sem graça até o fim.
Confiava até documentos confidenciais do trabalho para ela organizar.
Depois, Afonso tornou-se cada vez mais gentil com ela.
Deu-lhe um cartão black sem limite, levou-a aos melhores restaurantes Michelin.
Mesmo que ela quisesse comer pé-de-moleque no meio da noite, Afonso cruzava a cidade para comprar, apertava suas bochechas e dizia, resignado:
— Nunca vi uma gatinha tão gulosa quanto você.
Naiara acreditava que finalmente havia conquistado o coração de Afonso.
Até que, dois meses atrás, Catarina, diagnosticada com câncer, retornou repentinamente ao Brasil.
O pai convocou uma reunião de família naquela noite.
Com expressão séria, ele informou Naiara:
— Sua irmã está em estágio terminal de câncer, deve ter no máximo mais seis meses de vida. O maior arrependimento dela é não ter se casado com Afonso. Por isso, você deve se afastar temporariamente. Após o casamento, quando sua irmã não estiver mais entre nós, Afonso voltará para você.
A madrasta implorou:
— Catarina é sua irmã, por favor, ceda só desta vez!
Catarina chorava desesperadamente:
— Esse é meu único desejo antes de morrer, por favor, me permita realizá-lo.
Naiara não podia acreditar no que ouvia.
Com os olhos marejados, ela questionou, palavra por palavra, com dor no peito:
— No início, vocês me usaram como marionete para casar no lugar dela, agora querem que Afonso se case com minha irmã. O que sou para vocês? Eu não aceito!
O pai ignorou suas acusações e a proibiu de sair, dizendo que só a libertaria quando ela concordasse.
No terceiro dia, ela ouviu dizer que Afonso quebrou uma xícara de chá na frente do pai, furioso.
No décimo terceiro dia, apareceu uma notícia no celular em que Afonso declarava publicamente: [A Sra. Dias só pode ser Naiara Santos].
No vigésimo oitavo dia, Afonso rompeu todos os acordos comerciais com a família Santos, exigindo a devolução de sua esposa!
Um mês depois, finalmente destrancaram a porta do quarto.
Ao lembrar de tudo o que Afonso fizera por ela, os olhos de Naiara se encheram de lágrimas. Ela, sem se preocupar em calçar os sapatos, correu tropeçando para os braços dele.
Mas, no instante seguinte, ouviu a voz rouca de Afonso:
— Naiara, me desculpe.
— Seus pais foram irredutíveis, até se ajoelharam para mim. Por causa dos laços antigos entre as famílias, preciso ajudar sua irmã a encenar esse casamento.
— Mas fique tranquila, será só um casamento de fachada. Minha esposa sempre será apenas você.
Naquele momento, o coração de Naiara afundou, e até respirar doeu.
Após alguns segundos em choque, ela acariciou carinhosamente o rosto magro de Afonso, engolindo as lágrimas:
— Você já fez o melhor que podia.
Depois, ela viu Afonso colocar o anel de diamantes em Catarina diante de todos, dando-lhe um casamento grandioso.
Depois, ele continuou tratando-a com carinho.
Mas passou a passar cada vez mais tempo com Catarina, de visitas ocasionais a noites seguidas fora de casa.
Quando Naiara reclamou, ele explicou pacientemente:
— Não a amo, só quero acompanhá-la até o fim como amigo.
Naiara acreditou em Afonso.
Nunca imaginou que a verdade a golpearia como um tapa no rosto.
......
Quando o táxi parou em frente ao Grupo Dias, Naiara já havia se recomposto.
Ela segurava com força a certidão de casamento falsa.
Ao chegar ao último andar, deu de cara com a secretária de Afonso.
A secretária demonstrou certo constrangimento ao vê-la.
— Sra. Dias, o que faz aqui?
— Vim falar com Afonso.
— O Sr. Afonso está em uma reunião, não pode atender agora...
Ignorando a secretária, Naiara caminhou rapidamente até a porta do escritório.
Quando ia abrir a porta, ouviu a voz de Catarina lá dentro.
— Afonso, olhe nos meus olhos e responda. — Catarina puxava a gravata dele com a mão esquerda e pressionava o peito dele com a direita. — Aqui, você nunca me esqueceu, não é?
Afonso engoliu em seco, sentindo o toque quente dos dedos de Catarina, mas respondeu friamente:
— Você está se iludindo.
— Me iludindo? — Catarina riu suavemente. — Você não se casou de fachada com Naiara esperando meu retorno? Agora que voltei, você logo registrou o casamento comigo. E tudo o que escreveu no seu diário? Você disse que aceitou o casamento de Naiara só para me obrigar a voltar... hum!
Catarina foi interrompida quando Afonso segurou bruscamente sua nuca.
Todas as palavras não ditas foram sufocadas em um beijo quase selvagem.
Com o olhar ardente, Afonso disse, cada palavra arrastada entre os dentes:
— Sim, nunca te esqueci. Então, Catarina, como pretende pagar o que me deve?
Do lado de fora da porta, Naiara sentiu-se mergulhada em água gelada, anestesiada ao ponto da inconsciência.
Lembrou-se de Afonso, dias antes, apertando-a nos braços, beijando seus cabelos e dizendo:
— Naiara, sua irmã faz parte do passado. Agora, só você merece meu amor verdadeiro.
Quanta ironia.
O tal amor verdadeiro não passava de uma mentira conveniente.
O casamento deles sempre fora uma farsa.
Naiara fechou os olhos lentamente, lutando para não chorar.
Se essa era a escolha de Afonso, ela o deixaria ir, para que pudesse ficar com a verdadeira mulher que amava.