༺ Tamara Silva ༻
Acordo com a luz atravessando cortinas luxuosas, e o cheiro suave de perfume masculino espalhado pelo ar cria uma sensação estranha no meu peito enquanto observo o teto desconhecido sobre minha cabeça.
Levanto-me devagar, sentindo o tecido macio envolvendo meu corpo nu, e o choque atravessa meus pensamentos quando percebo que estou só com um lençol delicado escondendo minha pele exposta.
Um frio percorre minha espinha quando ouço o chuveiro funcionando do outro lado da suíte, indicando a presença misteriosa de alguém ali dentro, que passou a noite comigo.
Levo a mão à boca numa tentativa desesperada de conter o pânico crescendo, pensando se realmente me entrego pela primeira vez sem recordar do momento mais aguardado da minha vida.
Sempre guardei esse momento para ter com Pedro, acreditando em promessas vazias que cultivei de maneira doentia durante anos, até a vida resolver mostrar que destino aprecia ironias cruéis durante madrugadas intensas.
Fecho os olhos para tentar organizar as memórias confusas, e os flashes surgem em sequência bagunçada: balcão iluminado, troca de drinks, toque inesperado, beijo arrebatador, calor subindo rápido demais.
O vapor começa a escapar pela porta entreaberta do box, e meu coração dispara quando vejo a silhueta masculina surgindo diante da névoa quente que envolve o banheiro inteiro.
A porta abre completamente, revelando Malik com toalha baixa na cintura, pele bronzeada, músculos definidos, tatuagens subindo pelo abdômen até o peito largo, visão capaz de desmontar minha razão.
O sorriso surge fácil no rosto dele, como se estivéssemos juntos há tempos, e a voz firme preenche o quarto.
— Bom dia. Como se sente? Não fui intenso demais com você, certo?
Limpo a garganta para tentar recuperar alguma compostura, embora o cenário diante dos meus olhos cause um colapso silencioso dentro da minha mente.
— Acho que estou bem, um pouco dolorida, porém firme.
Malik se aproxima com naturalidade desconcertante, deita ao meu lado e encosta os lábios na minha bochecha, provocando um arrepio imediato que percorre a extensão inteira do meu corpo.
— Desculpe se não me controlei. A empolgação dominou os dois. Foi um fogo inexplicável, Tamara.
Meu rosto aquece enquanto memórias fragmentadas surgem sem ordem: mãos firmes, boca quente, toque explorando minha cintura, respiração acelerada, cama macia, seu corpo contra meu corpo, tudo acompanhado de minha total entrega.
Preciso fugir daquele torpor antes que meu rosto incendeie de vez, então abro um sorriso forçado.
— Preciso usar seu banheiro!
Coloco o pé no chão e a visão súbita da mancha vermelha no lençol me paralisa, deixando minha respiração presa, enquanto faço uma tentativa inútil de encobrir o que se revela tão exposto.
Malik vê antes de qualquer movimento meu, e os olhos dele se ampliam com indignação e espanto.
— Merda, Tamara! Você era virgem? Eu não percebi. Deve ter doído. Desculpa!
Minha pele arde de vergonha, meu estômago se contrai, meus dedos tremem, porém forço calma para manter dignidade.
— Não se preocupe. A bebida ajudou. Nem senti muito. Que vergonha.
Ele se ergue, caminha lentamente até mim e segura meu rosto entre as mãos grandes, acariciando com delicadeza inesperada para alguém tão imponente.
— Prometo suavidade na próxima vez. Tudo que jamais quero é machucar você ou deixá-la desconfortável!
Meu cérebro trava completamente. Próxima vez? O desejo dele continua por mim? E por que demonstra tamanha segurança enquanto fala comigo com tanta firmeza?
Malik aproxima o rosto do meu e beija meus lábios com leveza envolvente, depois encosta a testa na minha.
— Quero assumir responsabilidade, cuidar de você e…
Interrompo antes que complete a frase, tomada por medo de que ele fale por impulso, movido pelo peso da situação.
— Não faça isso por obrigação. Sou adulta. Esperei por alguém que nunca me valorizou, contudo não desejo amarrar você devido ao que aconteceu entre nós.
Ele segura minha face outra vez com carinho, demonstrando convicção no olhar que me observa sem desviar.
— Seu raciocínio está equivocado. Não sou ele. Quero você para mim faz tempo. Fico satisfeito que tenha acontecido comigo.
A confusão toma conta dos meus sentidos enquanto tento encaixar aquela revelação inesperada em alguma lembrança.
— Faz tempo? Como me conhece?
O sorriso dele surge carregado de mistério, como se guardasse um segredo valioso dentro da memória.
— Explico no momento oportuno. Vá tomar seu banho. Vou pedir nosso café.
Entrei no banheiro ainda atordoada, encostando a porta com cuidado, tentando impedir que minhas mãos tremam enquanto observo meu reflexo no espelho iluminado.
A água quente cai sobre minha pele e a sensação dispara memórias da noite, trazendo o toque de Malik com força suficiente para me fazer fechar os olhos e prender a respiração.
Sinto o corpo responder ao simples pensamento dele, e isso cria um medo incômodo dentro do meu peito, pois nunca reajo assim diante de ninguém antes dessa madrugada imprevisível.
Fecho a torneira, enrolo uma toalha no corpo e retorno ao quarto, onde encontro a mesa posta com frutas, pães e café fumegante, evidenciando cuidado inesperado.
Malik observa minha aproximação com atenção firme, como se estudasse meus gestos e as reações que tento esconder atrás de minha pose serena.
— Sente aqui. Quero sua companhia no café da manhã.
Sento-me com hesitação, porém aceito o prato que ele empurra suavemente na minha direção, sentindo o clima se tornar ainda mais denso entre nós dois.
Sinto que esse homem representa perigo para meu coração, porque demonstra determinação, força, desejo e uma serenidade assustadora, características impossíveis de ignorar depois de uma noite marcante.
Pego a xícara, inspirando o aroma forte, tentando desviar o olhar dele, embora perceba a forma como observa cada detalhe do meu rosto.
— Se continuar me olhando desse jeito, me deixará desconcertada.
A risada baixa dele ecoa com naturalidade.
— Difícil não olhar. A cena de você cruzando a porta enrolada na toalha não sai da minha mente.
Desvio o olhar para disfarçar, engolindo seco enquanto a lembrança da mancha vermelha retorna com força, deixando meu rosto quente novamente.
— Realmente não imagino como reagir direito a você.
Malik inclina o corpo para perto, apoiando o cotovelo na mesa.
— Não pense demais. Apenas aceite. Quero dar continuidade no que começamos.
Sinto a respiração travar pela intensidade na expressão dele, um desejo firme que me atinge como um choque profundo, tirando qualquer possibilidade de argumento.
— Você fala como se tivéssemos alguma história anterior — comento num sussurro.
Ele sorri de lado.
— Temos, Tamara. Você só não recorda ainda. Porque sempre se ficou na pessoa errada…
Meu coração falha um compasso enquanto observo esse homem enigmático diante de mim, segurando segredos, intenções e uma lembrança que ele insiste em guardar até o momento apropriado.
O destino parece se divertir comigo, porque nada no universo explicaria como desperto na cama de um homem assim, depois da primeira noite da minha vida sem me focar em Pedro, sem entender ligação alguma.
E, mesmo assim, sinto que algo grande se aproxima, que poderá virar minha existência de cabeça para baixo de forma definitiva.
Malik se inclina, segura meu queixo e deposita um beijo lento, profundo, carregado de promessa inquietante.
— Confie em mim. Nossa história está só no início. Dessa vez não deixarei ninguém se meter entre nós.
Meu corpo reage antes da minha mente, e percebo que mergulho num abismo perigoso chamado Malik Stavani, onde desejo, mistério e inevitabilidade se encontram no mesmo ponto.
E, enquanto observo esse homem, percebo que nada será simples a partir deste amanhecer inesperado.