Capítulo 3
Naiara mantinha a cabeça baixa, sem sequer levantar as pálpebras.

— Catarina não vai vir morar aqui? Estou só arrumando minhas coisas, para não correr o risco de deixá-la chateada.

Afonso segurou o pulso dela e, aproveitando a inércia, puxou-a para junto de si.

— Você ainda está brava comigo?

— Não.

— Naiara, você realmente não sabe mentir.

Afonso segurou o queixo dela e o ergueu, forçando-a a encará-lo.

— Já disse várias vezes, estou apenas ajudando ela a encenar. Se realmente quisesse me casar com ela, teria trazido Catarina de volta há quatro anos.

Naiara olhou nos olhos dele e, de repente, sorriu.

— Afonso. — Sua voz era leve, mas cada palavra soou clara. — Quem você realmente quer se casar, só você, no fundo, sabe.

Antes que terminasse a frase, o toque do celular soou repentinamente, abafando a voz dela.

Afonso olhou para a tela, atendeu rapidamente.

Após poucas palavras, deixou apenas uma frase "Tenho um assunto da empresa" e saiu apressado.

Vendo as costas dele se afastando, Naiara de repente sentiu que revelar tudo ou não, já não fazia diferença.

Afinal, certos sentimentos são como doces vencidos.

Por fora, parecem perfeitos, mas por dentro já se deterioraram faz tempo.

Mesmo que forçasse a engolir, só sentiria amargor na boca.

Pouco depois da saída de Afonso, Naiara recebeu uma mensagem de Catarina pelo WhatsApp.

Na foto, Afonso estava de joelhos, as mãos bem delineadas segurando o tornozelo de Catarina, concentrado em amarrar-lhe as fitinhas do Bonfim.

Naiara, de repente, se lembrou de quando arrastou Afonso para passear com ela na Festa Junina.

Ela ficou um tempão escolhendo fitinhas do Bonfim numa barraquinha, e ao se virar viu Afonso a três passos de distância, impaciente, olhando o relógio: — Você acredita mesmo nessas superstições?

Enquanto pensava nisso, chegou outra mensagem de Catarina.

[Eu só comentei que estava me sentindo mal, Afonso foi direto à igreja buscar as fitinhas do Bonfim mais poderosas para me dar.]

[Ele já fez isso por você?]

[Naiara, acorde, Afonso nunca te amou.]

Naiara apertou o celular com força, a luz fria da tela refletiu em seu rosto, congelando até o último traço de calor em seu olhar.

Sim.

Afonso nunca a amou.

E de agora em diante, ela também não esperaria mais por esse amor.

......

Nos dois dias seguintes, Afonso não voltou para casa.

Só no terceiro dia Naiara o viu, na cerimônia de despedida de Catarina.

Ele vestia um terno preto, impecavelmente ajustado, empurrando uma cadeira de rodas entre as pessoas.

Catarina estava sentada na cadeira, uma manta sobre as pernas, parecendo uma flor frágil.

Ela apenas ergueu um pouco o rosto, e Afonso imediatamente se inclinou, perguntando se ela sentia algum desconforto.

O canto da boca de Naiara se curvou num sorriso sarcástico.

Ele dizia que só estava encenando com Catarina.

Mas o olhar dele, claramente, era tão apaixonado quanto quatro anos atrás.

Logo, a cerimônia de despedida começou oficialmente.

O pai anunciou a condição de Catarina para todos, os olhos marejados de lágrimas: — Minha filha é, ao mesmo tempo, infeliz e sortuda. Apesar da vida breve, ela tem uma família que a ama e um companheiro que nunca a abandonou...

O telão se acendeu, exibindo fotos de Catarina desde a infância.

Com um ano, cercada pelos pais ao escolher objetos tradicionais.

Aos dez, o pai lhe ensinando piano, de mãos dadas.

Aos dezoito, a família inteira abraçada na formatura.

Em cada cena, Naiara parecia uma figura de fundo, silenciosa, testemunhando uma felicidade que nunca lhe pertenceu.

De repente, as pessoas ao lado de Catarina nas fotos passaram a ser Afonso.

Ele lhe dava flores quando ela ganhava prêmios.

Posava como modelo enquanto ela pintava.

Na cerimônia de casamento, abraçava-a com ternura...

Do uniforme escolar ao terno elegante, o tempo passou, mas a paixão no olhar dele permaneceu a mesma.

Enquanto todos se emocionavam, de repente as fotos sumiram da tela, substituídas por letras vermelhas, sangrentas, sobre um fundo preto!

[Catarina, vadia tem que ir para o inferno!]

[Você roubou meu marido, igual à sua mãe, duas ladras de homem!]

[Eu te amaldiçoo para nunca ter paz, nem viva, nem morta!]

O ar ficou suspenso por alguns segundos.

Em seguida, um burburinho tomou conta do salão!
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App