2-BOM MOÇO

ABNER MIGUEL

Olhando as ondas, lembrei dela, Dalila.

Os seus olhos castanhos, doces e tristes, uma tristeza misteriosa, de quem esconde a dor.

Lembro o seu primeiro dia no serviço, derrubou uma xícara de café, quando fui até ela, se encolheu, e começou a chorar e pedir que não a batesse.

Aquilo, fez o meu lado protetor, se acender, talvez extinto de quem quer ser o protetor.

Como alguém poderia bater, numa mulher como ela, linda, uma morena de ditar o fôlego, dava para perceber, mesmo usando roupas, simples e largas.

Ela apareceu, com alguns hematomas, queria levá-la a polícia, mas ela recusou-se.

Disse que o trabalho, era o seu refugiu, por isso não ligava em fazer horas extras.

Fui-me a apegar a essa mulher, ela foi seduzido-me, sem eu perceber, deixei levar-me por um toque delicado, de quem sorria para tudo que eu fazia, ela era boa nisso.

Isso de mulher frágil, em perigo, liga o lado primitivo do homem, que quer proteger, quer que ela o veja como herói.

Sempre nas segundas-feiras, ela chegava ferida, pressionei, ela contou uma história triste.

A mãe, estava numa cadeira de roda, depois de um acidente, na casa, onde ninguém estava, mas que ela sempre desconfiava ser o padrasto.

Padrasto esse, que batia nela, sempre que bebia, o que acontecia nos fins de semana.

Ela não saia da casa, para não deixar a mãe, com ele, eu entendi o lado dela.

Proteger os meus pais, era tudo o que eu queria nessa vida.

Comecei a chamar ela para trabalhar nos fins de semana, assim teria mais dinheiro com as horas extras, e ficaria mais tempo longe do padrasto.

Acabamos a ficar cada dia mais próximos, ao meu lado ela sorria mais.

Numa viagem de negócios, que ficaria o fim de semana todo, ela foi de companhia.

Na última noite no hotel, chamei ela para ir até o bar, relaxar um pouco.

Nunca bebo muito, sem controlar, mas naquela noite algo aconteceu, só não sei o que, pois não lembro de nada.

Acordei no outro dia, na cama, nu, com Dalila, também nua, ela dormia nos meus braços, quando vi a mancha de sangue no lençol, pedi que ao menos tivesse sido delicado com a moça.

Quando ela acordou, entrou em desespero, disse que também havia bebido de mais, mas que sabia o que fazia, e que fez por já me amava.

Aquilo mexeu comigo, ela se entregou a mim, pois nutria uma paixão.

Na nossa volta, assumi o nosso namoro.

Mas, a situação virou um caos.

Os meus pais no momento em que souberam do meu namoro com Dalila, ameaçaram tirarem-me do testamento.

A minha mãe que sempre foi muito amorosa, se apresentou como muito preconceituosa, ao menos era o que imaginei.

Mamãe, humilhou Dalila, fez insinuações, mas eu sabia o que havia acontecido, fui irresponsável, iria manter a minha palavra.

Fui a levar o namoro, por um mês.

Então numa segunda-feira Dalila não chegou no trabalho, liguei, ela estava no hospital.

Quando cheguei, encontrei ela toda a roxa, a médica informou que ela havia tido um aborto, por conta da violência que aconteceu.

Aquilo abriu o meu chão, como assim, eu ia ser pai.

Consolei ela como pude, também estava arrasado.

Ela apenas pedia por sua mãe.

Mandei um funcionário ir até a casa dela, o que encontrou deixou o rapaz assustado.

A minha namorada, havia sido espancada pelo padrasto que descobriu a gravidez, momentos antes dela sair para o trabalho, ela conseguiu fugir com a ajuda de um vizinho, que a levou ao hospital.

A mãe dela ficou sozinha, com o homem, que bateu na senhora presa numa cadeira de roda.

Dei todo apoio para as duas, a mãe dela, estava com algum tipo de demência, foi o que ela falou.

Ela falou que juntava dinheiro para colocar a mãe numa casa de repouso, não pensei duas vezes, paguei todo o tratamento.

E levei Dalila para ir morar comigo.

Já morava sozinho desde os meus dezoito anos, morava num apartamento, num bom bairro.

Pedi que ficasse em casa, para se recuperar, pois estava muito machucada.

O tal padrasto, ninguém sabia para onde foi parar.

Na noite, em que ela foi para o meu apartamento, passamos na casa dela, para descobrir que o padrasto havia colocado fogo nas coisas dela.

Dalila estava perdida, apenas chorava, falava do nosso filho.

Comprei algumas coisas para ela, mas no outro dia, dei um cartão, onde iria depositar uma mesada para ela.

Os meus pais souberam que levei ela para minha casa, e foram até a empresa, por sorte, a conversa foi na minha sala, sem ninguém por perto.

— Você colocou aquela cobr@ interesseira dentro da sua casa. — Mamãe cruel nas palavras.

— Olha filho, se ela é boa de cama, compra um apartamento pequeno e a coloque lá, mas sem compromisso, essa mulher vai destruir-lhe.

— Essa mulher, passou por um i****, tentando defender o vosso neto, ela foi espancada pelo padrasto, e perdeu o meu filho. Por favor, respeitem o meu luto.

Eu chorava, perto de Dalila, eu fui forte, não queria que ela ficasse pior, mas ali, escutando eles ofenderem ela, que acabou de ter uma perda, não aguentei, comecei a chorar, sentei na minha cadeira, acabado, o meu filho, não ia conhecer.

Senti as mãos da minha mãe, na minha cabeça, ela beijou ali.

— Não sabíamos dessa parte, o que deixa tudo mais evidente. Ela quer realmente te prender, apenas você que não vê isso. Pode ter certeza, ela quer apenas o seu dinheiro.

— Sou tão insignificante assim, ao ponto de uma mulher não querer nada comigo, que não seja o dinheiro da nossa família?

— Você ainda irá encontrar uma mulher maravilhosa, que vai ser uma parceira, que vai olhar para você, além do sobrenome da nossa família. Uma mulher que vai amar-te verdadeiramente. Mas, essa mulher não é Dalila filho, acredite na minha intuição de mãe.

— Filho, vamos fazer uma aposta. Case com essa mulher, com separação total de bens, você consegue dar uma vida confortável para uma mulher, sendo CEO da empresa, não precisa da nossa herança. Então, casados, depois de cinco anos, devolveremos metade da sua herança, a outra metade dar-lhe-emos, a reconhecendo como filha, publicamente.

Não consegui acreditar nas palavras deles. Era apenas no dinheiro que pensavam, uma mulher acabava de perder um filho, e era com o dinheiro que eles pensavam.

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